Havia uma antiga mansão na velha Estrada Crawford. A casa pertencia à família fundadora da pequena cidade de Holyfield, cujo nome foi dado por Joseph Tyler Crawford, o homem conhecido por sua riqueza e arrogância. Ele não se importava com as opiniões daqueles que não possuíam as mesmas posses que ele. Joseph era um pioneiro na indústria do tabaco, sua empresa era a maior da Grã-Bretanha, e ele a dirigia com mão de ferro. Joseph tinha quatro filhos, todos homens: Rupert o mais velho, Willian, Marcus e Lincoln o mais novo. Cada um tinha sua individualidade, mas todos compartilhavam seu amor pelo lar.
Havia algo cativante naquela casa, desde a maneira como cada tijolo era perfeitamente colocado, até a pequena biblioteca modesta que Joseph havia construído para sua esposa Olivia, que era a alma da casa. Ela lia para seus filhos todos os dias, sentados em um tapete vermelho com desenho de rosas abstratas, que parecia mais confortável que o trono de um rei para aquelas crianças.
O relacionamento de Olivia com Joseph nem sempre era bom, mas ela fazia qualquer coisa para poupar seus filhos de verem a discórdia entre eles. Joseph não era um homem agressivo, mas ele não aceitava opiniões diferentes da sua. A casa era um refúgio para a família, um lugar de amor e união, onde as memórias felizes superavam as dificuldades.
Olivia casou-se com Joseph quando tinha vinte anos, sendo ele cinco anos mais velho do que ela. O casamento foi arranjado pelo pai de Olivia depois que ele contraiu muitas dívidas de apostas. Dois anos após o casamento, o pai de Olivia morreu de overdose. Joseph fez questão de arcar com os custos do velório. Durante o velório, Olivia ficou forte, enquanto Willian segurava a mão de sua mãe e dizia que ele estaria no céu, mas Joseph interrompeu, dizendo que ele se queimaria no fogo do inferno por seus pecados.
Alguns meses depois, Olivia adoeceu, com uma espécie de gripe forte que, mesmo com tratamento caro e remédios, não melhorou. Quando deu seu último suspiro, todos na casa sentiram um calafrio em seus pescoços, e a casa ficou fria e sem vida, como se Olivia tivesse dado vida à casa que outrora havia morrido com ela. Joseph ficou ainda mais amargurado após a morte prematura da esposa. Ele quase não saía de seu escritório, os jantares em família eram apenas desculpas para Joseph discutir com seus filhos, e ele vagava pela casa no meio da madrugada vestindo apenas um roupão. Várias vezes, os criados o encontraram dormindo em partes aleatórias da casa, com uma garrafa de whisky na mão.
Certa vez, Lincoln disse ter visto Olivia para ele, e Joseph deu um tapa nele, fazendo-o sair correndo. Marcus confortou o irmão, dizendo que também havia visto Olivia, ainda que fosse apenas uma mentira contada como forma de empatia.
Conforme os anos se passaram, Willian acumulou rancor por seu pai. Numa tarde de domingo, eles discutiam, e Willian, tentando chamar a atenção do pai, o empurrou. Joseph, bêbado, caiu e bateu a cabeça em um vaso. Vendo o erro que cometera, Willian ficou apavorado e pensou em acusar o jardineiro pelo crime. Ele limpou o vaso sujo de sangue, pegou as luvas do jardineiro e as colocou, então bateu na cabeça de seu pai onde havia sido cortado para parecer que ele foi atingido por um golpe. Ninguém na casa percebeu o sumiço dele ou do pai, e Willian calou os funcionários.
Durante muitos anos, a mansão foi a residência da família Crawford. No entanto, após a morte de Joseph, a família não soube administrar sua riqueza e a mansão foi vendida por seu filho mais velho, que fugiu com uma pequena fortuna, deixando seus irmãos à mercê da pobreza. Eles guardaram rancor do irmão como se fosse uma doença em seus corações amargurados pelo sentimento de traição.
A mansão foi meticulosamente construída sob as ordens de Joseph, e quando seus filhos partiram, sentiram que estavam perdendo uma parte de si mesmos. Eles se mudaram para a cidade e abriram uma pequena padaria com o dinheiro emprestado do banco, em consideração ao falecido pai, que era amigo do bancário. A padaria não dava muito lucro, mas era o suficiente para manter a família. Eles, que cresceram rodeados de riquezas, agora tinham suas camas cheias de percevejos e sentiam calafrios nas noites de inverno.
O irmão mais novo adoeceu após visitar um amigo na prisão e contraiu tuberculose. O tratamento para a doença era caro, o que acabou afundando-os em dívidas. Antes de morrer, ele pediu para ser levado de volta para casa, pois sua alma apenas descansaria onde seu coração pertencia. Então, ele foi levado de volta para a casa, que estava vazia e gelada. As lembranças da morte de seus pais tomaram conta de seus pensamentos, e Lincoln morreu naquela mesma noite. Sua expressão era suave, pois finalmente encontraria o colo acolhedor de sua mãe.
Anos se passaram, e William retornou à cidade, agora um homem de negócios bem-sucedido, com uma esposa e uma filha pequena. Ele entrou na padaria de seus irmãos em uma manhã cinzenta e descobriu que seu irmão Lincoln havia falecido de tuberculose. Ele ficou indiferente, pois nunca se deu bem com o irmão.
Ele ofereceu moradia na antiga mansão aos seus irmãos, já que ele havia comprado a propriedade de volta. Os irmãos sentiram esperança em ver seu antigo lar novamente, pois desde o dia em que se mudaram, nunca mais voltaram para visitar a mansão, devido às lembranças tristes da morte de seu pai e da traição de seu irmão. Joseph havia sido supostamente assassinado pelo jardineiro, que havia sido acusado e condenado pelo crime.
Com os três irmãos de volta à mansão numa noite chuvosa, um homem bateu à porta. A governanta deixou-o entrar, por ordem de William, mas ele arregalou os olhos ao ver que era o antigo jardineiro da família, o homem que havia sido incriminado pelo assassinato de seu pai. O jardineiro apontou o dedo para o irmão mais velho e repetia "assassino" em voz alta, deixando-o em pânico. O homem tentou agredir o irmão, mas foi impedido pela criança, que correu para o colo do pai com medo. Então o jardineiro partiu sem dizer mais nada.
Dias se passaram, e Willian não conseguia dormir com medo do jardineiro se vingar dele. Ele tomava remédios para se manter acordado e passava as noites bebendo whisky em sua poltrona, segurando uma escopeta. Seus irmãos ainda odiavam-no, apesar de estarem ali por amor à mansão.
Numa noite, ele finalmente caiu no sono, e seus irmãos o sufocaram com uma almofada, jogando seu corpo no lago próximo à mansão. Eles falsificaram uma carta em seu nome, dizendo que havia fugido por medo e tormento de seus próprios demônios. A esposa do irmão mais velho não se importou, pois ele havia deixado dinheiro suficiente para ela e sua filha. Ela se mudou para Londres alguns meses depois, deixando a mansão aos cuidados dos irmãos do falecido marido que passaram o resto de suas vidas zelando pela propriedade, apesar de ser pintada com o sangue dos assassinatos que ocorreram lá. Mesmo assim, era seu lar.
YOU ARE READING
Gato preto e poeira: Contos de horror
TerrorContos aleatórios escritos por mim (. ❛ ᴗ ❛.)