Seokjin ajudou Jimin no possível para se livrar dos corpos e voltou para a casa pequena na grande fazenda que não tinha plantações. Era estranho como uma fazenda como aquela não tinha ao menos um trigo plantado. Ele deixou o ômega ferido na cama do quarto principal que parecia velha e pediu para que Jimin fosse até a vila principal para comprar remédios, principalmente os para os olhos.— Por que se importa tanto com esse ômega? — foi o que Jimin perguntou após voltar com uma bolsa cheia do que Seokjin solicitou. — Digo, ele é apenas mais um de tantos espalhados por ai.
Seokjin molhou o pano na água limpa e apertou o mesmo, passando em sequência nas manchas de sangue que se espalhavam pelo corpo do ômega.
— Ele precisa de ajuda. — respondeu seco, tomando cuidado ao passar o pano pela pele machucada e limpa-lo na água, repetindo o processo.
— O senhor matou dois soldados a queima roupa! Tudo bem, eles estavam desrespeitando o senhor e cometendo crimes, mas nunca o vi assim, capitão! — Jimin tentava entender enquanto andava de um lado para o outro no quarto, o beta estava mais perdido que cego em tiroteio. Aproveitou para ir até a janela e ver a posição do sol. — E nós precisamos voltar para a capital antes que fique tarde e precisemos pagar uma pousada!
— Você pode ir, eu vou ficar. — novamente respondeu em tom seco, mal prestando atenção no que o beta falava. Seokjin finalmente chegou no pescoço do ômega, lugar que estava mais manchado por conta da boca que há pouco estava escorrendo sangue.
— O quê?! — quase gritou. — Você não pode ficar aqui! O que eu irei dizer para o rei Min? "Oh, majestade, o capitão Kim decidiu ficar em Chongju para cuidar de um ômega aleatório que a gente esbarrou no meio do caminho"
— Mais respeito, Park.
— Desculpe. — mudou completamente o tom. Ele voltou a olhar para a janela e estalou a língua. — Ainda tem quatro horas de sol até chegarmos em Pyongyang.
— Apenas diga a verdade. — o Kim chegou mais perto do rosto ferido, mas parou o pano alguns centímetros de tocar a bochecha suja. — O rei irá entender.
[...]
Mais tarde naquele dia, já de madrugada, o jovem ômega ferido acordou sentindo todo o seu corpo queimar como o fogo do inferno e doer como se estivesse sendo esmagado por pedras. Ele lembrava vagamente do que acontecera; pensou ter sido um sonho, mas seu corpo e falta de visão em um dos olhos denunciava o contrário.
Percebendo que estava limpo e com seus cortes com ataduras em volta, saiu do quarto mancando e se apoiando nas paredes, levando um susto ao chegar na pequena cozinha com o mesmo alfa que matara os outros mais cedo presente ali.
— Vejo que acordou. — Seokjin tentava se mostrar amigável. O ômega apenas caminhou com dificuldade até a mesa que ficava perto. — Aqui. Beba um pouco, vai te fazer bem. — colocou o pequeno copo de barro com um líquido transparente dentro em cima da mesa de madeira.
O ômega olhou para o copo e depois para Seokjin que acabara de sentar na cadeira em frente a mesa. Ele não sabia se deveria beber aquele líquido, poderia estar envenenado, mas seu corpo inteiro estava dolorido e seu olho esquerdo cego pelo oclusor que foi posto enquanto estava dormindo — nem sabia se estava cego mesmo ou se era apenas o tratamento —, se aquele alfa quisesse mata-lo ou se aproveitar dele, teria feito isso antes.
De forma contida, se aproximou do móvel e sentou na cadeira livre que tinha o copo de barro logo a frente. Pegou o objeto com as duas mãos, aproximou do rosto e cheirou, sentindo cheiro de nada, não sabia se era seu olfato danificado pelas agressões ou se somente não tinha cheiro. Molhou os lábios e pôde sentir um gosto amargo que o fez seu rosto enrugar em uma careta.
— Desculpe, o gosto não é o dos melhores. — Seokjin teve que conter a risada perante a careta do ômega.
O ômega virou o copo em seguida, se fosse para ter aquele gosto ruim na boca, que fosse de uma vez.
— Uau, você é bem corajoso, senhor Não te interessa. — Seokjin levantou da cadeira e pegou o copo de barro, prestes a levar para a cozinha.
— Jungkook. — disse em um sussurro, ainda processando aquele sabor ruim que se espalhava pela boca.
— Como? — aquilo pegou o alfa de surpresa
— Jeon Jungkook. — repetiu um pouco mais alto. — Esse é meu nome.
— Oh, és um Jeon. — estava surpreso. — Pensava que esse clã não existisse mais.
— Não existe. — Jungkook tinha a cabeça baixa, ele brincava com os dedos que tinha algumas ataduras. — Eu sou o único que restou...
Seokjin não sabia como reagir a tal informação. Olhar para aquele garoto ali, ferido e tão jovem com traumas tão persistentes era devastador, e saber que sua raça — os lobos dos olhos vermelhos — foram os causadores de tamanha dor deixava-o sem muitas opções.
Talvez isso explicasse a falta de um alfa de olhos vermelhos na pequena casa de campo, Jungkook poderia ser um rebelde que se recusou a ter um daqueles que destruira sua família; ele poderia ter matado o alfa designado ou apenas se mantido escondido do governo por todo esse tempo.
Após devolver o copo para a cozinha depois de limpa-lo, Seokjin voltou para a mesa e Jungkook se mantinha estático olhando para as próprias mãos, perdido em seu próprio pensamento e com um olhar triste. Apenas um olho seu estava visível, mas bastava um para transmitir toda sua dor.
— Por que não foi embora junto do seu capanga? — Jungkook perguntou sem fazer contato visual.
Seokjin estranhou a forma como Jungkook dissera a palavra, quase não entendendo por completo.
— E deixa-lo nesse estado? Você nitidamente precisa de cuidados.
— Eu sei me virar. — levantou o olhar e finalmente eles fizeram um contato visual parcial. — Não preciso de um Sanguinário como você dentro da minha casa.
Sanguinário era a forma que lobos dos olhos verdes chamavam pejorativamente aqueles de olhos vermelhos. Um termo extremamente ofensivo.
— Há quanto tempo está sem comida? — ignorou a ofensa, Seokjin tentava ser paciente ao entender que aquele ômega era cheio se traumas. Jungkook desviou o olhar, como se a simples menção da escassez em sua casa fosse uma ferida aberta, então o alfa continuou: — Seus armários de comida estão cheios de teias de aranha, as panelas de sal quase não existen e o Kimchium* está vazio. Para quem mora em uma fazenda, o senhor está bem pobre.
— Se está tentando me intimidar, saiba que já passei por coisas muito piores. — Jungkook respondeu com uma calma fria, desviando o olhar novamente para suas mãos. — Não preciso da sua caridade.
Seokjin suspirou, era difícil lidar com aquele ômega que chamava tanto a atenção de algo no interior do alfa.
— Não é uma questão de caridade, Jungkook. É uma questão de humanidade.
— Humanidade. — Jungkook debochou, achando graça daquela palavra, o que fez Seokjin estranhar o comportamento. — Você diz isso depois de tudo que seu povo fez. — ele parou de rir. — Nunca foi sobre humanidade e sim poder, Capitão. — também debochou da patente.
Jungkook levantou da cadeira afim de sair daquele cômodo, não suportando a presença do alfa, mas caiu ao dar o primeiro passo, não conseguindo se segurar porque estava fraco demais. Seokjin foi rápido em amparar, se aproximando e tentando pegar o ômega pelos braços de forma respeitosa, mas foi recebido por um balançar agressivo que o forçou a se afastar.
— Você precisa comer, está desnutrid-
— Eu não preciso da sua ajuda! — Jungkook tentava ser forte na fala, mas seu estômago doía ao ponto que podia sentir ele se devorando. O ronco que o órgão fez foi alto o suficiente para denunciar a fome.
Seokjin iria falar, mas Jungkook saiu de perto assim que ficou de pé, voltando para o quarto que estava dormindo até há pouco. Encostou as costas na porta de madeira assim que a fechou, descendo de até o chão e apoiando a cabeça na mesma.
Mesmo que Jungkook deixara claro seu posicionamento, Seokjin ainda deixou um prato com algumas frutas e pães que ele havia feito Jimin comprar antes de partir.
Mais tarde, Seokjin não encontrou o prato na frente da porta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The Wolf In The Dawn
FanfictionEm um mundo onde lobos de olhos verdes e lobos de olhos vermelhos vivem em constante ódio, a guerra chega ao fim com a dominação dos lobos de olhos vermelhos do sul perante o norte. Kim Seokjin, capitão das forças do sul, é enviado em uma missão em...