01.

246 38 44
                                    

(10 MESES DEPOIS)








Apesar dos sons estrondosos que a tempestade que dá início para o longo outono trás para as escuras favelas de Spinner's End, fazendo meu corpo enrijecer bruscamente em antecipação o relâmpago que cruzara o céu opaco em uma fúria inevitável que explode ao som de um trovão ensurdecedor, a qual é muito mais perto da casa Snape do que deveria ser possível para o rigor de segurança, não é o meu medo consistente pelos desastres que isso pode gerar na casa mais afastada das favelas e próximo da floresta aberta, com uma atração absoluta para raios, que desperta minha consciência da sua bolha. Pelo contrário, nenhum medo me me aperta ao peito e se contorce contra meu estômago, causando aquela velha sensação de pânico desesperador e doentio.

Na verdade, o que me desperta é o baixo cantarolar masculino em um timbre rouco, palavras gentis e frágeis numa língua estrangeira, mas doce, junto com uma carícia terna e fria como a morte, porém aconchegante, como o toque das belas plumas de Kaltain, em meu cabelo e rosto, puxando a minha consciência para funcionamento, contudo, entorpecido com a dor surda formigando contra os meus ossos numa ação pulsante quase superficial, sem dor, embora as lembranças disso estejam bem ali, batendo fortemente contra a parte de trás da minha cabeça. O que é um péssimo sinal se posso deduzir isso através da mortalha entorpecente e aconchegante da qual Codrus me envolve como se fosse um lençol quentinho, onde alfinetes contínuos e incômodos se empurram contra o meu rosto, costelas, quadris e tornozelo, me fazendo choramingar baixinho e então estender a mão e agarrar a algum tecido macio com o punho frouxo, me aninhando um pouco mais perto e quase desejando ser capaz de esfregar o rosto ali. Mas não faço, pois ainda consigo me lembrar da dor.

Havia dor...

"Porra!"

Tanta dor...

"... Merda!"

E meu pai...

"... Inútil!"

Tobias.

Ele estava com raiva novamente, tão enfurecido, mas não consigo me lembrar ao porquê... Foi por minha culpa ?

"Por que você não pode fazer nada direito, sua aberração ?!"

Sim, isso provavelmente está correto, é minha culpa por ser a uma aberração inútil que nunca deveria ter nascido e arruinado tudo, ou pelo menos é isso que Tobias costuma dizer para mim sempre que consegue. E mesmo quando não faz, ainda existe um peso opressor sobre o seu olhar de ódio e desgosto, qual sempre me faz querer fugir e se encolher antes mesmo da demonstração disso se voltar contra mim num ciclo de humilhação verbal e de um ou dois socos antes que vire sua irá em outra direção. Quase como se não valesse seu tempo para uma surra verdadeira, mas sei que isso é mais uma ação de Kaltain, o Corvo de Codrus, qual me mantém seguro e protegido sempre que está por perto, onde assim me mantém o mais longe possível do desprezo descarado de Tobias, que se firma contra as minhas costelas proeminentes e óbvia falta de alimentação e uma higiene básica.

"Você e sua mãe destruíram a minha vida por causa de toda essa porra anormal!"

E então ali no meio disso havia a minha mãe... Eileen Snape, que outrora foi uma nascida Prince, qual já não posso dizer que seu tratamento consegue ser assim tão diferente do próprio Tobias, pois embora não houvesse algo realmente ameaçador sobre ela para implicar diretamente a tais coisas como socos, humilhação ou xingamentos, ainda haviam a todos seus insultos disfarçados e seus empurrões para me tirar do caminho. As quedas frequentes, meus joelhos machucados, ou o tornozelo levemente torcido por um descuido ou desatenção que ela jura inocência, mas tudo que consigo ver é a sua preocupação obviamente falsa terminando tão abruptamente quanto começava, deixando pontos arroxeados por esbarrões nos poucos móveis da casa ou nas paredes, uma e outra vez.

O PRÍNCIPE CORVO - SEVERUS SNAPEOnde histórias criam vida. Descubra agora