Lucilfer (Chrollo)

Capítulo 4

O olhar em seu rosto permaneceu estoico depois da minha pergunta acusatória. Tornou-se uma reação instintiva para mim assumir que todos ao meu redor tinham as piores intenções e, até agora, nunca me provou estar errado. Por que Chrollo deveria ser diferente, mesmo que ele tenha salvado minha vida?

"Você está ciente do meu problema", ele disse, virando a cabeça na direção da água.

"E você precisa de um Exorcista." Minha declaração não era uma pergunta - é claro, eu sabia que isso era o que ele precisava, mas até onde ele iria para me fazer a vontade dele? "E se eu recusar?"

Mais uma vez, nada mudou em sua expressão. Seus ombros se levantaram enquanto ele respirava profundamente, seus olhos se fechando. Um rascunho soprou pela pequena entrada, enrolando seu cabelo e levantando arrepios visíveis em seu peito e braços nus. Minha cabeça caiu e eu olhei atentamente para o forro de pele de seu casaco pesado, ignorando o rubor que ameaçava me trair.

"Suponho que não haveria nada que eu pudesse fazer." Ele deu de ombros. Chrollo me olhou de lado, suas esferas cinza-ambar encapuzadas e confiantes. "Mas você não vai."

Eu pisquei e franzi meus lábios, sentindo minhas sobrancelhas descerem em conflito.

"Como você saberia disso?"

Uma risada ofegante escapou de seus lábios, seu peito tremendo com a força.

"Por causa da minha fortuna", disse ele de fato, virando seu corpo para me encarar completamente. Eu mantive meus olhos treinados no rosto dele. "'Talvez para o leste, alguém possa ser rastreado.' Estou assumindo que 'um' estava se referindo a você, a menos que você saiba da existência de outro Exorcista."

Lentamente, balancei a cabeça, levantando um longo suspiro. Ele estava certo, é claro.

"Acho que meio que te devo. Você salvou minha vida", eu apontei, as pontas dos meus ouvidos queimando.

Chrollo sorriu calorosamente, seus olhos abertos e honestos nunca deixando os meus.

"Se você quiser olhar para isso dessa maneira, você pode, mas eu prefiro que você não aborde isso como uma obrigação moral", ele insistiu suavemente. "Vamos começar com uma ficha limpa. Tenho certeza de que há algo em que eu poderia ajudá-la, se você optar por me ajudar."

Tudo sobre seu comportamento era aberto e confiável. A guarda esfarrapada que eu tinha há apenas alguns momentos parecia se dissipar sob o olhar dele, e eu me vi querendo ajudar esse homem. Eu não tinha ideia de quem ele era, mas se ele pudesse me ajudar de alguma forma a fugir com sucesso dos senhores escravos e começar minha própria vida em York Shin, eu estaria disposta a fazer qualquer coisa por ele. Eu ficaria em dívida com ele. Seria o mínimo que eu poderia fazer para exorcizar qualquer poder negro que estivesse cercando seu coração.

Percebi que estava mordendo meu lábio com bastante força, e provei uma pequena quantidade de sangue na minha língua. Eu me afastei dele novamente e trouxe meus joelhos para o peito mais apertado, atirando meus punhos.

"De quem você está fugindo, (S/n)?"

A pergunta dele me pegou desprevenida mais uma vez, e eu senti como se meu peito tivesse sacudido em ultrapassagem. Foi falado tão silenciosamente que quase não conseguia ter certeza de que era para eu ouvir, ou se ele estava simplesmente se perguntando sobre isso para si mesmo. Eu engoli secamente, sentindo meus olhos estudarem os intrincados pontos de design em seu casaco sem ver. De quem eu estava fugindo? Do que eu estava fugindo? A resposta curta foi que eu estava fugindo daqueles que abusaram de mim, daqueles que roubaram minha vida de mim, daqueles que me bateram e me torturaram e me forçaram a fazer coisas indescritíveis. A resposta longa foi muito mais complicada do que isso.