× 01 × Win

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" Se um homem não descobriu nada pelo qual morreria, não está pronto para viver." Martin Luther King


"Chupón" El gudi


"Eu estou bem, amiga. Você não tem com o que se preocupar, eu cresci desse lado da cidade, esqueceu?" Tento acalmar minha melhor amiga e ex colega de quarto.

Anna suspira pesadamente na ligação, eu posso imaginar nitidamente seus olhos verdes preocupados.

A cadela é burguesia pura. Nascida do lado norte, uma "gringa branquela", consigo ouvir a voz de Abuelita falando "lagartixa branca."

" Eu te conheço, Win. Moramos por dois anos debaixo do mesmo teto. Você quer que eu vá ficar com você, até você se acostumar a morar aí novamente?"

" Tá tudo bem, eu já disse! Eu passei apenas alguns anos fora, não é possível que tenha mudado muitas coisas, sou uma menina grande e sei me cuidar..."

" Mas você vai me ligar se tiver qualquer problema! Eu falo sério Win, sabe que mato e morro por você..."

" Eu sei, amiga, de verdade! Mas eu preciso fazer isso sozinha. Eu tenho que me acostumar a não tê-lo mais." As palavras rolam pela minha boca com dificuldade.

Dói aceitar a verdade, mas é exatamente isso o que devo fazer. Preciso me acostumar a viver sozinha a partir de agora. Começando por ficar sozinha nessa casa sem a presença de papai.

Ainda dói pensar que ele se foi, não há mais lágrimas para chorar, parece que já chorei todas em uma única semana.

" Você não precisa ficar sozinha, basta uma mensagem e eu estarei aí..."

" Você no lado sul?" dou ênfase no "você" pois Anna é totalmente uma North Side, ela não sobreviveria nas ruas latinas nem por dois segundos.

" Você não coloca fé em mim, mas é sério, ok? Eu poderia muito bem me engraçar com um latino gostoso e tatuado, é impossível não pensar nisso."

" Sim, seu padrasto ia amar ver você com um chicano, com certeza" não escondo o sorriso em minha voz.

A mãe de Anna é uma socialite que casou com um político renomado, a garota não sabe o que é viver sem a aprovação dos pais e sua família egocêntrica.

" Faria bem para sua imagem altruísta, certo? Eu, a filha querida, fazendo caridade com os moradores do lado sul..."

" Ok, vai se foder sua cadela maldita. Eu não sou seu maldito caso de caridade" A gargalhada de Anna faz meu coração apertar, por alguns segundos desejo poder voltar a nosso pequeno apartamento no centro da cidade " Eu preciso organizar algumas coisas, amiga. Nos vemos amanhã?"

" Sim, você não vai se livrar tão fácil de mim!"

" Eu te amo, cadela!" dizemos ao mesmo tempo e sorrimos.

Basta desligar a ligação e olhar em volta das caixas de papelão da minha mudança, para decidir que não vou conseguir terminar tudo hoje. Eu preciso dormir cedo, pois tenho aula logo no primeiro horário da manhã. Tive que mudar de Campus, pois não conseguiria arcar com as despesas do anterior.

Suspiro cansada ao me atirar em cima do sofá no meio da sala. É uma casa pequena, com uma cozinha prática e simples, sala com TV e corredor para os dois quartos. Não tínhamos luxo algum, e nem buscávamos isso.

Papai trabalhou sua vida inteira para nos sustentar, e nunca me deixou faltar nada. Ele foi um bom homem...

Empurro os pensamentos melancólicos para longe e decido preparar um banho para tirar o suor do meu corpo.

LO$ SANTO$Onde histórias criam vida. Descubra agora