Ano Novo

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Notas: Oi! Isso não foi revisado, mas se você decidir ler, eu espero que goste <3

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A bebida tem um gosto amargo e a festividade não encontra calor em seu âmago. Novembro e dezembro são as piores épocas do ano para ele. Sozinho, e o frio, às vezes tão intenso, se torna devastador.

A geada sussurra verdades que Jean tenta esconder. Não importa quantos casacos ele use, se seus dedos estão protegidos por luvas de lã ou se seu pescoço e rosto o protegem com um longo cachecol. Ele se sente gélido, e acha que talvez ceda sob todas as camadas.

Ele vai se quebrar. Simples assim. Mas o Moreau não quer pensar sobre essas coisas, nem sobre como a sua casa é vazia e impessoal, ou sobre como o peru que ele comprou mais cedo no mercado está cru no meio, ou a goteira incessante que seu teto tem e os pingos ritmados que caem num balde meio cheio, reverberando pelas paredes vazias do seu apartamento.

Então ele bebe, porque é a única coisa que é capaz de deixar seu peito queimando nesses dias. Caído no sofá, com uma garrafa vazia perto do seu corpo, Jean suspira. Ele tenta se levantar, mas seu físico não colabora com a mente. É uma sensação engraçada, sempre. Perder o controle por alguns breves momentos e apenas estar lá, com cócegas pelo corpo.

Mas o silêncio…

Ele é cruel, e Jean está exausto disso. Ele quer, mas tem medo.

Ele se esforça para se sentar e quase cai novamente, mas se agarra no sofá. Há poucas coisas na sua casa. Jean, de onde está, vê tudo. O banheiro do lado direito, com sua porta aberta, seu quarto mais a frente com um colchão no chão e uma penteadeira, e a cozinha do lado esquerdo, que separa a sala com um simples balcão. Uma geladeira que faz mais barulho do que refrigera, um fogão que é uma ameaça de incêndio e, à sua frente, uma mesa feita com ripas de madeira.

Os cartões postais que estão espalhados por ela são de todas as cores e de todos os lugares do mundo que Jean pode apenas sonhar em um dia visitar. Pequenos pedaços de papéis que simbolizam a liberdade que Jean sempre quis, comprados em um bazar aleatório por menos de dez euros e ele nunca riscou uma única unidade.

Para quem ele enviaria? Não é como se ele conhecesse alguém para isso.

Suas mãos correm pelas imagens. Jean ergue um postal, encarando um pôr-do-sol. É lindo. Parece aconchegante, único, infinito.

Sóbrio, Jean teria apenas admirado por alguns segundos e abandonado novamente entre os outros, mas ele exagerou no uísque. Pela primeira vez, ele age fora do seu normal.

Em uma névoa, lutando pelo equilíbrio, Jean consegue encontrar uma caneta pela casa. O cartão postal na sua mão direita, a caneta vermelha na esquerda. Ele se senta contra a parede e escreve.

Espero que seu final de ano não seja solitário. Seu endereço é o único de que eu me lembro, e a noite é muito longa para passá-la sozinha. Viaje pelo mundo por mim? Feliz ano novo.
Moreau (31/12)

Ele calça os sapatos, veste um moletom e sai para as ruas. Há um selo no cartão, e um destinatário anônimo que receberá suas palavras desleixadas.

Ele não sente o frio.


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⏰ Última atualização: Nov 23, 2023 ⏰

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