Nunca foi sóbre nós - Romance Cristão- Degustação

Capítulo 3 - Se conhecendo.

Elevo os meus olhos para os montes de onde me vira o socorro? O socorro vem do senhor que fez o céus e a terra.
Salmo 121

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Julia Narrando:

A casa está uma verdadeira loucura. Desde que soubemos do acidente de Nicolas, tudo virou de cabeça para baixo. Eu não esperava que fosse tão grave. Nicolas sofreu uma fratura na coluna e perdeu os movimentos, mas a boa notícia é que, segundo o laudo, ele poderá voltar a andar com uma fisioterapia intensa. A parte difícil é que, depois disso, ele terá que usar muletas por um tempo. E por que estou com o laudo dele? Simples: Seu Antônio me pediu para cuidar do tratamento de Nicolas. Fiquei surpresa com o pedido, mas como negar? Seu Antônio sempre me ajudou. Ele quis me pagar pelo tratamento, mas eu recusei, dizendo que era minha forma de retribuir tudo que fez por mim.

Seu Antônio ficou nos Estados Unidos por algumas semanas para acompanhar Nicolas até receber alta. Não foi fácil convencê-lo a voltar para casa, já que Nicolas é muito teimoso. Mas, após tantos anos longe, Nicolas finalmente voltará. Seu Antônio mandou fazer uma rampa na entrada da casa e arrumou um dos quartos no andar de baixo, ao lado do meu. Tudo foi preparado para receber Nicolas da melhor forma possível.

Estamos todos reunidos na cozinha, ansiosos pela chegada de Nicolas. Minha mãe, que o criou, está especialmente emocionada. A única que não parece feliz é a esposa do senhor Antônio, que só sabe reclamar desde que ele viajou. Quando ouvimos a buzina do carro, meu coração dispara. Não é todos os dias que um astro como Nicolas vem morar conosco. Embora eu não seja fã, admiro-o, e é surreal saber que serei sua fisioterapeuta.

Na entrada da casa, meu pai ajuda o senhor Antônio com as malas, e vejo a silhueta de Nicolas no carro. Minhas mãos tremem de nervosismo. Quando tiram a cadeira de rodas e ele sai do carro, não consigo evitar notar o quanto ele é bonito. As fotos nas redes sociais não fazem justiça. Porém, seu olhar azul está carregado de desconforto. Ele evita o olhar de todos, claramente constrangido.

Seu Antônio começa a apresentação, e todos nós nos alinhamos para cumprimentar Nicolas. Quando minha mãe, Rosa, se aproxima dele, há uma mudança perceptível na postura de Nicolas. Ele, que estava visivelmente desconfortável, parece relaxar um pouco ao ver o rosto familiar e acolhedor da minha mãe. Eles trocam um abraço cheio de emoção, e Nicolas não consegue esconder a mistura de saudade e dor em seus olhos.

— Nick, meu menino, que saudade — diz minha mãe, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Nicolas fecha os olhos, como se estivesse tentando segurar as próprias emoções, e quando os abre, eles estão marejados. Sua voz, ao responder, é rouca e firme, com um timbre que reverbera sinceridade e tristeza.

— Senti tanta falta da senhora, tia Rosa — ele diz, e é evidente que aquelas palavras carregam todo o peso dos anos de ausência.

Minha mãe, tentando aliviar a tensão, dá um leve sorriso e o repreende carinhosamente:

— Sentiu nada, porque não veio me ver.

Ele sorri em resposta, e percebo como seu sorriso é bonito, iluminando momentaneamente a expressão cansada.

— Senti sim, eu só não pude, não... — Nicolas começa a explicar, mas minha mãe o interrompe suavemente.

— Tudo bem, querido, o que importa é que você está aqui. E, apesar do seu estado atual, você está bem — diz ela, antes de depositar um beijo carinhoso na testa dele.

Então chega a minha vez de ser apresentada. Sinto um frio na barriga e minhas pernas parecem não querer obedecer. Caminho até ele com dificuldade, nervosa e insegura.