━━ 𝗂𝗆𝖺𝗀𝗂𝗇𝖾𝗌, 𝐒𝐓𝐑𝐀𝐘 𝐊𝐈𝐃𝐒

𝐅𝐄𝐋𝐈𝐗

Felix respirou fundo quando adentrou sua casa. O ar parecia tão melhor. Aquilo era seu paraíso depois de um dia de trabalho turbulento.

Meio esgotado, Felix deixou sua maleta jogada no chão da sala e se sentou no sofá, tirando seus sapatos desconfortáveis e apertados e seu terno preto (e caro mas desgastado, teria que ressaltar), se sentindo ainda mais aliviado. O dia estava quente e era obrigado a usar aquela vestimenta na empresa e isso o fazia sentir nervoso e suado.

Ajeitou seu cabelo para trás, fazendo um mini rabo de cavalo. Estava prestes a retirar o resto de sua roupa de cima quando percebeu algo incomum. A casa estava muito quieta.

Olhando para seu relógio de pulso, percebeu que sua esposa já deveria ter chegado junto com sua filhinha, que estaria na creche. Geralmente, quando chegava, percebia a bagunça por causa dos brinquedos e papéis com os lápis de colorir espalhados pelo chão da sala, juntamente com as risadas de ambas. Estava estranho.

Ainda com esse pensamento, Felix subiu para o quarto do casal em passos rápidos. Ao entrar, viu que ninguém estava ali. Foi até o quarto da sua criança e se deparou com o nada. Nenhum sinal de vida. Teria acontecido alguma coisa?

Seu coração se apertou com o pensamento.

Imediatamente, voltou a sala para pegar seu celular. Pareceu uma eternidade achar o aparelho no meio de sua maleta, principalmente com tanta coisa dentro, mas conseguiu achar. Estava prestes a discar o número quando ouviu a porta ser aberta.

Sua esposa estava cheia de sacolas ao mesmo tempo que segurava a criança em seus braços. Viu seu sorriso largo e a pequena rir alto mexendo no colar de sua mãe, parecendo bem entretida com os diamantes tão brilhantes. De fato, sua mulher estava linda.

"Por onde andaram? Estava quase te ligando." perguntou Felix, enquanto ia em direção as duas e dava um beijo em cada uma, sendo um pouco mais demorado na garotinha, que riu ainda mais. "Pensei que tinha acontecido alguma coisa."

"Você chegou faz muito tempo?"

"Pra falar a verdade eu acabei de chegar."

"Bom, poderia ter esperado só mais um pouco. Fui fazer algumas compras, você tem que ver as roupinhas que eu comprei pra ela. São a coisa mais linda. Ah, a dona da loja te mandou perguntou de você e te mandou lembranças. Sabe, eu ainda continuo achando que ela está tentando dar em cima de você. E olha que ela está beirando aos 60. Disposição ainda tem. Parece que ela tem preferência para caras mais jovens e ainda um pai de família."

Ela dizia tudo isso enquanto colocava a criança no sofá e esvaziava as sacolas. Tudo ao mesmo tempo, como um verdadeiro furacão.

"Olha, eu óbviamente não fiz nada para o jantar, a gente pode pedir alguma coisa. Ah, por falar em comida, acredita que um cliente lá do restaurante foi um pé no saco? Ele queria um bife mal passado e eu fiz, mas ele não gostou. Fiz novamente, e ele recusou. Fiz ainda mais uma vez e ele recusou e ainda teve a audácia de dizer que a dona, vulgo eu, cozinhava de uma maneira péssima e que não era do agrado dele. Eu explodi e levei um bife cru na mesa e coloquei na mesa pra ele. Nada mais justo. Poxa, eu não tenho sangue de barata. Mas o que vai acontecer? Eu mesma me demitir? Eu sou a dona e chefe do estabelecimento. Olha, eu geralmente não trato os cliente de forma rude, de verdade, mas esse pareceu testar minha paciência. Ah, aquele cara ainda teve a audácia de dizer que iria me dar uma nota negativa. Eu não vou deixar que uma pessoa daquelas estrague anos e anos de trabalho duro e..."

Felix a interrompeu selando seus lábios.

Sim, ela teve um mal dia.

Estava sendo comum tem uns dias e ela descontava sempre daquela maneira. Fazendo compras e falando até se cansar. Felix ouvia com atenção. Afinal, ela tinha motivos e vários problemas que tinha que resolver, e um ombro amigo era ótimo. Ela estava sobrecarregada.

"Sabe que eu te amo, não sabe?" perguntou ele em meio aos beijos. "E sabe que vai ficar tudo bem, não é?"

"Eu também te amo, meu anjo. E eu sei que tenho agido meio... sei lá... eu estou reclamando demais."

"Eu não me importo. Gosto de te ouvir e gosto que divida suas preocupações comigo, mesmo que eu não consiga ajudar de alguma forma. Eu só acho que está muito tensa e você precisa se acalmar."

"Eu sei, eu sei. Tem razão."

"Foi na loja da Chanel? De novo? Gosta mesmo de lá."

"Eu gosto mesmo."

"E parece que não é a única."

Felix apontou para a criança, que estava mexendo desajeitadamente em uma das sacolas e futricando o que tinha lá dentro. Ouviu sua esposa dar um suspiro, enquanto também observava.

"Ela vai ser muito cara e olha que ela tem só 2 anos. Mas, eu comprei algumas roupinhas pra ela e vou te mostrar. Antes de tudo, vou pedir uma pizza pra gente. Você quer que eu chame naquele lugar aonde o motoboy é bonitinho ou aquele que a atendente é uma gostosa?" disse ela, enquanto procurava os contatos em seu telefone.

"Primeira opção."

Concordou com a cabeça, indo até a cozinha e o deixando sozinho com sua filha. Felix não pensou duas vezes antes de puxar para seu colo e dar vários outros beijinhos, enquanto olhava as compras e brincava.

Aquela era sua família.