A falha de uma vida inteira resumida a um segundo, um mísero instante na eternidade do tempo, um simples momento que poderia definir o futuro de todo o continente de Yggdrasil resumido a um simples golpe do Destino. O tão aguardado retorno para a morte de meu algoz mostrou ser apenas uma esperança vazia, as últimas forças que eu utilizara para erguer a espada de cristal foi inútil, a criatura simplesmente fez seu corpo dividir seu tronco desviando da presença da lâmina e se unindo de volta na cintura. Ele, basicamente, havia criado um buraco em seu corpo onde estaria a espada e com um urro ele me atirou para longe.
Bati a cabeça na queda e apenas consegui ver a criatura se contorcendo, a criatura parecia ainda estar lutando com as sombras que a cercavam, sua silhueta estava oculta pela escuridão que tentava devorá-la ferrenhamente, a minha Vontade meu desejo ainda vivia nas sombras que o atacavam, havia esperança, mas eu não tinha forças, a criatura cambaleava para dentro das ruínas do templo, eu tentei reunir alguma força, estiquei minha mão direita tentando alcançar a arma, mas assim que consegui me esgueirar e segurar a espada eu escutei o barulho de vidro quebrando. Após alguns segundos me atrevi e ergui o olhar para a lâmina e vislumbrei o fim, via o que seria uma das patas da criatura sobre a lâmina quebrada, tendo os fragmentos de cristal entre suas garras. Eu entrei em desespero, não há outro jeito de matá-lo sem a espada, comecei a mais uma vez a suar frio, era minha última esperança, eu perdi todas as oportunidades, fui obrigado a recorrer a uma ofensiva praticamente suicida, mas era para desta vez dar certo, mas tudo agora era em vão, restava apenas uma opção. A adaga sacrificial ainda estava comigo, a coloquei em um dos últimos dedos que me restava e preparei para puxar, mas me contive, algo me segurava em minha consciência, algo que eu não conseguia distinguir no momento devido à dor que deixava meu corpo aos poucos, eu podia sentir o gosto do sangue na minha boca como pó de ferro puro. Respirar é difícil, pensar é difícil, segurar a adaga...
[...]
Despertei com a luz da Alvorada no meu rosto, a fadiga que ainda preenchia meu corpo me mantinha no chão, apenas consegui sacudir a cabeça o suficiente para fazer o capuz cobrir os meus olhos. Minha cabeça latejava como nunca, nem na pior das ressacas eu imaginaria uma dor de cabeça como esta. Imagino que tenha ficado uns dez minutos apagado no chão quando sinto algo caindo em cima de mim, algo molhado e fedorento, tiro o capuz para olhar e vejo a mancha branca e verde de bosta de pássaro, rasgo o capuz e o atiro no chão. É a gota d'água que me faltava para me livrar dessa capa, a retiro e a deixo em meio as ruínas e observo as marcas de minha batalha, minhas feridas ardiam, mas conseguia voltar a sentir minha força se recobrando, conseguia sentir a mão do dedo decepado e podia finalmente voltar a torná-la útil. Retirei de minha bolsa uma manopla e a coloquei na mão esquerda, murmurei um simples feitiço e estava pronto, uma mão com todos os dedos funcionais, ou pelo menos é o que aparentava. Na hora era o suficiente, havia uma pessoa que eu precisava ver, tinha cruzado o continente para vê-la, neste momento nem a morte iria me parar, eu desejava vê-la mais do que tudo neste mundo. Eu escolhi uma das casas em ruínas e invadi, vasculhei em um dos armários por uma capa e roupas menos esfarrapadas e tornei a retornar para a fonte.
A manopla me incomodava, mas era melhor que uma mão a menos, o novo corte ainda ardia e a dor ainda era tanta que meu corpo preferiu a ignorar para que eu pudesse continuar andando, não havia reparado, mas o brilho da fonte havia desaparecido e a água havia se tornado límpida, me aproximei e pude ver dentro da água algo cintilando, estiquei a mão de metal para dentro da água, mas não consegui tocá-la, a mão de metal atravessava o brilho como se não estivesse lá, entoei algumas palavras e toquei novamente na água a transformando em gelo.
"Vou esperar mais um pouco desta vez."- pensei. Me sentei no chão de frente para a fonte e comecei a recordar das memórias de antes da ruína de Medivah. No fim das contas, não passa do que é, ruínas que já não tem mais seu verdadeiro brilho. Apenas permaneci aguardando o que viria a seguir, não importava mais nada, já havia desistido de tudo e a única coisa que poderia me libertar havia quebrado como um simples pedaço de vidro, meu destino não havia mais nada que estava sob meu controle nem mesmo a morte, só me resta aguardar por um alívio...
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Destino Rompido
FantasiNo continente de Yggdrasil, uma cidade se isolou de todas o resto do mundo com uma grande barreira mágica para manter todo o mal do lado de fora, mas mantendo um grande segredo junto dela. O último draconato de Medivah atinge a sua maioridade e está...