Miguel 45

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Miguel
45

Depois dos vinte minutos que passei tentando consolar a Luna.

Finalmente consegui deixar ela tranquila e essa foi a primeira vitória.

Olhei todas as marcas que ela mesma fez no corpo e fiquei assustado com o tanto de lugar que ela conseguiu achar.

Eu nunca vi ou conheci alguém que passasse por isso, e saber que justo a Luna tem esses problemas, meu coração fica apertado.

  - Vem, vou te levar pra casa.- Ela negou rápido assim que fiz a mesma passar pro banco do passageiro.- Então a gente vai pra minha. Vou pedir a Eliza alguma roupa.

Coloquei o cinto nela e a mesma se encolheu no banco.

- A gente pode jogar essas coisas antes? Ou queimar, sei lá.- A voz dela saiu baixa e eu concordei.

O caminho foi silencioso e ela continuou chorando até a gente chegar na minha casa.

- Fica aí, vou entrar com o carro.- Peguei meu celular e abri o portão pelo aplicativo.

Assim que entrei com o carro, vi que minha moto estava no lugar e junto uma bolsa pequena com as roupas que pedi a Eliza.

Abri a porta do passageiro e soltei o cinto do seu corpo.
Ela estava tão distante que não reclamou quando a peguei no colo e fui subindo a escada.

Levei ela até meu quarto e coloquei a mesma sentada na cama.
  Tentei dar espaço pra que ela pudesse se recompor, mas a Luna segurou minha mão.

- Não quero ficar sozinha.- Beijei sua mão e sentei ao seu lado.

- Não vou te deixar sozinha. Só vou pegar as roupas que a Eliza deixou.- Avisei e ela concordou.

Não demorei muito pra descer e subir com a bolsa e quando entrei no quarto a Luna estava chorando em silêncio mais uma vez.

- Porra, Luna. Não sei o que fazer contigo desse jeito e isso me deixa agoniado.- Confessei.

Ela limpou o rosto e me olhou com os olhos inchados.
Seu rosto estava vermelho e mais uma vez as unhas estavam cravadas na parte interna da coxa.

Segurei suas mãos e entrelacei nossos dedos, pra que ela pudesse apertar as unhas em mim.

- Eu tinha que tentar mais uma vez. Jurei que não ia lá, mas hoje eu sonhei com ela no casamento do Dante e a gente parecia tão bem e super amigas.- Ela encostou a testa no meu peito e ficou olhando pro chão.

- Minha mãe me enforcou. Ela não hesitou! Jogou todos os quadros e as tintas que dei a ela no chão.
Disse que me odiava.- Ela continuou e eu senti a raiva subir.

Como é que alguém consegue odiar a Luna? É impossível. Desumano.

- Eu devo ser detestável mesmo. Deixei minha mãe presa lá dentro, eu que fiz ela me odiar.- Ouvi ela soluçar e mais uma vez meu coração ficou pequeno.

- Luna, olha pra mim.- Coloquei as mãos dela na minha cintura e segurei seu rosto.- Tu não é detestável, jamais.

Ela negou e prendeu o lábio um no outro.
Provavelmente segurando o choro.

- É totalmente o contrário. Tu é linda, uma boa amiga e uma boa irmã.
Dedicada, ótima profissional e as vezes até passa do ponto.- Ela deu um meio sorriso e pra mim foi o suficiente.

- Tua mãe fez uma escolha. E infelizmente ela escolheu não conhecer a mulher incrível que colocou no mundo, mas não é culpa tua.- Fiz a mesma ficar de pé e levei ela até o espelho mais próximo.

Ela torceu o nariz quando viu o próprio reflexo e eu acabei rindo.

- Me diz que não sou feia chorando, isso seria o fim.- Ela reclamou e eu fiz um mais ou menos.
Claro que menti, não vou entregar que acho ela bonita até chorando.- Nossa, ajuda muito minha autoestima.

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