Por um segundo, ele sentiu uma onda de pânico, seu estômago embrulhado. Teria sido perseguido? Será que aquilo tinha conseguido escapar do pesadelo e...?
-"não seja idiota" disse para si mesmo.
-"você está bem crescidinho para acreditar em monstros"
E realmente estava. Tinha feito quinze anos mês passado, monstros era coisas de bebês. Monstros era coisa de quem mija na cama. Monstros eram...
-"William"
De novo. Will engoliu em seco. Estava quente e sua janela havia ficado aberta, talvez as cortinas agitadas pelo vento tenham causado o ruído...
-"William"
Tá certo, não era o vento. Era com certeza uma voz, mas não uma voz conhecida. Não era sua mãe, de jeito nenhum. Não era uma voz feminina, e ele se perguntou por um instante se o seu pai não teria vindo de surpresa, dos Estados Unidos e chegado muito tarde para telefonar e...
-"William"
Não. não era seu pai. A voz tinha uma sonoridade única, um timbre monstruoso, selvagem, indomável.
E então, escutou um forte estrondo do lado de fora, como se fosse uma coisa gigantesca estivesse caminhando, sobre a madeira.
Ele não queria ir ver o que era. Mas, ao mesmo tempo, uma parte dele queria ir ver.
Completamente acordado, afastou as cobertas, saiu da cama e foi até a janela. Na meia-luz pálida do luar, pode ver com clareza a torre da igreja no alto do morro atrás da sua casa, o morro junto aos trilhos de trem, duas linhas de aço que reluziam estatísticas na noite.
A lua iluminava o cemitério ao lado da igreja, repleto de túmulos com nomes quase apagados.
Will também conseguia ver o Teixo que ficava no centro do cemitério, uma árvore tão antiga que parecia feita das mesmas pedras da igreja. Ele só sabia disso, porque sua mãe o contou quando ainda era uma criança, dizendo que não dava para comer as frutinhas que cresciam dele, pois eram venenosas.
Ela o relembrou do nome da árvore ano após ano.
Então ele escutou seu nome outra vez.
-"William"
Como se estivesse sussurrando nos seus ouvidos.
-"o que foi? " will perguntou, com o coração na mão, impaciente para descobrir o que aconteceria.
Uma nuvem passou em frente a lua, a cobrindo toda, e uma rachada de vento desceu pelo morro e chegou até ele.
Ele escutou de novo os estrondos de madeira partida, rugindo como um ser vivo, como se o estômago do mundo estivesse rosnando por comida.
A nuvem foi embora e a lua voltou a brilhar. Iluminou o Teixo, que agora estava parado do meio do quintal de Will.
E ali estava o monstro...
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O chamado
Non-FictionA escuridão, o vento, os gritos. Os olhos estalados, a respiração entrecortada. Era o pesadelo de novo, como em quase todas as noites desde que a senhora byers adoeceu. William tinha o mesmo pesadelo