Três

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[...]

O quarto de Erik é repleto de fotos de jogadores, troféus e todo tipo de coisa relacionada ao futebol. Armin mal sabe o que é a maioria daquelas coisas, ele só sabe que Erik é tão obcecado por futebol quanto ele é pelo oceano.

Ele está segurando duas canecas cheias de chocolate quente, parado na porta enquanto Erik, desajeitadamente, posiciona uma mesa redonda em frente à comprida e larga janela de vidro, que proporciona uma visão ampla da piscina e da quadra de tênis no quintal.

Por que ricos sempre têm uma quadra de tênis nunca usada, Armin não faz a mínima ideia.

O garoto se senta, e Armin faz o mesmo. Eles começam por linguística, e Erik está transcrevendo um pequeno texto quando Armin decide que o silêncio está indo longe demais.

E ele não pode deixar de notar o quão forte Erik pressiona o lápis no papel.

Armin abre a boca algumas vezes, buscando algum assunto em comum para iniciar uma conversa.

— Então, Erik... — ele inicia, recebendo um murmúrio em resposta — ...são só você e o seu pai aqui...?

Ele automaticamente se arrepende de ter perguntado.

Por Deus, ele merece total isolamento da sociedade.

O garoto para de escrever e olha para ele.

— É, a minha mãe foi embora. — Erik responde, girando o lápis nos dedos.

A expressão do garoto continua a mesma: um olho apertado como se o ambiente estivesse muito claro, sobrancelhas franzidas e boca levemente curvada para baixo.

Armin definitivamente merece ser isolado da sociedade.

— Oh, eu... — ele gagueja — ...eu sinto muito.

A expressão de Erik suaviza e ele dá de ombros.

— Eu era criança, não tive tempo de gostar dela. — o garoto diz de forma simples, coçando o nariz com o punho antes de voltar a escrever.

Armin sussurra um "ah..." em concordância, sentindo-se a pior pessoa do mundo.

Ele segura sua caneca com ambas as mãos e a leva à boca, dando um pequeno gole e desviando o olhar.

Um silêncio nada agradável se faz presente novamente, e Armin está batendo o calcanhar freneticamente no ar quando a voz de Erik o chama a atenção.

— E você? — o garoto pergunta, dando um gole barulhento em seu chocolate quente — Com quem você mora?

Armin pisca algumas vezes e corrige a postura.

— Ah, eu...moro sozinho. — ele diz, ainda sentindo culpa — Quer dizer...eu tenho uma gata. — ele sorri minimamente, brincando com os próprios dedos sobre a madeira clara da mesa.

Ele novamente se arrepende de falar.

Para onde foi o seu dom de conversar com crianças?

— Ah, sabe, eu queria ter um cachorro. — Erik lamenta, coçando a nuca — mas meu pai não quer comprar um Dobermann pra mim.

Armin pisca algumas vezes. Ele consegue entender o motivo.

— E você... — Armin gesticula timidamente — ...gosta da...escola?

Erik faz uma careta.

— Eu gosto de jogar futebol. — ele dá de ombros — As pessoas são idiotas, e os professores também.

Hey, should this happen? | 𝐄𝐑𝐄𝐌𝐈𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora