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Você sempre via aquele rapaz naquele mesmo ônibus.
Indo para o trabalho logo de manhã, ainda com um pouco de sono pelas noites mal dormidas e o estômago reclamando pela fome por ter saído de casa e não ter comido nada no café da manhã, conseguia vê-lo em um dos últimos acentos, enquanto ouvia algo pelos fones de ouvido.
Era um caminho considerável até o escritório, então conseguia observá-lo por um bom tempo.
Não sabia exatamente o motivo de estar tão interessada, ainda mais que havia saído de um relacionamento perturbado e não iria querer outro tão depressa. Talvez fosse seu cabelo, suas bochechas fofas, seus lábios desenhados e parecendo bem tratados, ou até mesmo suas roupas estilosas que pareciam ficar tão bem nele, os brincos que usava, a forma que ele sempre movimentava a cabeça com o ritmo da música, seus pés batendo devagar e ritmados e poderia perceber que ele cantava silenciosamente algumas vezes.
Tudo bem, estava reparando demais.
Não queria parecer estranha ou algo assim.
Quando você entrou dentro do ônibus aquela manhã, percebeu que estava um pouco mais cheio do que o habitual. Quase todos os lugares estavam ocupados e como haviam pessoas na sua frente para entrar, os lugares já haviam sido rapidamente preenchidos. Olhando brevemente para os lados, percebeu que havia um espaço disponível.
Ao lado daquele rapaz.
Você tinha uma opção que era ficar em pé durante todo o trajeto. Era um pouco demorado, mas nada que não pudesse suportar. Talvez até alguém se levantasse antes que pudesse chegar e poderia descansar seus pés. Porém, algo em sua mente estava querendo o contrário e seu corpo parecia ir de forma autômatica até aquele lugar. Sem pensar demais, se sentou.
Estava se sentindo uma idiota por suas mãos estarem suando um pouco e seu coração estar mais acelerado que o normal. Deus, era estúpida ou algo assim? Era só uma pessoa ao seu lado no ônibus. Uma pessoa que nem sequer conhecia.
Para piorar tudo, respirou fundo para se acalmar e sentiu aquele perfume entrando em suas narinas. Sério que ele tinha que ser tão cheiroso? O quê ele estava fazendo?
"Com licença."
Ao ouvir aquela voz, seu corpo pareceu congelar. Uma voz tão perto. Pra falar a verdade uma voz ao seu lado.
Você decidiu não parecer uma completa panaca. Engoliu em seco e colocou um sorriso singelo - que estava torcendo muito para dar certo - e se virou em sua direção. Tentava não se concentrar em seu rosto e o quanto parecia lindo, não poderia agir como uma panaca.
"Sim?" você falou, enquanto ainda sorria.
"É que sua bolsa caiu e acho que não percebeu."
Estranhou ao ouvir aquilo, mas logo entendeu quando olhou para baixo. Sua bolsa, que estava carregando em seu colo, estava jogada sem jeito no meio de seus pés. Os papéis que carregava estava quase saindo e seu celular e fones de ouvido estavam completamente fora, por pouco não caindo.
Meio desesperada, logo se abaixou para pegar as coisas e colocar em seu colo novamente. Por deus, tudo o que queria era não parecer uma imbecil e seus planos estavam indo por água a baixo.
"Ah, eu... eu realmente não vi."
"Tudo bem, vai demorar para descer?"
"É, ainda falta algumas paradas."
"Bom, eu só vou descer no último ponto, posso segurar as coisas pra você. Se quiser."
Tão gentil.
Droga, ele não estava te ajudando nem um pouco.
"Não, não, eu estou bem. Mas obrigada por se preocupar."
O rapaz somente deu um sorriso e voltou a colocar seus fones de ouvido e mexer em seu celular. Olhou por um pouco mais de tempo e percebeu que ele digitava algo rapidamente, quase de forma ansiosa, mas não queria ser muito enxerida. Deveria ser algo importante.
De qualquer forma, estava somente seguindo seu caminho para o trabalho e iria seguir com sua rotina normalmente.
Ainda sem muito o que fazer, fechou os olhos e se recostou no assento. Seu corpo ainda estava cansado, então fechar os olhos parecia uma boa ideia.
Algum tempo se passou quando o ônibus deu uma freada um pouco forte. Não o suficiente para colocar seu corpo para frente, mas o suficiente para abrir os olhos com o susto. Olhando para frente, notou que estava tudo bem. Ajeitou seus cabelos e deu uma observada para o lado. Para sua surpresa, o rapaz a olhava.
Meio sem jeito, ele desviou para a janela rapidamente e poderia notar que suas bochechas ficaram um pouco vermelhas e um sorrisinho pairava sobre seus lábios. O quê estava acontecendo?
Pensou por um momento se tinha algo em seu rosto. Pegou o espelho que estava na bolsa e não viu nada. Talvez sua maquiagem não estivesse te favorecendo. Por quê ele deu aquele sorriso? Algo tinha de errado? Sua inseguranças começaram a bater na porta.
"Ah, desculpe..."
Ouviu a voz dele novamente. Engoliu mais uma vez em seco e se virou para ele. Suas bochechas estavam um pouco mais vermelhas.
"Eu não queria incomodar, é que eu estava pensando se... droga, como eu pergunto isso em voz alta?" perguntou para sí mesmo, parecendo divagar por alguns instantes. "Eu estava pensando se eu poderia ter o seu número."
Tudo bem, isso havia te pegado de surpresa.
"Como?"
"É que eu sempre pego o mesmo ônibus e não pude deixar de reparar em você."
"É sério?"
"Parece surpresa."
"Bem, um pouco. Isso não é uma coisa que acontece todo dia."
"Mesmo? Pensei que fosse recorrente. Quer dizer, é só olhar para você."
Agora você quem estava sem jeito.
Ele parecia estar um pouco feliz que havia uma reação positiva. Poderia jurar que seus olhos estavam um pouco mais brilhosos.
"Meu nome é Changbin, muito prazer."
"É um prazer."
"E qual seu nome?"
Você quase o respondeu, mas uma onda de audácia se espalhou pelo seu corpo. Talvez fosse efeito do elogio repentino, mas pôde te passar um pouco de confiança. Olhou mais uma vez na bolsa - aquela altura achava que estava guardando seu mundo lá dentro - e achou uma caneta e um pedaço de papel. Escreveu seu número nele e o entregou.
"Que tal descobrir assim que me mandar mensagem?"
"Vai fazer mesmo esse mistério? Isso é maldade com meu coração."
"Eu quase tenho pena de você, mas não vou mudar de ideia. Me chame e vou responder suas perguntas."
Como se fosse uma cena perfeita, notou que seu ponto havia chegado. Rapidamente o deu um último sorriso antes de se levantar e descer.
Naquele mesmo dia, uma mensagem havia chegado.
"Então, posso fazer algumas perguntas, garota do ônibus? <3"
