Eu não estou bem

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O que há de maravilhoso nos sonhos é que eu não conseguia curar minhas feridas. Andei por aí, com os músculos das pernas doendo enquanto procurava meu marido. Eu tive que ter caminhado pela neblina por algum tempo antes de ver a figura enrolada no chão.

"Eu fiz isso. Eu a machuquei. Eu a machuquei." Ele murmurou, com o capuz ruana levantado.

Deitado no chão ao lado dele, eu o envolvi em meus braços. Ele começou a ter sonhos lúcidos, quebrando-o dos murmúrios de seu subconsciente.

"Como vai você?" Ele perguntou me olhando.

"Estou sofrendo, Bruno. Mas não fisicamente. Meu coração dói, e isso é porque você não estava aqui."

Ele pensou por um segundo e uma arepa con queso apareceu e ele me entregou. "Não sei se isso vai funcionar. Mas as coisas nos sonhos afetam você de maneira diferente. Não vai consertar seu coração, mas talvez, talvez eu possa curar você."

Dei uma mordida na arepa e me aproximei dele. Coloquei minha cabeça em seu ombro e ele se encolheu. "Você também pode curar meu coração."

"Sim. Como se isso fosse possível." Ele disse, segurando sua ruana.

"Por que você acha que não pode?"

"Porque eu fui embora e nos arruinou. Porque eu sou Bruno Madrigal, família bagunçada e péssimo marido!"

"Então faça melhor. Seja o homem que eu sei que você é."

"O que você quer dizer com 'o homem que você sabe que eu sou'?"

"Aqui, você pode colocar uma versão em branco de você mesmo na nossa frente?"

Ele assentiu e uma réplica exata de si mesmo ficou na nossa frente. Levantei-me e olhei para Bruno. “Quando eu te contar uma coisa, mude o que você acha que precisa ser mudado, ok?”

Ele assentiu, sentando-se.

"Você é gentil." Eu disse e Bruno fez a cópia de si mesmo sorrir. "Você está cuidando." Alguns ratos saíram da ruana da cópia. "Você é um escritor incrível." O diário apareceu em suas mãos. "Você é bonito." Bruno olhou entre a cópia dele e a minha e encolheu os ombros, me dando um "meh". Deixando a cópia igual.

Eu sorri para ele. "Você é um amante incrível." Ele corou e olhou para a cópia de si mesmo.

"Eu realmente não posso mostrar isso com uma cópia minha."

"Exatamente. Porque você é você, com defeitos e tudo Bruno."

"Este foi um daqueles exercícios de amor próprio, não foi?" Ele gemeu e eu sorri.

"Eu gostaria de poder mostrar como eu vejo você." Eu disse melancolicamente. "Eu vi como você me vê, e isso me ajudou a admitir que eu te amava na cara. Mas eu não tenho esse dom."

"Tente, por favor. Você já passou bastante tempo aqui nos meus sonhos, tenho certeza que poderia sonhar pelo menos uma coisinha." Ele olhou para mim e eu balancei a cabeça.

Pensei em Bruno, quando ele escrevia calmamente enquanto eu fazia bordados, seu sorriso, seus olhos brilhando de amor apaixonado. Os momentos em que sua coragem superava suas ansiedades e ele endireitava as costas e se defendia, por nós. O cheiro de fogueira e areia, junto com o conforto que isso me trouxe. Olhei e sorri suavemente. Seu cabelo macio com mechas grisalhas e a sensação de sua barba por fazer enquanto ele me beijava por toda parte.

Bruno puxou meu braço para mais perto quando uma figura saiu da névoa com a visão de Bruno sobre mim. Nós dois somos formados pelas percepções um do outro. Ao meu lado, Bruno engasgou.

Eu teria você em meus sonhos para sempre (Bruno Madrigal)Onde histórias criam vida. Descubra agora