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O banho foi gostoso. O Pietro me ensaboou e se aproveitou da situação, me provocando sempre que podia. Mas não é como se eu não tivesse feito o mesmo.

Ele me emprestou um moletom roxo da adidas, e, parando pra pensar, acho que ele só tem moletom no armário.

Enfim, deitei na cama e abri um pacote de fini.

-Hum, sabia que você ia ficar com fome!

-Aham, pois é.

Ele revirou os olhos e pulou em cima de mim.

-Agora é a Emily chata que tá no controle? Putz, que azar.

Ele caiu ao meu lado. Eu ia pedir pra deitar no seu braço, mas tive uma ideia melhor.

-Pi, vamos jogar um jogo?

Ele estranhou. Eu, Emily, a garota mais nojenta do mundo, querendo jogar um jogo? Quer dizer, eu parei de jogar jogos com 9 anos.

-Você quer jogar? O que?

Eu ri. Ele estava certo, eu odiava jogar. Mas aquele jogo ia me favorecer, então... porque não? E além disso, era o Pietro! Ele não ia me julgar, ele não podia. Até porque, a única pessoa que podia ser julgada ali era ele.

-É assim... Eu vou falar a inicial de alguém, e você me mostra a sua conversa com essa pessoa.

Eu sorri, como se fosse uma ideia genial. Ele provavelmente odiou, porque fez careta.

-Cara, você não sabe disfarçar. Você quer ler a minha conversa com quem? Com a Melissa, né?

-Porque com a Melissa?

-Cara -Ele riu- Você acha que eu não vi o seu olhar de ciúmes na festa da mãe do Bruno? Eu só tava acompanhando aquela idiota, e você tava me fuzilando com os olhos.

Aquilo não deixava de ser verdade. Mas eu não ia dar esse gostinho pra ele.

-Vai se foder, Pietro. Você acha que eu tenho ciúmes da Melissa? Ela é literalmente a puta mais rodada que eu conheço.

-Ela é gostosa.

- Eu sei, Pietro, que você comeu ela.

-Ela é legal. É bonita. Ela é diferente de você, Emily.

Eu me virei, e ele me encarou.

-É claro que eu e ela somos diferentes. Ela deu pra você, e eu NUNCA vou fazer isso.

Ele pegou o celular.

-Voce não ia se arrepender.

Eu sei que não ia me arrepender. Eu queria, e queria muito fazer isso. Principalmente com o Pietro, porque ele era alguém que eu confiava. Só que, às vezes, as pessoas que confiamos também são um pouco traidoras.

-Foda-se.

Eu fui chegando para o lado, e puxei o seu braço.

-Calma, baixinha. Vem cá.

Ele abriu totalmente o braço e eu me encaixei ali, quase deitando em cima do seu peito.

Se eu analisasse o Pietro, ia reparar no cabelo loiro. É comprido, mas não tanto quando dos surfistas ou cantores de metal. É comprido e curto. Os fios são finos, e é gostoso passar a mão pelo cabelo dele. Ele adora quando eu faço isso, e eu adoro fazer.

Os olhos azuis claros combinam com a sua boca rosada. Ele é bonito. Sua pele é bronzeada de tanto ir na praia.

Ele joga futvolei dois dias na semana, e às vezes, me chama pra torcer nos campeonatos. Ele tem várias medalhas, porque é um grande jogador. É claro que eu sei que esse esporte não dá futuro, mas é o que ele gosta, então como melhor amiga, tenho que apoiá-lo.

Sinceramente, odeio ele. Ele é um idiota, um bobo, um traídor. Mas, quando ninguém tá do meu lado, ele vem e me mostra o quão incrível eu sou. E obviamente, isso só mostra o quão incrível ele é.

Meus pensamentos foram interrompidos quando alguém começou a bater na porta.

-Pode entrar. -O Pietro falou, engrossando a voz.

A família dele acha que ele é gay. E isso é uma piada. Mas explica porque o comportamento dele com os pais e irmãos é sempre frio.

-Sr. Belmont, sua mãe está te esperando com a Emily lá embaixo.

-Tá. Me dá licença, por favor.

Ela ficou tímida e saiu do quarto sem bater a porta.

-O que sua mãe quer? -Perguntei baixinho.

-Ah, deve querer conversar com você ou sei lá..

Ah sim, a mãe do Pietro quer conversar comigo. A mulher que sabotou a minha mãe quer conversar comigo. A mulher que, quando meus pais tiveram uma briga e quase se separaram, foi a primeira a ir a imprensa e contar detalhes pessoais da vida da minha mãe, quer conversar comigo. A mulher que se aproveitou e ganhou fama em cima da minha mãe quer conversar comigo.

-Claro, vamos lá.

Descemos as escadas com uma tranquilidade absurda. Eu não me importava em conversar com ela. Provavelmente, eu ia agir de forma indiferente, respondendo com "sim, estou me sentindo péssima" e "não, não preciso que a senhora faça bolo ou ligue pro meu pai".

-Emily, querida! Senta aqui comigo!

Eu sentei no sofá cinza e o Pi sentou do meu lado. A mãe dele estava sentada em um sofá soft marrom em frente ao nosso, e na primeira oportunidade, o Pietro passou o braço pelo meu ombro.

-Fico feliz em ver a forte amizade de vocês.

E ela deu bastante ênfase na palavra amizade.

-É. -Pietro tentou desconversar e a mãe dele revirou os olhos.

-Enfim, não te chamei aqui pra ser sua psicóloga, porque sei que está sendo um choque pra você tudo isso.-E está mesmo.

-Obrigada por entender, Agatha. E obrigada por me deixar ficar aqui também.

Agatha, a mãe do Pietro, tinha os cabelos escuros e curtos, estilo Chanel. Ela passava um ar de mãe superprotetora, mas na verdade ela não dava a mínima pros filhos.

-Ah, claro, querida! Você é super bem vinda nessa casa. Sempre foi, né! Até quando o Pietro estava de castigo, você dava um jeito de vir.

Quer mesmo trocar farpas, sua filha da puta?

-Verdade, Agatha. Alguém tem que fazer companhia pro Pi, já que você tá sempre fora viajando, ou ocupada demais cuidando da vida alheia, não é? Só quero o melhor do Pi! Ele é o meu melhor amigo.

O Pietro apertou meu braço e eu entendi o sinal. Pegou pesado.

-Tá, é claro. -Ela revirou os olhos- Só vim avisar que eu e o João vamos viajar hoje, e ficaremos um mês fora. 
Seu irmão vem cuidar de você, então não quebra a casa até lá.

-Quando ele vem?

-Semana que vem ou antes. Só tô te avisando pra você não ser pego de surpresa. E nem você, Emily.

Aquela puta desgraçada quer entrar em guerra comigo? Qual é a dessa piranha?

-Mãe, a gente vai voltar pro meu quarto, tá? Tchau.

A gente se levantou e voltou pro quarto. Quando o Pietro bateu a porta, eu surtei.

-O que ela quis dizer com aquilo, Pietro?

-Aquilo o que?

-Sobre eu ser pega de surpresa, o que ela quis dizer?

-Fala sério que você vai levar as coisas que minha mãe fala a sério, Emy? Porra, ela não fala nada com nada! Não dá bola.

Eu estava com raiva. Quando eu falo sobre traição, eu falo sobre isso. O Pietro sabe sobre a rivalidade das nossas mães, e mesmo assim ele não me ajuda. Eu me sinto ao mesmo tempo que protegida por ele, um coelhinho entrando na toca do lobo mau. E eu odeio isso.

-Vai se foder, Pietro.

Eu deitei na cama e só pensei em uma coisa. Dormir.

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