1: ponte não tão vazia.

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A garoa fraca parou, porém o vento frio ainda era possível de ser percebido. Hyunjin e Seungmin, cada um em sua bicicleta, pedalavam juntos enquanto a lua estava no céu. A luz fraca dos postes iluminavam a rua, e eles sabiam que estavam prestes a passar por aquele lugar: a ponte da corrida.

Assim que avistaram o começo da estrutura, pedalaram mais rápido para se aproximar. Os dois, trocando olhares, sabiam o que isso significava. Prepararam os pedais, respiraram fundo, porém, antes de começarem a corrida rotineira, Seungmin soltou alguns palavrões mandando Hyunjin parar de pedalar imediatamente.

— O que foi? Tá com medo de perder igual sempre?

— Cala a boca, moleque! Não tá vendo que a gente não ta sozinho aqui dessa vez?! — sussurrou, mas em tom de repreensão.

Hyunjin estremeceu e sentiu seu corpo inteiro gelar imediatamente. Olhou para os dois lados, mas, com sua pequena dificuldade em se concentrar estando com medo, não teve visão alguma além da confusão de pensar que as luzes dos postes era várias luas no céu.

— Você tá maluco, Seungmin?! Quer me matar?

— Eu tô falando sério, Hyunjin... Tem uma pessoa ali — ele apontou —, e ela tá sentada na beira — Seungmin pegou sua bicicleta e se aproximou lentamente.

A visão era baixa, então se aproximou um pouco mais. O horário marcado no relógio de seu celular era onze e vinte da noite. O garoto, sentado na ponte, nem pareceu se importar com a presença, embora era óbvio que tivesse escutado, já que Hyunjin chegou reclamando e xingando Seungmin por ter o contado aquelas lendas de terror sobre espíritos que assombravam seu local de morte, principalmente de noite.

Os dois ficaram alguns segundos parados atrás da pessoa sentada na ponte enquanto se encaravam meio sem saber o que fazer. Com um pouco de vergonha, Seungmin tirou uma coroa de flores da cesta de sua bicicleta e se aproximou da pessoa, que agora reconhecia parecer com um garoto.

— Uh... Com licença? — ele disse e a pessoa olhou. — Hm... Meu amigo e eu estamos fazendo um projeto de escola e, bem... Esse projeto é distribuir coroa de flores para as pessoas na rua — mentiu da forma mais descarada possível, sem nem sequer conseguir olhar nos olhos do que parecia ser um garoto. — Você aceita uma?

O garoto, sem esboçar reação, pegou a coroa de flores e deixou na muretinha ao seu lado. Enquanto Hyunjin se aproximava com uma fina fita de cetim amarela, ele parecia desinteressado, mas ainda olhava. Só então que os dois amigos perceberam que aquela pessoa estava encharcada, o que significava que ela já estava há horas na chuva. Eles queriam perguntar o que havia acontecido, mas nenhum dos dois teve coragem, então apenas deixaram a fita ao lado da coroa de flores e foram embora da maneira mais constrangedora possível.

O caminho se deu em silêncio, apenas sendo ouvido o barulho das pedaladas e o som da noite enquanto passavam pelas ruas desertas. Seungmin, observando a luz da torre Eiffel de longe, parou a bicicleta na beirada de um lago e sentou-se na grama molhada. Hyunjin fez o mesmo.

Os dois amigos, sabendo dos pensamentos um do outro, nem sequer se preocuparam em voltar para casa aquele horário, que não passava das onze e quarenta ainda. Um gato preto completamente magro se aproximou, buscando um pouco de comida. O silêncio entre eles já não era mais constrangedor, agora apenas confortável. Hyunjin tirou um pedaço de croissant de um pacote em sua mochila e jogou para o gato, que imediatamente comeu, parecendo que estava faminto há semanas. Os dois sabiam que provavelmente isso era verdade.

— O que você acha que aquele garoto tava fazendo na ponte? — Hyunjin quebrou o silêncio.

Seungmin pensou um pouco para responder.

— Acho que ele ia se matar.

O garoto na ponte. | 3inOnde histórias criam vida. Descubra agora