Capítulo 1

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A situação não é uma das melhores.

Meu pai está desempregado, e estamos tentando nos virar com o salário de costureira da minha mãe, que não é muito, principalmente em uma casa com cinco pessoas. Achei que deveria fazer algo, como filha, é o meu dever ajudar.

A propósito, seremos apenas quatro, já que o meu irmão mais velho, Pedro, se mudará semana que vem.

...

Me aproximei do balcão, pedi o de sempre, uma xícara de café e um pão de queijo. Analisei o local a qual eu fazia minha primeira refeição todos os dias. Era um ambiente agradável, o design antigo, tipo aquelas lanchonetes dos anos 80, bem aconchegante.

Maria! Como você está? - perguntou um velho se aproximando.

Olá senhor João. Estou ótima, e o senhor? Vejo que esbanja saúde - falei na tentativa de tirar um sorriso do velho.

Que nada menina, estou cheio de trabalho. Acredita que demitiram a Luana? - O olhei desconfiada.

Ué, mas o que ela aprontou para ser demitida? - Perguntei curiosa.

O velho deu uma risada, que foi logo abafada pelas mãos, e sussurrou "Ela estava se agarrando com o filho do dono". - Arregalei os olhos. Eu conhecia a Luana apenas de vista, não era de falar muito, menina tímida, nunca imaginaria tal cena.

Mas já colocaram outra em seu lugar, vejo que não vai demorar muito para sair - Apontou para uma moça no balcão dos fundos - Aquela é a Karla.

Ah, eu posso ajudar, se o senhor quiser, é claro. Mas não sei se eu me encaixaria aqui - Sorri forçadamente, eu estava desesperada por um emprego.

É uma pena, a última vaga foi preenchida por uma moça ontem.. deixa me ver.. - Remexeu em alguns papéis embaixo do balcão - Nádia, o nome dela..

Nádia? - Perguntei

Sim, você a conhece? - Perguntou o velho.

Ah .. Não muito bem - Menti - A conheci no penúltimo ano do ensino médio, foi um ano difícil para ela, seu pai faleceu, e vamos dizer que ela não foi nada amigável depois desse ano.

Mas, não a julgo, a dor que sentiu era inimaginável. Terminei minha refeição e me dirigi para casa, que não era muito longe do local.

...

Minha mãe estava a contar moedas quando cheguei, o dinheiro estava acabando e as despesas não seriam pagas. Desespero tomou conta do meu corpo. Dei meia volta, e andei novamente em direção a cafeteria. Estava a pensar mil coisas, mais assustada que o normal, eu tinha que fazer algo.

Empurrei a porta do local com toda a minha força.

Merda! - Escuto um grunhido em seguida.

Olho para o rapaz a minha frente, que estava com sua camisa encharcada de café.

Ai meu Deus, me desculpa - Peguei guardanapos para ajudar a limpar - Eu lavo se o senhor quiser, posso deixar o meu endereço, ou melhor, eu compro uma nova para você.

Ele olhou para mim com o semblante sério e um riso tímido de canto, retirou minhas mãos de sua camisa e saiu da lanchonete sem dizer absolutamente nada.

Fui de assustada para envergonhada em questão de segundos - Respira menina, você precisa desse emprego - Sussurrei para mim mesma.

Supliquei para o senhor João, aponto de me ajoelhar, para conversar com o seu chefe e conseguir um emprego para mim, e por fim, após todas as minhas súplicas, ele disse que iria me ligar, caso conseguisse.

Para de balançar a perna - Disse meu irmão mais novo.

Gus, estou esperando uma ligação - expliquei.

Meu celular toca.

Senhor João? - Falo esperançosa.

O emprego é seu menina, se puder vir aqui hoje ainda, o Senhor Fernando quer te conhecer - Falou.

Ah, claro - Falei enquanto dava pulinhos de alegria - Estou indo agora mesmo.

O que foi? - Perguntou Gustavo, meu irmão caçula.

Eu consegui o emprego Gus - Sorri para o menino.

Pude sentir o alívio da minha mãe ao receber a notícia, as coisas iriam melhorar de agora em diante.

Então é você a tal da Maria - Diz um senhor com a aparência de ter seus 50 e poucos anos - Eu te vi nascer menina, conheço a sua família e tenho um carinho imenso por eles.

Dei um sorriso amarelo para o Senhor que eu acabara de conhecer.

Quando soube, nem pensei duas vezes! Você deve aprender o cardápio - Ele foi interrompido - Ela sabe o cardápio de trás para frente - Disse o Senhor João com um imenso sorriso no rosto - Ela vem aqui todos os dias.

Sorri para os dois, sem graça.

Pode começar amanhã - Seu celular toca.. - licença, meu filho está ligando.

Não escondi a empolgação.

Você disse que não tinha vaga! - Indaguei.

Karla pediu demissão, eu avisei que não duraria - Me olhou convencido - O Senhor Fernando ainda estava a falar no celular, parecia nervoso.

Você pode começar amanhã, não precisa esperá-lo, provavelmente deve estar furioso com o Filho mais novo, isso sempre acontece. - Explicou.

Fiz uma careta - Então.. Já vou indo.. - Sorri para o Senhor João

Passei pelo o meu novo chefe e acenei para o mesmo.

Empurrei a porta com força, dando de cara com um par de olhos acizentados, gélidos, meu sorriso se desfez rapidamente, fiquei constrangida ao relembrar da cena de mais cedo, era muita coincidência. Fingi que não o reconheci, e fui em direção a minha casa.

Eu já amo vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora