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Emily acordou no dia seguinte, totalmente tranquila. Seu despertador rotinal tocou as 7h, e ela estava preparada. Tirou seu tapa olho e com uma naturalidade surpreendente e se levantou da cama, caminhando até o banheiro.

-Sra. Emily? Sra. Emily?

Alguém estava do lado de fora da porta, gritando.

-Corina?

Emily andou rápido até a maçaneta e a abriu com surpresa.

-Algum problema, Dorina? Minha mãe passou mal essa noite?

Dorina estava com uma cara de apavorada, e Emily já imaginou o que fosse.

Sua mãe, uma estilista brasileira e co-fundadora da YESBRASILY, estava em crise. Sua loja estava em declínio, e isso afetou sua saúde. Primeiro, suas crises de asma começaram a atacar a todo momento, e depois, se tornou algo sério.

Vários médicos já tinham sido chamados, e vários laudos diferentes foram dados. Alguns doutores disseram que eram só crises de ansiedade, outros falaram que podia ser estresse rotinal. Mas nenhum foi tão preciso quanto o Dr. Oil, que diagnosticou a mãe de Emily com depressão.

...

O pai da garota entrou em desespero, e a própria mãe negou.

-Dr. Oil, não é possível que... -Disse o pai de Emily

-Desculpe, Sr. Schneider, mas as vitaminas dela estão baixas e a imunidade também. Ela vê pouco os familiares, e pelas conversas com o psicólogo... Além disso, se fosse só um estresse, ela já estaria curada.

-Mas... Não pode ser câncer? O pai da minha mulher já teve... e... e pode ser passado geneticamente, não é?

Dr. Oil teve que medir as palavras. E pensou bastante antes de responder. Que tipo de imbecil acha que depressão é pior que câncer? Que tipo de imbecil pode comparar a gravidade de duas doenças? Só o Sr. Schneider.

-Com licença, Sr. Schneider, mas tenho total confiança nos meu equipamentos, nos meus assistentes, e nesse hospital. Sei que o senhor também confia. Além disso, câncer pode ser mais nocivo que depressão.

O Sr. Schneider mudou o tom de voz, e ficou frio.

-É claro, confio nesse hospital. O melhor do Brasil. Espero que realmente seja, e que o senhor faça o impossível pra que minha esposa melhore logo. -Ele olhou no seu relógio analógico, e se encaminhou até a porta. -Estou atrasado. Posso falar com minha mulher antes de ir?

...

-Dorina?

-Sim, Emily. Seu pai acabou de ligar do hospital...

Dorina parecia que estava em choque, e mal conseguia falar. Isso acontecia frequentemente e irritava Emily. Parecia que Dorina, apesar de ótima doméstica, se tornava uma imprestável.

-Qual telefone? -A voz de Emily ficou desesperada.

Dorina estava totalmente desnorteada.

-DORINA, QUAL A PORRA DO TELEFONE?

Ela empurrou a Dorina para o lado, e desceu correndo as escadas, sem dar tempo dela responder.

Meu Deus, a minha mãe tá bem?

Na sala, ela não ouviu nenhum barulho de telefone, então pressupos que a Dorina já tivesse desligado.

-Emily, sua mãe tá viva. Calma!

Dorina já tinha descido as escadas e se pôs do lado da garota.

-Porra, Dorina, então fala que merda que aconteceu! Porra, processa!

Sua respiração estava ofegante.

-Sua mãe foi pra U.T.I. E seu pai acabou de me ligar pedindo pra te levar no hospital. É provável que seja uma despedida.

-Você não vai me levar em porra nenhuma! Porra nenhuma! Ah...

-Sra. Emily!

-Não fala comigo!

Ela ficou puta. Puta merda. A mãe dela tava morrendo e ela tava fodida.

Ela correu pro quarto, e trocou de roupa. Colocou o primeiro vestido que viu. Era um florido, branco e azul, bem infantil na verdade. Era longo e ia até o tornozelo.

Colocou seu nike azul e pegou um casaco. Enquanto isso, seu telefone ligava pro Pietro.

-Oi, Emily

-Oi, Pi.. Tá ocupado?

-Tô em casa, com a Ju. Porque?

-Pode me levar em um lugar?

...

-Sua mãe vai ficar bem, baixinha...

Os dois já tinham chegado no hospital, e estavam sentados no corredor da UTI. Emily estava com a cabeça apoiada no peito de Pietro, enquanto chorava.

O pai da Emily estava no quarto do hospital com a mãe, em lágrimas. Ela estava entubada, já nos últimos segundos de vida. Todos estavam desesperados. Até o Pietro, que nem era da família, estava sentindo a pressão.

Emily abraçou ele mais forte. Ela amava ele, como se fosse um irmão. E ele amava-a também. Mas era um sentimento diferente. Era o sentimento de amor incondicional. Era o sentimento de que, não importava o que acontecesse, ele ia defender e cuidar dela. Ele até casaria com ela, se ela quisesse. Mas ela, obviamente, nunca iria.

O pai saiu do quarto, e Emily se ajeitou na cadeira.

-Emily, minha filinha... eu te amo, te amo.

Eles começaram a soluçar juntos, e Pietro, ao observar, quase vomitou de tanta tristeza. Era triste, sim. A garota que ele mais amava tinha acabado de perder a mãe. Isso significava que ela tinha acabado de se perder também.

-Eu vou no banheiro, tá bom? -O pai dela deu um beijo molhado na sua testa, e foi ao banheiro.

O rosto dela estava inchado. E com o coração na mão, ele se levantou e a abraçou.

-Vem cá, pequena... Você não tá sozinha, sabe disso, né? -Ele limpou os olhos dela e sorriu. Com uma mão na cintura e a outra ajeitando o cabelo, ela começou a se acalmar.

-Pi... não me dei-xa-a... não me-e deixa sozinha...

-Não vou, não vou. Você vai jantar na minha casa hoje, tá bom? Pode dormir lá, também. Fica calma, meu amor.

O pai da Emily saiu do banheiro. Ele tinha limpado os olhos, e ajeitado seu terno. Parecia que ele nunca tinha chorado na vida.

-Pietro, obrigado por ter ficado do nosso lado, mas acho que é a hora de irmos. Ficar aqui não vai levar ninguém a lugar nenhum, e a imprensa já deve estar a caminho.

Emily começou a soluçar mais forte.

-Pai... eu.. eu posso ir pra casa dele?

-Pietro, sua mãe vai estar lá?

-Tá sim

-Então pode, Emily. Acho até bom você conversar com a mãe do Pietro. Vocês vão de carro?

-Sim, eu tô de carro.

-Ótimo, então eu acompanho vocês.

Eles caminharam até o estacionamento do hospital, e após a garota ter entrado, o pai dela puxou o Pietro pra mandar um papo motivacional.

-Cuida dela. Eu confio em você. Acho que a pior coisa seria ela ficar em casa, nesse momento. Obrigado por estar aqui.

-Que nada. Ela é uma menina de ouro, vou ficar do lado dela sempre. Desejo o melhor pra vocês, Sr. Schneider. Espero que vocês superem isso logo.

-Também espero, meu filho... também espero.

Ambos entraram em seus respectivos carros, e saíram daquele ambiente.

Porque, Deus? Porque?

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