Capítulo I - Responsibility

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Conforme o álcool escorria pela minha garganta seca, queimava meu interior e deixava um rastro amargo na minha língua, mas tal desagrado não me é relevante

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Conforme o álcool escorria pela minha garganta seca, queimava meu interior e deixava um rastro amargo na minha língua, mas tal desagrado não me é relevante. Há algo que me fere muito mais do que uma mera garrafa de saquê. Imóvel no chão sujo do bar, observo atentamente cada movimento daquela mulher, assim como as reações dele. Luffy, apesar de estar no auge de seus dezenove anos, ainda não é capaz de notar as intenções promíscuas de outrem, e isso se torna um enorme problema para mim.

Virando de uma vez, esvazio meu copo de bebida e permito me abstrair por entre minhas memórias vergonhosas de dois anos atrás, especificamente, de quando Nico Robin tornou-se uma tripulante inusitada no Going Merry. É reprovável admitir que senti ciúmes de meu capitão junto da arqueóloga, afinal, ela é, presentemente, uma amiga íntima, próxima de uma irmã, e já me explicou sobre sua relação com Luffy. Não havia nada mais do que uma admiração inabalável e amor fraternal.

Embora distante, a recordação é vívida em minha mente, posso sentir com precisão a maneira a qual deslizava a caneta-tinteiro sobre as páginas amareladas do diário de bordo, onde registrava nossas aventuras no país desértico. Naquela hora, à minha frente, Robin brincava com Luffy e Chopper usando sua fruta enquanto sorria meigamente para ambos, que riram, divertidos. Tal qual agora, minha concentração estava presa em outra coisa, efetivamente, nas palavras que minha amiga ditou antes de integrar nosso bando.

"Não vai se esquecer do que me fez, não é? Pois então me diga, tomará essa responsabilidade?"

Em primeira instância, não me dei conta da ambiguidade pungente de sua frase, uma vez que encontrava-me eufórica pela aparição súbita de uma inimiga e pela fuga da marinha, entretanto sua voz sondou cada canto do meu coração tempos depois, não tardando para que a vertigem passasse a consumir as fibras de meu ser. É uma sensação desgostosa, sentir que pode perder algo que nunca foi seu. Visando retornar à realidade, suspirei pesadamente e mergulhei a caneta na tinta para, a posteriori, ser interrompida por Robin. No momento, estranhei seu chamado e arqueei a sobrancelha, confusa, ela, por outro lado, levou sua xícara de café aos lábios em um gesto sutil.

— Você e o capitão são... Um casal? — Indagou, expressando que sua dúvida era genuína.

Não exaltar-me perante o questionamento foi impossível, o que me levou a engasgar com minha saliva.

— O-O quê? Por que pensa nisso? — Disse velozmente ao passo que sentia minhas bochechas serem pintadas em um vermelho carmesim.

— Uma pergunta — sorrindo, Robin repousou a xícara na mesa e encaixou a cabeça entre os dedos —, está escrevendo sobre seus verdadeiros sentimentos nesse caderno?

— N-Não é nada, isso não tem nada a ver — retorqui engolindo em seco.

Robin curvou sua boca, deixando escapar uma suave risada entre os dentes, e dirigiu seu olhar para Chopper e Luffy. Ela é uma pessoa bem misteriosa, pensei à medida que guardava a caneta de volta no frasco de tinta.

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