Capítulo 1: O nevoeiro

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Nos corredores internos do castelo, onde antes não havia nada a não ser um monótono patrulhamento de guardas, agora se instaurava uma grande e confusa movimentação de pessoas, mergulhando o ambiente em uma onda de falatórios.

Uma avalanche de caos e pânico parecia ter se apoderado do complexo para acabar de vez com a tranquilidade daquela curiosa noite.

Os alunos saiam às pressas de seus quartos obrigados a se mover junto aos moradores, agora refugiados no interior do reduto, tomando e congestionando os lances da escadaria interna.

Era notório que estavam todos sendo evacuados para o grande salão e para o refeitório. No saguão, Artur os assistia escondido atrás de uma tapeçaria.

Os funcionários corriam para fechar as janelas, portas e as chaminés do castelo. Pareciam treinados e com tudo planejado para lidar com aquilo.

Após o último morador passar, um esquadrão de guardas entrou pelo portão da academia aos berros e o lacrou. Diante da oportunidade, o menino apressou-se e se enfiou no meio da leva caótica de pessoas que vinham da torre leste.

Ele tentava encontrar o irmão, rezava para que ele estivesse ali, mas não conseguia vê-lo em lugar algum. Um desespero tomou conta do seu peito. Estaria Harry ainda dormindo em seu quarto em meio a um ataque?

— Artur? — chamou uma voz masculina em meio ao tumulto.

Um jovem atlético de cabelos loiros, sedosos e caídos pela nuca, avançou até ele enfrentando a agitação. Era o seu amigo nortenho.

— Scott, você viu o Harry? — apressou-se Artur a perguntar.

— Não. Não vi não — respondeu o amigo.

O menino então se virou e correu, esbarrando em todos, lutando contra o fluxo de alunos no portal para o grande salão.

— ARTUR! — gritou Scott, mas o amigo o ignorou completamente.

Não podia olhar para trás, não podia desviar sua atenção.

— MENINO, O QUE ESTÁ FAZENDO? — berrou um guarda próximo a ele, erguendo os braços equipados para tentar bloqueá-lo.

O rapaz desviou do patrulheiro e correu rumo a torre leste com toda força.

Estava em agonia, aquilo não podia estar acontecendo. Harry era sua responsabilidade, não deveria deixá-lo sozinho em um cenário como aquele.

O calvariano se afastou do tumulto, correu pelos corredores desertos e subiu o mais rápido que podia a escada em espiral da torre. Seus passos ecoavam.

Em seu trajeto, ele pôde ver diversos quartos com portas abertas e pertences diversos largados pelo chão, abandonados pelo desespero da fuga.

Quando finalmente atingiu o quarto pavimento, o menino esbarrou com o irmão descendo energeticamente as escadas. Seu peito estava arfante, seus olhos estavam arregalados e seus cabelos desgrenhados.

— Harry?

— Vo-você?

— Onde você estava, garoto!?

— Eu... não te vi na cama quando os sinos tocaram, fui te procura ...

— Ah, Harry! — Interrompendo sua fala, Artur puxou o irmão e o abraçou de súbito. — Me perdoa!

Certificar-se de que ele estava bem em meio a todo aquele escândalo era um alívio imensurável. Seu estado de saúde era tudo o que mais importava ali e era tudo o que se passava na mente do garoto desde que deixara a arena de lutas.

Agora, Artur precisava mantê-lo perto, precisava mantê-lo seguro, precisava mantê-lo distante de seja lá o que estivesse atacando o vilarejo naquela noite.

Rostwood: Além das muralhas (PT/BR) - PréviaOnde histórias criam vida. Descubra agora