Vidro Quebrado Como Um Coração Partido

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                                                CAPÍTULO 1

SAM CHECAVA mais uma vez, entre as outras quinhentas, a foto que ela guardava de Rain, agora presa num amuleto com um vidro rachado. O colar, que antes fora da própria mulher já morta, teve o vidro quebrado como consequência do impacto de uma explosão próxima, na primeira missão que Samantha teve de executar após a partida de sua noiva. Aquele vidro se quebrou assim como a sua alma no maldito dia. Por mais que todos os seus amigos estivessem na equipe, a garota ainda se sentia mais sozinha do que nunca.

Samantha se sentiu na obrigação de sair do transe que aquelas memórias ainda frescas haviam a- colocado em, após escutar a sirene da sede do grupo e observar o começo da agitação no ambiente e de seus colegas diante da missão que iria começar. Ela pôs o frágil objeto que suas mãos antes seguravam ao redor de seu pescoço, respirando fundo e se sentindo protegida pela figura dentro do amuleto.

Aquele seria um trabalho de dias, talvez meses. Ninguém sabia ao certo quanto tempo iria levar, mas era óbvio que não seria nada rápido, por mais que precisassem que fossem. Eles haviam sido designados para colocar a Umbrella queimando ao chão, uma corporação genocida que não deveria retornar, mas sua chefe, Alice Abernathy, pensou o contrário.

Sam se levantou bruscamente, causando um estrondo entre o piso de madeira que rangia e o banco no qual ela se sentava. Reforçou o rabo de cavalo, que já era mantido em seu cabelo cor de abóbora por dias. Também sacou um pequeno espelho de bolso, sujo por estilhaços e coberto de poeira, verificando sua aparência cansada. Ela notou o aumento das olheiras arroxeadas debaixo de seus olhos, mas já era bom ela não possuir mais o inchaço que tomava conta de suas bochechas nos últimos dias que ela passou completamente chorando, enquanto pensava em tudo que havia acontecido e que ainda estava acontecendo.

Samantha se dirigiu ao resto do grupo, tentando ser o mais profissional possível, mesmo considerando a exaustão da menina que não tinha um sono de qualidade à dias. Tinha sorte de que os seus amigos sempre facilitavam a situação, e naquele momento, a figura de Claire Redfield surgiu em sua frente, enquanto naquele momento se juntava à fila que o grupo organizara.

- Oi, agente. - Claire se virou, sorrindo para Sam. - Como você está hoje? - Acariciou o cabelo da menina.

- Um pouco melhor. - Sam respondeu, em um suspiro, retribuindo o sorriso.

Claire sorriu de forma empática e abraçou sua amiga, sabendo que parte da resposta recebida não era totalmente verdadeira.

A agente Redfield foi a primeira a presenciar o corpo sem vida de Rain no chão após a explosão. Ela teve de contar à Samantha o que tinha visto. Claire não podia negar a culpa que sentia por aquilo, afinal, as três sempre foram muito amigas.

As duas mulheres se separaram quando Claire desfez o abraço, e a mesma aproveitou para fazer um último carinho no ombro de Sam, depois se afastando.

Sam não pôde evitar sentir algo esquisito. Era como se depois de todo o conforto que Claire havia lhe proporcionado em poucos segundos, todas as lágrimas do mundo de repente quiseram descer e escorrer pelos olhos de Samantha. Uma angústia invadia o seu peito de forma que ela não podia explicar ou entender. A menina se recompôs, e finalmente conseguiu seguir com o grupo.

(....)

Conforme Sam andava por quilômetros em direção ao campo minado que era a sede da Umbrella diante da guerra pós-apocalíptica que começava e persistia, ela olhava ao redor e pensava nos momentos positivos que toda aquela equipe de rebeldes já havia passado.

Às vezes era possível esquecer do fogo, das armas e das mortes. Era bom só sentar em grupo e rir um pouco, lembrando das memórias felizes.

Diretamente, as lembranças voltaram. Aquelas que tinham o costume de incomodar Sam, mas dessa vez, ela sorriu em frente aos pensamentos. Sam se lembrou de como Rain estava ansiosa para que todo esse caos acabasse logo e elas duas pudessem se casar. Lembrou-se de como ela sonhava em ir para a Coréia do Sul na tão esperada lua de mel que as-aguardava. Também recordou de como os olhos de Rain brilhavam depois de um beijo, e de como ela sempre via o lado bom das coisas. 

Quando tudo parecia perdido, Rain era quem a todos animava.

Samantha se desfez do sorriso quando percebeu que se aproximara cada vez mais do abandonado prédio que tinha o objetivo de alcançar, a enorme instalação que caía aos pedaços e que possuía uma enorme bandeira com a logo de um guarda chuva no topo, mostrando que aquele lugar era território da maior corporação do mundo, por anos.

Sam e o resto grupo correram para dentro da sede, visando não fazer nenhum tipo de barulho, evitando fazer qualquer coisa que provocasse barulho e que pudesse entregar a presença dos inimigos ali.

As armas nas mãos de todos não se abaixavam, mas Sam já começava a abaixar a guarda ao notar que tudo estava silencioso demais, silencioso demais para ser verdade.

Samantha não havia sido a única a perceber a falta de recursos de segurança no local, ninguém esperava tanta tranquilidade ao redor de si mesmos. Sendo assim, a equipe decidiu se separar a fins de conseguir atacar o lugar da forma mais estratégica possível.

Sam e Claire se dirigiram em uma escadaria acima, enquanto exploravam e faziam o reconhecimento.

As duas andavam em passos extremamente lentos e se comunicavam perante sussurros.

A partir dos próximos cinco segundos, tudo que Sam viu era um enorme apagão diante de seus olhos. 

O barulho e a confusão que ela tanto ansiava por se apresentaram quando ela menos esperara.

Sam caiu e desmontou no chão após sentir uma figura por trás dela que pressionava um dispositivo de choque nos dois lados da cabeça da garota.

Não era possível distinguir o que ou quem havia lhe derrubado.

Em um fração de tempo, Samantha não sentia mais o seu corpo, e lutava para ficar com os olhos abertos e entender o que estava acontecendo.

Com esforço, ela conseguiu ver sua amiga, Claire, ao seu lado e na mesma situação que a sua, em agonia pela dor que as ondas de eletricidade haviam lhe causado.

A voz de uma mulher chamou a atenção de Samantha, ao ver que à sua frente, estava uma loira que usava um longo vestido vermelho e um par de botas. Com a visão embaçada, Samantha notou o olhar da moça sobre as duas agentes caídas no chão, e assim que seus olhares se encontraram, a misteriosa pessoa correu para outro lugar, abandonando o campo de vista da jovem.

Samantha tentou pensar sobre o que tinha visto, mas a dor em sua cabeça não permitia que ela usasse nem uma porcentagem de sua inteligência. Tudo piorou quando dois soldados se aproximaram, e bateram nas cabeças de Claire e Samantha com barras de aço, antes mesmo que elas pensassem na alternativa de fugir.





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