3 - O Homem que Você Foi, O Homem que Nunca Será

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Aquela manhã começara quente. Tão quente.

Levantou-se de súbito, precisava enxugar aquele suor, porém, uma tontura lhe abateu; Estaria a tal ponto cansado que... Suspirou. Não estava cansado, nunca estava, afinal era um Saint, ninguém além de si poderia lhe permitir dizer algo assim. Acabara de acordar, oras. Gabriel soltou um suspiro leve, uniu as mãos num movimento lento, esticando os braços e sentindo os músculos relaxarem um a um e... Pronto. Já estava renovado.

Seria um novo dia. Não pensaria demais, deixaria fluir, e não beberia também, estava farto de ressacas.

Talvez seria uma boa tomar um café com os Rhett. Quem sabe passar uma tarde por lá... Soava tentador. Nunca admitiria, entretanto, a razão do desejo de fuga.

Previa que ali não teria um bom clima, assim que ouviu o primeiro bater de portas, "Não, não, eu não quero saber. Não tem nada a ver comigo". Bufou, controlando aquele desejo de intermediar, de ser o responsável de cada mínima intriga. "Nem todos os problemas precisam ser resolvidos e nem todos os problemas eu preciso resolver". Era o que cansava de dizer a si mesmo.

Deixou a água gélida do chuveiro lhe transpassar o positivismo que meditava com mais facilidade, esboçou um sorriso, estranho sorriso e enquanto sentia a leveza adentrar os poros, escorrer internamente.

Vestiu-se tão rápido quanto o de sempre, deslizou os dedos, mal alisou os cabelos, a seu estilo habitual. Gabriel sempre teve um cabelo leve a facilmente bagunçava-se, fazendo com que raramente se desse o trabalho de penteá-los. Um pendular sorriso em frente ao espelho, "devo afrouxar a gravata?", fez-se pensativo, porém decidiu por deixar assim mesmo, não estava tão apertado.

Atravessou as escadas, fingindo olhar o relógio para não erguer os olhos, um movimento inconsciente.

"Ao menos tá cedo.." Chegou ao portão, logo notando o quão estranhamente frio estava lá fora, seria o problema o seu quarto? Não entendia dessas coisas.

Não passou mais que meia-hora na casa Rhett.

Despediu-se brevemente de Bárbara, pensando que azul era mesmo sua cor, ela riu, não se esquecendo de perguntar por Kenny. E Gabriel não se recordou do que respondeu, algo sobre já ter ido pra escola. Então ela lhe contou sobre uma viagem, mas estava apressada demais com alguma coisa, deixando para explicar melhor depois. Tudo bem, tudo bem, nos vemos mais tarde. Sim, está frio aqui fora, de fato.

"Espero que a W. Esteja mais calma hoje..", era uma esperança vã. Era uma das maiores empresas do Centro.

Passou pela escadaria e esfregou os olhos sonolentos, e pra isso teve de retirar os óculos, e não gostou disso. Nunca gostava do olhar daquelas pessoas; se dividiam entre bajulação cega e irritante e irritação matutina, claro, como se ele fosse algum tipo de representação gráfica de seu pai. Entendia a raiva velada, conhecia bem a fama de Cláudio saint.

Gabriel entreva na White como se sempre estivesse se despedindo, um ritual. Nunca passava mais que trinta minutos, o suficiente para alguém comentar, caso o pai perguntasse (o que dificilmente faria, ele duvidava), "Sim, sim, eu vi seu filho por aqui hoje de manhã".

Sentava-se em uma cadeira que não lhe pertencia, num escritório estranho, cheio de papéis que não importavam, enrolava, abria seu Frankenstein ou um Hugo de bolso, suspirava, bocejava, passava as mãos dez vezes pelos cabelos em um intervalo de dois minutos. Sempre parecia tão abafado..

Então erguia o braço, o relógio marcando de quinze a dez minutos para a entrada no colégio. Era a hora do cigarro.

Atravessava entre inúmeros corredores e pés apressados, sim, sim, está um lindo dia. Sorria com o positivismo de quem não quer manter nenhum diálogo longo o suficiente para o impedir de fumar um cigarro inteiro.

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⏰ Última atualização: Oct 12 ⏰

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