Lucilfer (Chrollo)

Capítulo 6

Tons laranja salpicados piscavam atrás das pálpebras dos meus olhos fechados ocasionalmente enquanto eu descansava no banco do passageiro do elegante carro preto de Chrollo. A escuridão do lado de fora foi obscurecida pelas poucas luzes da cidade espalhadas aqui e ali. Estávamos nos arredores da cidade, pegando uma saída para uma grande rodovia com a qual eu não estava familiarizado. Então, novamente, eu não estava familiarizada com nada na cidade quando estávamos passando por ela.

Eu não tinha percebido que precisaríamos passar por toda a York shin para chegar onde Chrollo estava me levando, mas agora já era meia-noite e ainda tínhamos mais uma hora antes de chegarmos. Eu estava totalmente exausta, fisicamente incapaz de manter meus olhos abertos, mas minha mente se sentia muito acordada para desligar o tempo suficiente para que eu pudesse dormir. Nossa caminhada até aquele penhasco não era exatamente difícil por si só, e eu tinha sido forçado a passar períodos muito mais longos sem comida antes, mas a combinação disso e a quantidade de tempo que levava para caminhar daqueles cânions até uma estação de ônibus exigia resistência que eu nem sabia que possuía.

Chegamos à estação de ônibus por volta das três da tarde, e foi cerca de uma hora de espera até o próximo ônibus para York shin. Enquanto isso, Chrollo me comprou roupas novas e um par de sapatos em uma loja de presentes, além de um pouco de comida. Eu me senti mal, mas Chrollo me garantiu que o dinheiro nunca foi um problema para ele e que, se eu precisasse de alguma coisa, eu deveria sempre perguntar a ele. Claro, eu não discuti com ele; fiquei muito grata.

Eu joguei fora minhas roupas e sapatos velhos em uma grande lixeira do lado de fora da estação depois de me trocar pela roupa de viagem casual que ele comprou. Eles estavam sujos e desgastados, de qualquer maneira.

A viagem de ônibus tinha sido longa e desconfortável. Eu decidi que não gostava nada de assentos de ônibus depois disso. Era por volta das seis da noite quando finalmente chegamos a uma estação na cidade, e mesmo que parecesse que a jornada estava finalmente chegando ao fim, tudo ainda demorou uma eternidade. Suponho que eu não tinha percebido ou mesmo conhecido ou esperado o quão embalado tudo estaria. Chrollo mencionou algo sobre os horários noturnos serem uma "hora de pico" porque todos estavam chegando em casa do trabalho.

Uma coisa que eu tinha tomado nota foi o quão fora do lugar Chrollo parecia entre as pessoas comuns de York shin. Claro, sempre havia aqueles que marcavam sua individualidade com a maneira como se vestiam. Eu tendia a gostar mais desses tipos de pessoas, de qualquer forma—sua energia parecia muito mais genuína. Chrollo, no entanto, se destacou ainda mais do que eles. Ele abotoou sua jaqueta longa de volta na estação de ônibus para que seu abdômen nu não ficasse exposto, e mesmo antes de chegarmos à primeira estação de ônibus, ele tirou uma espécie de faixa de tecido do bolso e a enrolou em volta da testa para esconder sua tatuagem. Depois de tudo isso, no entanto, ele ainda parecia estranho ao lado de todos os cidadãos monótonos de York shin, quase como se alguém o tivesse arrancado de outro período de tempo e o tivesse colocado no presente. Eu não conseguia decidir se esse período de tempo teria sido passado ou futuro.

Ele pediu algo chamado táxi para nós. Precisávamos passar por grandes partes da cidade até alguns setores abandonados de estradas secundárias para o carro de Chrollo. A motorista, Cadence, foi legal o suficiente com ele, já que ele era o único que fazia toda a conversa e o pagamento, mas eu podia dizer que ela estava um pouco afastada - ou essa intriga aos olhos dela? - pela aparência dele. Pode ter ajudado que eu estivesse com ele, e que ele me vestisse tão regularmente, mas eu não podia dizer com certeza. Cadence mal me reconheceu; ela estava muito ocupada batendo os cílios no Chrollo.

Isso me surpreendeu, a sensação estranha que cresceu no meu peito quando ela perguntou a ele se queria se sentar na frente com ela. Foi um sentimento indignação, uma reação emocional irritante que me fez sentir como se estivesse sendo injustiçada por algum motivo. Eu queria que ele se sentasse ao meu lado. Talvez tenha sido apenas por causa de como me senti seguro ao lado de Chrollo em uma cidade tão estrangeira, mas de qualquer forma, eu não gostei da sensação de ciúmes.