Pov Jéssica
Lentamente abri meus olhos esperando ver minha Patrícia ao meu lado mas a única coisa que encontrei foi o vazio e um frio imenso que pairava sobre o quarto.
Desejava que aquilo fosse apenas um pesadelo que acordando eu iria parar de sentir mas era em vão, era um pesadelo que estava ali, presente em minha vida.
Não adianta dormir e acordar novamente, ele estaria ali comigo, junto a mim.
Ouvi batidas na porta do quarto mas sem forças pra levantar apenas disse um "entra" e logo vi a mãe da minha mulher entrar no quarto com uma bandeja de comida em suas mãos.
Érica:—não sou de fazer essas coisas pra ninguém mas quero que coma, é de coração.
Sentei na cama recebendo a bandeja cheia de frutas no meu colo, mesmo querendo recusar comer, lembrei que Patrícia iria odiar se eu não comesse pelo menos alguma fruta pela manhã então peguei um dos cachos de uvas que haviam na bandeja e comecei a comer.
Vagamente me vieram as lembranças da manhã do meu aniversário quando Patrícia me deu uvas na boca me enchendo de beijos já de manhã.
Senti meus olhos marejarem mais uma vez, estava doendo tanto que eu não sabia nem o que fazer nem o que falar para ajudar a mulher em minha frente.
Érica:—não fique se martirizando por favor, a grande culpada de tudo sou eu.
Jéssica:—não senhora...
Érica:—sou sim, sempre fui uma mãe ruim para ela, nunca vi seu lado e talvez nunca veria se não estivesse passando por isso... Patrícia é a minha única filha depois de tantos e tantos abortos e eu nem para cuidar dela eu servi, a única coisa que fiz foi encher minha filha de traumas e deixá-la crescer com todos eles.
Vi que a mulher já chorava me deixando mais sensível ainda, realmente ela estava arrependida? Não sabia mas se realmente estivesse era algo bom de se ouvir.
Érica:—eu tinha tanta coisa para falar pra ela... Mas e agora? E se ela se vai? O que eu faço, eu nunca vou ter o perdão da minha filha.
Eu estava confusa com o seu desabafo tão de repente, mas eu também não podia simplesmente ignorar ela e deixar a coitada falando sozinha ali.
Jéssica:—ela vai ficar bem, acredite assim como eu também estou senhora.
Érica:—mas e se ela não quiser me ouvir? Ou me perdoar? Eu já fiz tanta coisa de ruim pra ela... Eu fui um monstro não uma mãe.
Jéssica:—ela vai te ouvir fique tranquila, eu vou fazer o que posso para ajudar a senhora, mas temos que manter a calma.
Eu queria acreditar e seguir as minhas próprias palavras mas estava muito difícil, eu queria me manter calma e acreditar que minha Patrícia iria voltar a ficar bem, eu não queria que algo ruim acontecesse que eu não pudesse vê-la mais, estava tudo tão difícil pra mim.
Jéssica:—eu vou sair agora para ver minha mãe e depois eu volto para nós irmos tentar vê-la, pode ser?
Érica:—como quiser querida, obrigada por me ouvir.
Jéssica:—de nada senhora, fique a vontade está bem?
A mulher assentiu enquanto eu terminava de comer as poucas uvas que peguei do cacho.
