Além do Disfarce

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"Olhos não mentem

Olhos não mentem

Diga que você é minha"

— Isabel LaRosa


Erik / Draven

Ela percebeu o instante em que minha barreira caiu. Foi apenas por um milissegundo, mas o bastante para atrair sua atenção. Um milissegundo. Encarei os olhos de Rhiannon, com suas sardas delicadas pontuando as maçãs do rosto como estrelas num céu noturno, e, naquele instante, perdi a sobriedade; rendi-me à loucura. Pois Rhiannon era a própria imagem de Aurora.

Por um breve momento, cogitei que minha amada poderia ter renascido das sombras, como uma reencarnação. Mas, ao observar com mais atenção o que aquela jovem escondia sob camadas dissimuladas de docilidade, entendi que ela não era minha Aurora. Um milissegundo.

O erro custou-me o bastante para que ela enxergasse através de mim.

Notei o modo como seus olhos se fixaram nos meus, a ligeira dilatação das pupilas, a sutil rigidez no canto de sua boca – sinais discretos de quem vislumbra algo proibido. De alguma forma, aquela jovem, à primeira vista comum e sem qualquer encanto especial, parecia saber do segredo que eu tentava esconder. E eu sabia que ela sabia.

A pergunta era: como?

Feéricos capazes de enxergar a essência alheia não eram vistos há séculos; foram eliminados durante o Magnum Bellum, com a justificativa de que era demasiado arriscado permitir que pessoas com tais habilidades andassem livremente. Eles não existiam mais.

E, ainda assim, algo me dizia que aquela garota, a poucos metros de distância, era uma dessas raras criaturas. Relutantemente, precisei concordar com os Axis – a aliança de reinos que deu início à guerra e caçou esses e tantos outros feéricos que não se enquadravam no que chamavam de "puros". Eles eram, de fato, perigosos. Pois essa menina, se fosse realmente capaz de ler a essência que escapou por um mísero instante, poderia desmantelar anos de planejamento em um segundo.

Se ela conseguisse interpretar minha aura e decidisse falar com o Chefe da Guarda, que estivera aqui há poucos instantes, todo o meu sacrifício seria em vão.

Para alguém de minha estirpe, expor minha aura é uma imprudência imperdoável. É um risco desnecessário. Não que esses soldados tivessem alguma chance contra mim em combate, mas meu plano exige discrição. Cada detalhe precisa ser impecável, cada movimento meticulosamente calculado.

Por isso, praguejei mentalmente por ter sido tão descuidado com minhas defesas. Ainda assim, não poderia me culpar por completo; ao observar aquela jovem pela primeira vez com real atenção, perdi momentaneamente o controle. De início, ela parecia ordinária, mas, ao olhar de verdade... era evidente que escondia segredos verdadeiramente intrigantes.

Eu sabia o que ela havia visto em mim. A apreensão em seu rosto denunciava que, mesmo sem entender completamente, ela percebia a ameaça que eu representava. Ela viu aquele tom de vermelho profundo, quase negro, que me envolvia quando minha proteção caiu.

Nos olhos dela, notei a compreensão de que eu era um intruso naquele lugar. Demasiado poderoso, envolto em sombras. Ela captou a essência de alguém que não pertencia àquele reino, nem a essa posição... nem a este mundo. "Pertencer" era, de fato, uma palavra subjetiva. Séculos atrás, eu não apenas pertencia—eu reinava. Até que tudo me foi tirado: meu poder, meu povo exilado, minha amada perdida.

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⏰ Última atualização: 2 days ago ⏰

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