"Isso não é real... Isso não é real Joe" Essas palavras ditas por meu psiquiatra me trouxe de volta a realidade em um dos meus surtos mais violentos. Ele disse que eu havia atacado a enfermeira da noite um pedaço do espelho que havia quebrado, o doutor sempre foi bom comigo, ele limpou o corte e enfaixou minha mão. Antes que eu saísse da enfermaria ele pediu para eu me desculpar com a enfermeira Bennett. Eu fui até a sala de jogos e ela estava lá, eu fiquei envergonhado ao ver o corte em seu braço, cheguei perto dela com cautela e pedi desculpas.
- Eu... Eu sinto muito senhora Bennett, eu não me lembro de nada, mas o doutor disse que eu fiz isso na senhora. Me perdoa senhora Bennett!
- Está tudo bem garoto, eu já passei por situações piores neste lugar.
Ela deu de ombros enquanto levantava e ia até dois pacientes que estavam brigando por um cavalinho de madeira.
Quando eu tinha apenas quatorze anos eu incendiei minha casa, meus pais e minha tia avó morreram no incêndio. Quando eu acordei no hospital eu não me lembrava de nada do que havia acontecido, um policial grosseiro me fez varias perguntas, mas eu não sabia responder nenhuma delas. A última coisa que me lembrava era de estar jantando com minha família e depois fui me deitar.
Segundo o doutor, eu sofro de uma doença chamada transtorno dissociativo de identidade .
Toda vez que eu apagava o outro Joe acordava, esses apagões ocorriam sem um padrão ou gatilho. Eu tinha uma alma boa, era o que minha mãe costumava dizer, mesmo que o outro Joe tentasse me fazer parecer um monstro.
Já fazia cinco meses que eu estava na clínica e ninguém da minha família havia ido me visitar, mas eu entendo o ódio e desprezo deles. Quando eu era criança meus pais me trancavam no porão quando eu tinha meus surtos, quando minha mãe finalmente descia para me buscar eu estava sentado no escuro chorando, eu me batia na parede e me machucava. Minha mãe me levava para cima e me dava banho, ela fez isso durante anos. Eu surtava por motivos irrelevantes, algumas vezes meu pai me batia e outras ele só saia de casa para encher a cara. Ele dizia que havia sido amaldiçoado com um filho retardado. Eles nunca procuraram médicos, só me escondiam do mundo. Eu estudava em casa e só saia para ir a igreja aos domingos. Minha mãe me falava pra ficar quieto e não falar com ninguém, eu era como uma sombra seguindo eles.
A verdade sombria que descobri sobre minha mãe recentemente é que quando ela era mais jovem ela era uma tiete e andava com uns góticos estranhos. Eu sempre vi minha mãe como uma mulher séria e religiosa, mas eu estava enganado. Eu fiquei me perguntando se o meu pai sabia desse passado dela, provavelmente não. Uma enfermeira da clínica me disse que minha mãe já havia sido internada lá quando era adolescente, ela tinha os mesmos surtos que eu. Talvez fosse por isso que ela tinha mais empatia por mim do que o meu pai. Ele era o tipo de pessoa que gostava de resolver as coisas com violência, talvez eu tivesse herdado isso dele. Eu não gostava de ser uma pessoa violenta.
Uma certa noite eu acordei e já estava em pé, eu andava em direção a saída da clínica, eu achei estranho ninguém ter me impedido. Então eu virei para o outro lado para voltar para o meu quarto. Eu estava tão sonolento que não notei minhas mãos molhadas inicialmente. Quando eu fui coçar meu rosto vi que minhas mãos estavsm sujas de sangue. Eu fiquei assustado mas continuei andando agora eu estava atrás de ajuda. Quando eu cheguei na sala da enfermaria a porta estava aberta, ela estava morta, havia canetas enfiadas em seus olhos e seu pescoço estava cortado. Eu apavorado sai correndo dali e acabei escorregando e caindo no chão. Havia sangue por todo lado e o corpo de um segurança. Ele estava com a barriga aberta e eu podia ver suas viceras misturadas. Eu me sentei ao lado do corpo dele e chorei de agonia e culpa pois sabia que eu havia feito aquilo. Quando eu levantei eu fui até o quarto de outro paciente e vi ele dormindo tranquilamente, todos estavam dormindo como se nads tivesse acontecido. Eu não fazia ideia de como eu havia saído do meu quarto ou matado aquelas pessoas. Eu já não aguentava mais tudo aquilo eu voltei para meu quarto e vi uma faca na cama eu peguei a faca e coloquei no meu pescoço. Quando eu comecei a cortar uma versão sombria minha com olhos pretos e um sorriso diabólico surgiu no espelho e disse:
- Você não vai fazer isso. Você é um covarde.
- Quem é você? Eu estou sonhando....
- Isso não é um sonho, eu sou bem real... Sou uma versão melhor de você.
- Então foi você que fez tudo aquilo?
- Sim. Eu sou um artista eu diria, você gostou?
- Por que você faz isso? Você machuca as pessoas, pessoas inocentes, você matou meus pais!
- Aquele homem que você chamava de pai era só um bêbado nojento e a mamãe era uma vadia mentirosa. Ela era uma puta viciada que se casou com o primeiro idiota que assumiu o bebê bastardo dela. Eu sou o verdadeiro Joe e você é só uma pequena parte minha que irá sumir em breve.
- Você está mentindo, isso não é real, isso não é real.
- Eu sou real Joe, tudo isso é bem real, não minta pra você mesmo, você é um doido do caralho e no fundo sabe disso. Eu tô tentando ajudar você.
Eu sai correndo do quarto para fugir dele e fui até a enfermaria, tomei vários comprimidos e acabei apagando novamente. Eu achei que havia morrido de overdose, mas quando acordei eu estava em um carro e havia uma mulher do meu lado, ela estava sorrindo para mim, mas eu queria matar ela, eu queria avisar ela para correr, mas eu não conseguia falar ou fazer nada eu estava preso vendo o outro Joe matar a mulher. Eu passei vários anos vendo as atrocidades cometidas por ele sem poder fazer nada, era como um pesadelo infernal e interminável.
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Gato preto e poeira: Contos de horror
HorrorContos aleatórios escritos por mim (. ❛ ᴗ ❛.)