lucy westbrooke - 1

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gatilhos: abuso emocional e físico, morte.

gatilhos: abuso emocional e físico, morte

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ALGUM TEMPO EM 16XX


Era o dia mais triste da vida dela.

    Lucy não queria refletir sobre aquilo, mas já pensara a mesma coisa mais de uma vez. Na primeira, havia um véu e tecido branco moldando sua derme enquanto um homem a esperava no altar. O pensamento não ocorrera na hora, porém. O tivera horas mais tarde, o corpo imaculado sendo marcado, apertado e usado, o fio de esperança que ela nutria sobre a mudança de uma vida soltando-se a cada segundo que se passava ao lado de quem agora devia protegê-la — e como um prenúncio do que viria, não aconteceu.

    Na segunda vez, Lucy tinha terra em seus sapatos, lágrimas nos olhos e espinhos de rosas-brancas ferindo-lhe a palma da mão. Sua filha. Sua pequena e inocente filha. Tão jovem. Tão bonita. Por que não pudera ser ela no lugar de Kiara? Por que não fora Lucy a escolhida para adoecer, enfraquecer e perder a centelha de vida que ainda brilhava em seus olhos? E agora o motivo de sua centelha se fora. A única coisa em que se agarrava havia sido arrancada de seus braços direto para a terra fria.

   O marido estava lá também. Um, dois, sete passos atrás. Haviam anos, no entanto, que Lucy desistira de buscar seu apoio.

    Sete, para ser exata.

    Seu bebê tinha sete anos.
  
     E nunca passaria disso.

     Agora, na terceira vez, Lucy não tinha terra nos pés e nem flores nas mãos. Não possuía marido e nem sua juventude. Mas havia dor. Tanta e tanta dor que paralisava seu corpo envelhecido e quebrado. Seu filho, tão jovem e alegre. Tão sorridente. Por que Deus continuava a tirar seus motivos para viver? Se havia um plano para ela, já não devia estar se concretizando? Não tinha que estar agradecendo e orando por todas as noites em que se sentia abençoada?

   Mas Lucy não orava. Nunca. Não mais. Julgava que não devia agradecer pelas coisas que conseguira sozinha. O que Ele fizera por ela, afinal? Lhe dava uma vida violenta, tirava sua casa e seus filhos e esperava que ela agradecesse?

    Não. Não iria.

    Lucy lembrava do dia em que pensara ter esperança de novo. Era para ter outros filhos, mas não se podia carregar fetos quando seu corpo era agredido dia após dia. Só havia ela na casa também. Seu marido havia ido embora haviam meses, e ao contrário do que acontecia com a maioria das mulheres, Lucy ficou feliz. Radiante. Estava livre, estava bem, estava sozinha. Poderia viver. Não se importava que a chamassem abandonada, de solitária, de divorciada. Ela estava feliz.

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