Capítulo 02 | Destino.

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POV Adrien

POV Adrien

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15 DE DEZEMBRO, 2008. As folhas das árvores caiam indicando que o inverno estava por chegar. Naquele dia cinzento e triste, foi o dia em que Emilie e Gabriel Agreste foram sepultados. Um ao lado do outro. Juntos. Como sempre foram na vida até o dia de suas mortes num trágico acidente automobilístico.

Eu sabia que aquilo não podia ter sido só um simples acidente como qualquer outro, mas, muitas pessoas morrem todos os dias. Eu não entendo porque esse destino escolheu tirar a vida de duas pessoas altruístas e boas como eles. O universo quis assim. Talvez. Oito anos não é muito tempo, mas eu passei os melhores oito anos da minha vida junto deles, junto da minha mãe que era uma mulher boa, amável e de um coração bom.

Quando se foram, deixaram muitos bens de valor e uma grande empresa de automóveis que eles construíram juntos. Aprendi muitas coisas com o meu pai, acho que foi por causa dele que surgiu a minha paixão por motos. A responsabilidade de tudo foi deixada nas mãos do meu irmão, que na época tinha apenas 14 anos. Com isso, ele adquiriu uma mania irritante de me deixar constantemente de lado em relação a tudo. Eu só tinha ele no mundo, e mesmo assim o maldito parecia não se importar nenhum pouco.

Aprendi a viver sozinho e o mundo foi me ensinando a como sobreviver à vida real sem estar cercado de regalias a todo momento. Fui criado por uma grande amiga dos meus pais, Caline Bustier. Moro em uma instituição de ensino desde os oito anos e foi ali que encontrei pessoas que me mostraram uma verdadeira conexão de bem-estar e companheirismo.

Quando criança eu não entendia muito, e só depois de alguns anos percebi a real situação que eu me encontrava: pais mortos e abandonado pelo irmão. 

Que merda.

Me tornei uma pessoa rebelde, mas não a ponto de praticar atos de vandalismo ou cometer furtos. Aprendi a conviver na solidão mesmo estando repleto de pessoas do lado, eu ainda não me sentia em casa. Não há um lugar para eu chamar de lar. Não existe.

Olho para as lápides e deixo uma flor em cima de cada uma, depois de dar mais uma olhada, saio do cemitério não deixando derramar uma lágrima. Era deprimente não ter mais a presença de alguém de sangue por perto, mas esse sentimento eu sabia esconder muito bem dentro de mim.

Antes de cruzar a saída daquele lugar, topei com um velhinho que ia entrando e logo me desculpei por tê-lo feito derrubar um ramo de flores que ele segurava em uma das mãos.

— Não se preocupe, meu jovem, não foi nada demais. Isso acontece, né? – o velho se levantou assim que o ajudei a recolher as flores.

— Eu ‘tava com pressa, não percebi o senhor entrando. Sinto muito, aqui está. – entreguei a última flor que caíra no chão, ele agradeceu sorrindo fraco.

— Vejo que a sua expressão deprimente no rosto indica que estava aqui há muito tempo.

— Uma hora e meia. Para ser mais exato.

— É um sofrimento imenso quando perdemos alguém. – não disse uma única palavra, apenas o olhei sério — Perdi minha esposa há alguns anos e a saudade é imensa. Mas não me prendo a sentimentos tristes, me recordo sempre dos momentos felizes que vivemos juntos e isso acalma o meu velho coração.

Permaneci uns segundos calado. Eu não gostava de compartilhar assuntos pessoais para quem mal conheço, às vezes sinto que me fechei para o mundo.

— Você deve ter perdido alguém muito importante também. – acenei com a cabeça — Certamente ele ou ela estão em um bom lugar olhando por você. Não desanime, sim?

— Sinto que já morri a muito tempo, só… não quero perceber ainda. 

— Você ficará bem. O futuro lhe reserva muitas coisas boas e se eu fosse você, não desistiria agora. – o velho homem se virou e adentrou o cemitério, mas logo voltou-se para mim e acenou em despedida enquanto seguia seu destino.

Sem mais delongas, saí daquele lugar e fui em direção a minha moto, ligando e pilotando o mais rápido que podia. Não posso acreditar que o meu futuro me reserva coisas boas, isso só pode ser papo de gente velha mesmo, até hoje eu só me fodi.

Chegando ao meu destino, desliguei a moto e desci rapidamente, eu ‘tava atrasado pra caralho, dessa vez tenho certeza de que Luka iria me estrangular.

— Seu desgraçado, meia hora de atraso é demais pra mim! – o Couffaine gritou quase estourando os meus tímpanos.

— Mas não é pra mim então fica na tua. Eu ‘tô aqui, não ‘tô? Então baixa a bola. – me joguei no pequeno sofá e peguei a guitarra que estava no chão. Luka vinha pra cima de mim, mas Nathaniel o segurou.

— Esse merda já tá aqui, então será que dá pra não brigar e começarmos a ensaiar? – O ruivo perguntou, eu não tava com cabeça pra isso – hein? Vou levar esse silêncio como ‘sim’.

— Brigando de novo? – Uma voz conhecida soou adentrando o lugar e eis que uma japonesa cruza os braços vendo a situação.

— E eles param? Me avise quando houver paz por perto quando eles se juntam, porque certamente eu tenho que registrar o momento! 

— Não exagera Alya. – Nino falou e a namorada levantou o dedo do meio para ele — Vamos só ensaiar, tá legal? Amanhã temos aula e uma apresentação no neste fim de semana para fazer. 

Nino, Luka, Nathaniel, Kyoko e eu somos uma pequena banda local, tocamos no único Pub que tem por aqui nesse fim de mundo – mesmo sendo um cidadezinha pequena, ainda existem jovens que curtem uma boa festa no fim de semana –. No final de cada show ganhamos alguns agrados, mas eu não acho necessário pra mim e acaba ficando para os outros integrantes dividirem tudo. 

Ensaiamos por mais ou menos 2 horas e resolvi voltar para o colégio, estava ficando tarde.

— Certeza que não quer passar a noite pra gente ir junto amanhã? – Luka perguntou me vendo subir na moto.

— Sai fora Luka, eu não corto pra esse lado não. – ele riu e deu um soco no meu braço.

— Você entendeu o que eu quis dizer, seu loiro de merda. Mas enfim, até amanhã cara. – acenei e dei partida.

O vento que batia no meu rosto era gélido mas ao mesmo tempo aconchegante. A sensação de correr naquela moto era inexplicável, aproveitar aquela “liberdade” era muito bom. 

Depois de alguns minutos, cheguei em frente aos portões da Instituição onde atualmente eu vivo. É… e vamos novamente enfrentar mais uma semana tediosa e sem nada a agregar na minha vida.

Assim que entrei no meu quarto tomei um banho gelado e me joguei na cama. As palavras daquele velho que encontrei mais cedo ainda rondavam minha mente e me perguntei se realmente o futuro me reserva algo. Eu não sei, mas se sim…

Espero que sejam coisas boas.






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