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Eu acordei algumas horas depois, e o Pietro estava se arrumando. Abri meus olhos bem devagar, e fui me mexendo na cama macia.

Quando ele percebeu que eu tinha acordado, veio todo manhoso na minha direção e sentou ao meu lado.

-Boa noite, minha gatinha manhosa.

Ele sorriu, e segurou meu rosto com delicadeza nas suas mãos.

-Me beija.

Ele não hesitou e me beijou rapidamente. Aquilo era comum, mas ele não costumava hesitar. Ele nem sequer me deixava pensar. Eu nunca tive que pedir.

Me balancei um pouco, e me sentei na cama. Arrumei meus cabelos e fui em direção ao banheiro pra escovar os dentes.

-Onde você vai?

Perguntei enquanto pegava a minha escova. Era engraçado ter uma escova de dentes só minha na casa do meu melhor amigo. Era bem engraçado, na verdade.

-Bruno me chamou pra ir numa festa. Tá afim?

Festa? Não, nem um pouco.

-Não, mas fica a vontade pra comer buceta e se encher de alcoól.

Ele provavelmente deve ter negado com a cabeça e sorrido, daquele jeito brincalhão e travesso.

-Se você me disser que quer ficar comigo hoje, eu deixo de ir.

Fiquei surpresa, e cospi todo o creme dental misturado com salivana pia. Eu ri da minha situação, e também do que ele tinha dito.

-Humm, então você tá me dizendo que o senhor Belmont vai abandonar uma noite de prazeres só pra ficar com a senhorita Emily? A pobre e humilde senhorita Emily que não tem nada a oferecer senão alguns beijinhos e...?

-Ah, cala a boca!

Eu senti o cheio do malbec. Ele sempre usava malbec quando ia encontrar a Melissa.

Terminei de escovar os dentes e voltei ao quarto, onde ele estava sentado na cama. Ele usava uma blusa preta e calça marrom claro. Um boné branco, com uma data aleatória. Ele tava vestido de padrão.

-Ei, se você for embora, eu ligo pro meu pai me buscar. Não quero incomodar ninguém. -Falei

Ele sorriu pra mim e se levantou, puxando minha mão. Meu corpo ficou rente ao dele, e ele colocou a mão na minha cintura.

-Quer que eu fique?

Ele passou a mão na minha bunda, e eu suspirei.

-Depende do que você vai querer em troca...

Cochichei no seu ouvido, e senti a sua pele estremecer. Pietro nunca estremecia. O que estava havendo?

-Ah... eu quero tantas coisas de você... tantas que você nem imagina.

Os pensamentos maldosos me dominaram. Talvez fosse a noite ideal.

Mas meu corpo se sentiu ameaçado, eu dei um passo pra trás e ele me soltou. Ele ficou surpreso e triste, mas não deixou transparecer. Ele também não insistiu.

O meu lance com o Pietro era uma provocação, uma brincadeira. Não era sério. Eu não gostava dele, e ele não gostava de mim. A gente só se aproveitava um do outro, sem envolvimento, sem sentimento. Pelo menos, era assim que tinha que ser.

É por isso que ele não insistia em mim, e é por isso que eu não implorava por ele. Eu amava o Pietro, mas não é do jeito que eu amo o Charlie. Pelo menos, não é do mesmo jeito que eu devia amar o Charlie.

O Pietro é minha amizade colorida, meu melhor amigo do mundo. Eu nem considero que estou traindo o Charlie, porque o Pietro é tão infantil e idiota, que tudo que eu e ele fazemos é tão natural. É quase ingênuo. É uma ingenuidade maldosa.

-Como tá o Charlie?

Ele se sentou na sua cadeira gamer.  Ele devia estar esperando o motorista se aprontar, ou os amigos chegarem pra buscá-lo. Eu estava servindo de distração, e não era mais o centro das atenções.

-Ah... tá bem, eu acho.

Ele negou com a cabeça e riu.

-Brigou com ele de novo?

É claro que briguei. De novo. De novo e brigaria de novo. Mas o Pietro não tinha porra nenhuma a ver com isso.

-Não te interessa, sabia?

Peguei meu celular e mandei mensagem pro motorista. Mandei minha localização em tempo real e ele falou que chegaria em 20 minutos.

-E a sua best, Memel? Como tá?

Eu dei um dedo do meio pra ele e ele ignorou.

-Nossa, você precisa parar de ser antissocial!

Ele riu, e mandou mensagem pra alguém no celular. Ele estava distraído e estava jogando conversa fora.

-Ela falou que estava bem empolgada porque iria sair com você. Parece que você não gosta mesmo dela.

-Olha só, Pietro. -Eu estava de saco cheio.- Você sabe bem da minha relação com a Melissa. Vai logo pra sua festinha de merda, e para de me encher a porra do saco, caralho.

Me levantei e peguei o meu vestido que estava dobrado em cima da cabeceira dele. A empregada deve ter dobrado, ou talvez o Pietro não fosse tão imprestável.

Descemos a escada juntos, e juntos esperamos o meu motorista. No momento da despedida ele me abraçou.

-Te amo, tá? Quero que saiba que eu te amo independente de tudo. Tô contigo, Emy. Até morrer.

-Também, Pi. -Eu sorri. -É a gente até morrer.

Ele sorriu e eu entrei no carro.

No caminho, abri o wattpad, que é meu aplicativo favorito no mundo todo. Entrei em um conto de dois capítulos sobre dois amigos desde a infância que sempre tiveram uma queda um pelo outro, mas nunca assumiram.

Tudo muda quando eles entram no ensino médio, e  começam uma vida amorosa com pessoas diferentes. Um fica com ciúmes do outro e eles decidem começar um lance, mas não dá certo. Isso porque o mocinho é problemático demais e só machuca a mocinha.

No fim, eles continuam sendo amigos, é claro, e continuam se amando. Mas dessa vez, eles decidem ser só amigos.
A frase final da história é:
Eles se amavam intensamente, e eram loucos um pelo outro. Mas só amar não era o suficiente.

E eu pensei muito no Pietro enquanto lia a história. E também pensei no Charlie. Mas de qualquer maneira, as coisas não poderiam ser diferentes. Pelo menos, não comigo.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 05, 2023 ⏰

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