003 , 𝖼𝗈𝗇𝗌𝖾𝗊𝗎𝖾𝗇𝖼𝖾

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27/03/2020

A pandemia fez com que as ruas movimentadas e barulhentas de Nova York ficassem calmas e silenciosas. Em seu apartamento, Catherine tinha apenas a companhia de Amy, sua gatinha de estimação que fora adotada no início de 2019. O isolamento social afastou Bernard de sua família em Londres, eles se comunicavam através de uma tela do computador ou celular, mas ela sentia falta dos abraços calorosos.

A vida tinha mudado em todos os aspectos. Catherine havia feito amizade com pessoas que nunca imaginava conhecer, algumas verdadeiras e outras nem tanto. Com o isolamento social, Bernard descobriu novos talentos: compor canções; ela sempre possuira uma paixão por música, quando estava no sétimo ano implorou para sua mãe colocá-la em uma escola de música e lá aprendeu a tocar piano e guitarra. A arte em geral sempre atraiu a atenção da britânica, cinema, música, pintura, desenhos e mais, uma consequência de nascer em uma família repleta de artistas.

Sua mãe pintava lindos quadros das paisagens de Londres, seu avô era um famoso compositor de músicas nos anos 50, sua irmã possuía uma escola de dança na Califórnia, seu tio escrevia lindos poemas e todo o resto da sua família materna possuía alguma ligação com a arte. Catherine sentia-se muito orgulhosa de todos aqueles talentos, eles eram uma inspiração pra ela desde pequena.

Catherine estava sentada no sofá da sala, com um caderno de anotações apoiado nas pernas e uma caneta em mãos. Palavras e mais palavras passavam pela sua mente, mas nenhuma parecia certa para o sentimento que ela queria descrever naquela música. Ela não esperava que escrever uma canção fosse tão difícil assim.

━━ Já são 11:56. Ela disse que ia me ligar às 11:30, acredita nisso Amy? ━━ Catherine pergunta para sua gata que subiu em um pulo no sofá, se acomodando ao seu lado, os pelos laranjas brilhando. ━━ Acredito. Vocês humanos parecem não ter uma noção muito boa do tempo.

O isolamento social obrigou Catherine a inventar uma voz para a sua gata. Para... não se sentir tão sozinha. Sem ofensas, Amy.

━━ Não tenho ideia de como terminar essa música. ━━ a britânica disse acariciando o topo da cabeça de Amy, ouvindo um ronronar. ━━ Acha que "and it would've been sweet if it could've been me" soa bom?

Ela não recebe nenhuma resposta, apenas um miado sonolento e Amy se acomodando ao seu lado. Bernard riu, soltando um suspiro arrastado e torcendo para que conseguisse terminar aquela música. Talvez sua amiga mudasse muitas coisas na versão final para poder lançar no álbum, Catherine não sabia no que estava se metendo quando topou essa ideia. Era difícil, mas, de algum modo, era libertador expressar seus sentimentos que estavam guardados por tanto tempo naquela canção.

Ela se levanta e anda até seu "estúdio". Era um quarto improvisado com isolamento acústico de última hora, o piano, a guitarra e outros equipamentos muito bem organizados. Um barulho de notificação sai de dentro do bolso da bermuda, Catherine pega o celular e vê uma mensagem "posso ligar pra você?". Finalmente, ela pensa. Sem demora, responde com um sim e corre para pegar o laptop, que deixou em cima da mesa de centro na sala, e o caderno de anotações.

Bernard organiza tudo e atende a ligação.

━━ Oi, desculpa a demora. ━━ Taylor diz, do outro lado da tela, arrumando os cabelos loiros.

━━ Você disse que me ligaria às 11:30. São 12:05! ━━ Catherine mostra o horário do celular para a melhor amiga. ━━ Amy disse que você não tem uma boa noção de tempo.

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