Na desolação dos desejos não realizados, os sonhos transformam-se em um labirinto de desespero. Onde os passos são afogados na desilusão e o coração é consumido pelo vazio e a falta de propósito.
11 de novembro de 1572 - Cidade de Ardum-Nerus, província de Ardvalea.
O sol surgia no horizonte, trazendo consigo a aurora. Sua luz, fria e avermelhada, típica das manhãs pré-invernais, lançava um pouco de conforto sobre as almas dos habitantes da cidade. Alguns mal conseguiam dormir, assombrados pelo terror noturno. Às margens da cidade, onde as frágeis casas feitas de madeira erguiam-se além das muralhas, já se percebia alguma movimentação. Os moradores preparavam-se para enfrentar mais um dia árduo de trabalho.
A maioria ocupava-se nas plantações de Ardum-Nerus, enquanto outros dedicavam-se à produção da valiosa Seda-de-Ardum. Havia ainda aqueles que exerciam tarefas ainda mais exaustivas. Um cheiro de fumaça espalhava-se no ar, vindo das fogueiras acesas na noite anterior. Essas chamas serviam não apenas para afastar animais indesejados, mas também para amenizar a sensação do terror noturno que intensificava-se com a escuridão total.
Os cascos dos cavalos ecoavam nos cascalhos de granito e pedreira que cobriam a estrada principal exterior da cidade, causando um leve incômodo aos ouvidos dos dois patrulheiros que retornavam ao interior dela após uma noite de trabalho nos arredores. Vestiam a farda militar de patrulha: uma túnica marrom escuro com uma malha de cota costurada em seu interior; ombreiras, botas que estendiam-se até a base dos joelhos, e manoplas grandes que protegem as mãos e antebraços, feitos de um metal leve.
— Mais um dia completo... menos um dia para sair desse trabalho — disse Eilan.
— É verdade... — respondeu Artturo com certa distância.
— Tá pensando em quê, hein? — Quis saber Eilan. — Não me diga que tá pensando na Ivy.
— Não... não é isso. Eu só estou cansado — falou Artturo sem ânimo.
Eilan observou seu amigo, percebendo o cansaço estampado em seu rosto. Ser um policial de patrulha era uma tarefa exaustiva que exigia coragem. Muitos temiam a noite, e os boatos que circulavam a tornavam ainda mais aterrorizante. O simples ato de expor-se à escuridão e ignorar o terror noturno era digno de admiração. Alguns homens trabalhavam à noite para provar seu valor aos futuros sogros, mas aqueles que patrulhavam além das muralhas, enfrentando o perigo de ataques vindos de arbustos sombrios ou becos escuros, eram os verdadeiros corajosos, ou talvez pessoas que já estavam mortas por dentro.
Na escuridão, contavam apenas com a luz da lua, quando presente, e suas lanternas a óleo de alcance limitado. Os dois amigos aproximaram-se do imponente portão principal, uma estrutura maciça de madeira reforçada com trincas metálicas. Acima dele, no muro, estava o brasão da cidade: uma árvore majestosa, profundamente enraizada na terra, simbolizando a resistência e prosperidade das terras e da cidade de Ardum-Nerus.
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Arcano's - Paz Armada
FantasyO ano de 1572 traz consigo um presságio sinistro, que romperá a "aterrorizante paz" que paira sobre o povo da cidade de Ardum-Nerus. Os habitantes dela estavam acostumados com os conflitos contra os necromantes, os maiores dos adversários dos adepto...