i'm not afraid, because i just felt.

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Roier respirou uma, duas, três vezes. Ele era uma pessoa paciente, ele jura, mas haviam certas coisas, ou certas pessoas, que desafiavam sua capacidade.

— O que você está fazendo aqui? — ele perguntou sem precedentes, cruzando os braços sob o peito.

Cellbit sorriu, inclinando a cabeça de forma divertida para Roier.

Estavam na varanda do apartamento de Roier. O mexicano estava inclinado contra a grade, observando as luzes e carros da cidade logo abaixo. Ultimamente tudo estava sendo tão estressante, principalmente na casa de seus pais, então eram raros momentos como aquele; onde ele só ficava em silêncio observando tudo e em paz.

Paz é essa que não durou muito pouco, visto que de repente, Cellbit apareceu empoleirado na mesma grade onde Roier estava apoiado.

— Você pode tentar não me esfaquear dessa vez, Guapito? — Cellbit pediu, sua voz estava desprovida de malícia. Na verdade, sua voz soava cansada.

Roier arqueou a sobrancelha. Cellbit não parecia querer entrar no meio da brincadeira de gato e rato em que os dois estavam presos há tanto tempo, o que era muito estranho.

— Tente não tirar a minha paciência, e veremos. — tentou soar sério, mas aquilo era obviamente um blefe. Não tinha qualquer vontade de lutar com Cellbit, e sentia que estava assim fazia um tempo.

Virou a cabeça para Cellbit, que em momento algum desviou seu olhar do céu. Abaixo de seus olhos era possível observar olheiras que denunciavam sua falta de sono e cansaço, o que preocupou Roier, por mais que ele quisesse negar.

— Como é a sua relação com seus pais? — o brasileiro de repente cortou o silêncio que penetrava no ambiente.

— O que é isso do nada? — perguntou, confuso.

— Eu perdi meus pais quando ainda era uma criança. — respirou fundo, sua voz claramente hesitante. Roier queria ir até ele e segurar sua mão para que ele sentisse conforto de alguma forma. — Cinco anos, eu tinha. Mal me lembro de seus rostos. Às vezes, em alguns dias, sinto falta deles. Pesadelos vêm e eu não consigo dormir direito, e acabo ficando assim. Sentado, apenas observando as estrelas.

Roier arregalou os olhos, piscando sem parar. Não esperava uma revelação tão profunda vindo do vampiro, sequer sabia muito sobre ele. No entanto, não queria que Cellbit se sentisse desconfortável em sua presença, então resolveu falar um pouco também.

— Meus pais são horríveis. — se aproximou um pouco mais de Cellbit, ficando ao seu lado. — A gravidez da minha mãe não foi planejada, então foi um choque para todos quando Rosa Deu Luque, uma das maiores caçadoras de vampiros do país, ficou grávida e incapacitada. Desde criança minha mãe me culpa por sua fama ter caído e ela ter ficado fora de ação por tanto tempo, por mais que eu não tenha pedido para nascer de qualquer forma. — riu, totalmente sem emoção ou humor.

Cellbit então finalmente desviou seu olhar do céu, olhando para Roier em silêncio, como se o incentivasse a continuar. De alguma forma, Roier se sentia confortável o suficiente para falar sobre aquilo com o vampiro.

— Nunca recebi qualquer amor familiar, sempre fui cuidado por babás minha vida inteira. Eu cresci escutando que vampiros são monstros horríveis, e sempre acreditei.

O brasileiro inclinou a cabeça para o lado, confusão estampada em sua face.

— Não acredita mais?

Roier sorriu fraco.

— Não sei se eu realmente acreditava nisso, ou se só repetia para mim mesmo que meus pais me amariam caso eu acabasse com todos os vampiros que entrassem em nosso caminho.

peek a boo! • guapoduoOnde histórias criam vida. Descubra agora