Capítulo 2 - Acidente.

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Porque com o fogo se provam o ouro e a prata, e os eleitos no cadinho da humilhação. Crê em Deus, e ele te ajudará; espera nele, e dirigirá teus caminhos; conserva seu temor e nele permanece até a velhice.

Eclesiástico 2:5-6.

Nicolas Narrando:

O fim da temporada de futebol sempre chega com uma mistura de exaustão, nervos à flor da pele e a expectativa de um clímax épico. Os campos, que foram palco de tantas batalhas ao longo do ano, agora ressoam com um último esforço. Os jogadores, marcados pelo desgaste físico e emocional, exibem um olhar determinado, sabendo que tudo se resume a esse momento final.

Os treinos meticulosos, a preparação física e mental, tudo converge para esse instante: a grande final da Champions League. O gramado, perfeito e preparado com cuidado, espera pacientemente pelas jogadas que definirão uma temporada inteira de sacrifícios, sonhos e desafios.

Cada equipe carrega consigo a pressão acumulada de meses de competição. Os campeões em título entram em campo com a responsabilidade de defender sua coroa, enquanto os desafiantes trazem consigo a fome de conquistar a glória que ainda não possuem. Os novos talentos, que brilharam ao longo da temporada, agora enfrentam a oportunidade de se tornarem lendas ou serem esquecidos na história.

O estádio, um caldeirão de emoções, reverbera com os cantos e gritos das torcidas apaixonadas. As bandeiras tremulam ao vento, e o som dos tambores adiciona uma batida constante ao pulsar da expectativa. Os fãs, vestidos com as cores de seus times, carregam esperanças e histórias pessoais, cada um acreditando que este ano será o seu ano.

Quando o árbitro finalmente apita e a bola rola pelo campo, todos os olhos estão fixos nela. Cada passe, cada drible, cada defesa é um prelúdio do que está por vir. É o último capítulo de uma jornada épica que, durante os últimos meses, capturou corações, desafiou limites e criou lendas. E assim, com o coração na garganta e um suspiro coletivo, o fim da temporada de futebol chega, prometendo momentos de glória, lágrimas e pura alegria...

Cada minuto no campo parece eterno. Quero terminar essa temporada com chave de ouro... O jogo está tenso, a torcida vibra, e meus companheiros lutam com toda a garra. Eu sinto a adrenalina pulsando nas veias, a energia de estar fazendo o que mais amo. Mas então, em um instante fatídico, algo que eu não previ acontece.

Recebi a bola no meio-campo, driblei dois adversários e me preparei para dar aquele passe decisivo. De repente, senti um impacto devastador. Não sei se foi a força ou a velocidade do adversário, mas senti meu corpo se desestabilizar. Caí no chão e uma dor lancinante percorreu minha espinha.

O mundo ao meu redor ficou em silêncio. A dor era tão intensa que eu mal conseguia respirar, e o pânico começou a tomar conta de mim. Meus companheiros de time e o médico correram em minha direção. Podia ver a preocupação nos olhos deles, mas eu só conseguia pensar: "Será que vou conseguir me levantar?

A minha vida sempre foi cheia de altos e baixos. Desde que minha mãe morreu quando eu tinha dez anos, sempre foi difícil pra mim. Meu pai simplesmente virou uma pessoa amargurada, me afastou dele e me enviou para um colégio interno nos Estados Unidos. E depois, quando eu estava com 15 anos e achava que poderia voltar, ele simplesmente anunciou que iria se casar. Eu não voltei ao Brasil para participar da festa, não fiz questão disso, e simplesmente meu pai também não me pediu para voltar.

Com 17 anos, descobri que amava futebol, e fui fazer faculdade de educação física. Meu pai me apoiou em todos os meus estudos, mas eu tinha a impressão de que fez isso para me manter longe dele e não voltar para casa. Meu pai vinha me visitar algumas vezes no ano, porém nunca tivemos muita intimidade. Sua nova esposa me parecia mesquinha, mas nunca falei nada sobre o que achei. Aos poucos, fui me desapegando da ideia de família e me acostumei a ser sozinho. E assim fui notado por um técnico. Hoje sou Nicolas Aguiar, um dos 10 melhores jogadores do mundo. Jogo ao lado de feras do futebol.
Porém, ainda sinto um vazio dentro de mim, como se tudo o que tenho não fosse suficiente e eu estivesse destinado a me frustrar em algum ponto.

Nunca foi sóbre nós - Romance Cristão- Degustação Onde histórias criam vida. Descubra agora