Capítulo 4 - Théo

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Bato levemente à porta do quarto da minha mãe e espero por uma resposta.

-Pode entrar! - escuto sua voz fraca como um sussurro.

A imagem que eu vejo me deixa um pouco triste, minha mãe, sempre tão alegre e ativa, está deitada na cama e, ao seu lado, a bandeja com o café da manhã encontra-se intocada.

- Filho, que bom te ver! - ela abre um sorriso pequeno, porém sincero.

A doença de meu pai abalou bastante dona Charllote Leveaux, os dois sempre foram muito unidos, realmente compartilhavam uma vida juntos. Enquanto meu pai se encontrava acamado, minha mãe alimentava a esperança de que ele iria melhorar, mas, quando ele partiu, uma parte dela partiu junto. Desde então sua saúde esteve frágil, os médicos ainda não conseguiram encontrar nada que pudesse ajudá-la.

- Vim ver como a senhora está, mãe. Me preocupa que não tenha conseguido se alimentar.

- Só acordei um pouco indisposta, não se preocupe. Me diga, como foi a reunião com o Conselho?

- Eles apenas perguntaram novamente sobre a data da coroação, amanhã eu darei uma resposta a eles. - resolvo não dar mais detalhes, para não deixá-la preocupada.

- Entendo, pode marcar a data sem medo. Eu prometo lhe acompanhar nesse momento, filho.

Um pouco da angústia que eu estava sentindo se diluiu ao ouvir essas palavras. Ter sua companhia em um dia tão importante é tranquilizante, mas perceber, através da verdade em sua fala, que ela está se esforçando para melhorar é um grande alívio.

- Acho bom dona Charllote, a senhora é a convidada de honra.



Sentado na sala de estar, percebo que as horas avançam e nada de Antoine chegar, me pergunto se aconteceu algo pela estrada, ele não costuma se atrasar.

Conheci Antoine em uma visita a Cannes, alguns anos atrás. Estava passeando pela cidade, admirando a beleza do lugar, quando esbarrei com ele por acidente. Em meio ao pedido de desculpas, revelei que vinha de Bourdeaux e ele logo se interessou, me convidou para almoçarmos juntos e conversamos bastante. Ele acabou me revelando que gostaria de fazer negócios com Bourdeaux, mas que achava o mercado difícil, eram muitos impostos, talvez nem rendesse lucro. Por esse motivo, quando pensei em alguém para investir em nossa jovem província, lembrei de Antoine. Como um bom visionário, acredito que vai conseguir enxergar a prosperidade latente em nosso reino.

Perto das quatro da tarde, Marie vem ao meu encontro.

- Sr. Leveaux, o Sr. Berny acaba de chegar.

- Obrigada por avisar, Marie. Por favor, pode avisar à minha mãe também? E, se possível, traga algum lanche para nós, acredito que nosso convidado deva estar com fome, a viagem é longa.

Cumprimento Berny assim que ele adentra o recinto, ansioso com a nossa conversa.

- Obrigado por ter vindo, Antoine! Marie já está trazendo petiscos para nós.

- Agradeço, Théo, mas eu já tive a oportunidade de experimentar a culinária local. Devo dizer que aqui vocês sabem como preparar uma boa refeição.

- Este é um lugar muito especial, Antoine, você irá perceber. Vamos nos sentar, temos muito o que conversar.

Depois de beliscarmos alguns canapés, decido que está na hora apresentar a ele os interesses do reino.

- Veja, Antoine, vou ser direto, te chamei aqui pois tenho conhecimento das suas intenções em expandir os negócios. Visto que estamos buscando investidores para nossa província, pensei que poderíamos nos aliar.

- Entendo, imaginei mesmo que esse seria o motivo do nosso encontro, por isso, meu caro, tomei a liberdade de me adiantar. - diz ele com um sorriso no rosto - Cheguei a sua província ontem, pois queria conhecer um pouco melhor o local e eu gostei do que vi, ainda tem algumas questões que precisam ser resolvidas, mas no geral é um cenário favorável aos negócios.

As palavras dele me trouxeram grande alívio, mas, pela sua expressão, consigo perceber que há algo a mais nas entrelinhas.

- Mas... - espero pela sua resposta.

- Mas tem coisas que não dá para ignorarmos, Théo, o mais urgente é que precisa ser marcada a data da coroação, o povo precisa de alguma estabilidade, me admira que ainda permaneçam ao seu lado. Digo isso como amigo, eu sei que você quer o bem da população.

- Eu já imaginava que essa seria uma preocupação, já estou tomando providências a respeito dessa situação. Na verdade essa nossa conversa tem grande peso sobre a data da coroação.

- Como assim? - perguntou Antoine um pouco confuso.

- Minha situação não é muito favorável, não tenho irmãos, esposa ou filhos ao meu lado, que tipo de estabilidade minha coroação poderia oferecer? Anunciá-la pode acalmar a população ou causar revolta naqueles que não confiam em mim como governante. No entanto, anunciá-la junto à notícia de que teremos um novo investidor em nossa província poderá garantir algum apoio daqueles que duvidam da minha capacidade.

A expressão de surpresa no rosto de Antoine logo dá lugar a um sorriso.

- Ora, vejo que tem tudo sob controle, está se saindo um excelente governante. Pois bem, pode marcar a data da coroação e avisar a todos que eu pretendo investir em sua província.

Me sinto muito aliviado. Sua resposta positiva era tudo que eu precisava ouvir. Minha preocupação fica de lado e abro um grande sorriso.

- Fico feliz em ouvir isso - respondo.

- Em minhas andanças, tive a oportunidade de ver como seu povo é comprometido. Então comecei a pensar em uma nova estratégia, talvez eu pudesse investir nos empreendimento já existentes no Reino. Isso resolveria meu problema com a distância, já que eu moro em Cannes, e geraria emprego, o que favoreceria Leveaux. O que o senhor acha?

A proposta de Antoine me pegou de surpresa, parece um bom negócio, porém inusitado.

- Parece interessante, mas bastante distinto dos seus negócios, estou correto? O senhor acha que dará certo?

- Estou confiante que sim, meu caro Théo, é diferente de tudo que vemos por aí, mas não vejo porque não tentar. Afinal, investir é sempre um risco. - me responde com segurança - Vamos fazer assim, amanhã pela manhã saímos para dar uma volta e eu lhe falo um pouco mais sobre os meus planos para Leveaux. Quem sabe você não encontra uma noiva pelo caminho?

- Isso resolveria todos os meus problemas. - dou um leve sorriso em confirmação à sua prosta.

Fico um pouco ansioso para contar as novidades ao Conselho amanhã. Não vejo a hora de ver a reação dos conselheiros. Acredito que nossa caminhada será promissora, talvez seja uma oportunidade de me aproximar um pouco do povo antes do pronunciamento oficial.

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