Sem o Jardim do Éden.

71 9 2
                                    

Poucos dias depois que Adão e Eva fugiram, o anjo e o anjo caído continuaram pelos restos do que costumava ser um lindo jardim.

"O que faremos agora?" O anjo caído perguntou.

"Não fale comigo como se fossemos amigos."

"E não somos?"

Quase de imediato o anjo respondeu.

"Não."

Como uma cobra, o caído se aproximou rápido do anjo.

"Você tem curiosidade sobre mim."

"Não venha com suas tentações! Não escutarei você! Sua cobra!"

O caído estava mesmo em forma de cobra, então não levou como uma ofença.

"Se não somos amigos, por que ainda está aqui? Anjo."

O anjo hesitou, por que ainda estava lá?

"O Jardim já era, Aziraphale, e você sabe disso. Pode ir embora quando quiser, mas insiste em ficar. Por que?"

Seu nome soava único na boca do demônio. Era realmente tentador. Mas o anjo não se deixaria cair na sedução do caído. Ele não ousaria.
O anjo caído se aproximava.

"Se afasta, Anthony."

"Claro, quando você me contar o porquê de ainda estar aqui."

O anjo nunca conseguiria assimilar o que se passava em sua cabeça, muito menos contar isso ao seu, não inimigo, Anthony J. Crowley.

Aziraphale se afastou do demônio.

"Não cairei em suas tentações!"

"Por que você não deixou que eu me queimasse na chuva?"

"Fique quieto! Você é o Mal, Crowley. Eu faço as perguntas, não você!"

"Por que tem que ser assim?"

Silêncio.

O anjo não respondeu. Não respondeu nada. Ele simplesmente sentou em uma das ruínas do que um dia fora o mais belo dos jardins.
O demônio desistiu, e sentou-se ao seu lado.

"Não me faça ir contra tudo que sempre acreditei." O anjo disse, quase como um sussurro angelical.

"Vou tentar." O caído disse com um sorrisinho, como ele poderia ir contra um anjo que era tão bonito?

"Sem risadinhas, Crowley. Te ter por perto já é muito tentador. Até para mim."

O anjo caído gostou de ouvir isso, embora não tivesse demonstrado.

"Foi...mal?"

"Não peça desculpas como se você não gostasse disso! Tem noção do que fez? Eu pequei! Eu, Aziraphale, fui contra os desejos do meu próprio Criador! Percebe isso?"

O silêncio pairou.
O sol se põe.

"Gostaria que você ainda fosse um anjo."

"Tudo seria sem graça se eu fosse."

"Poderíamos estar juntos se você fosse."

"Estamos juntos agora." O anjo caído disse, se sentando mais ao lado de Aziraphale.

"Não desse jeito, Anthony."

"Você não aceita quem eu sou."

"Não sou eu quem tem que aceitar, você sabe disso."

"Quem liga pro você sabe quem? Podemos viver no nosso próprio mundinho! Eu e você. Mais ninguém. Não existiria Bem e Mal. Só existiria Aziraphale e Crowley."

"Não é tão fácil assim!"

"Por que não?"

"Porque eu não quero cair, Crowley! Não quero me tornar um demônio igual a você. Somos anjos, fomos criados como anjos, como você ousa desrespeitar quem te deu a vida? Como ousa ir contra todos os valores, tudo que aprendeu? Por que não podia ficar quieto como um anjo?"

Aziraphale soltou tudo que estava preso em pensamentos, sem hesitar um segundo.

Crowley levantou.

"É isso que você não entende. Não é só porque ele nos deu a vida que devemos tudo a ele. Acorda, Aziraphale. Ele não é do Bem. Os planos dele não são o que você pensa que são. Sabendo a verdade, não havia como eu continuar naquele lado. Você mais do que ninguém sabe disso. Por que não entende?"

Crowley tentou tocar em Aziraphale, mas o anjo se afastou.

"Não vou te escutar! Não vou cair em suas tentações! Você é só um demônio tentando me puxar para o seu lado! O Criador nunca seria uma pessoa ruim!"

O anjo caído estava devastado, seu único amigo não acreditava em suas palavras.

Crowley parou e decidiu voar para longe do que era o Jardim do Éden.
Aziraphale por lá ficou, ora chorando, ora pensando.
O anjo pensava bastante. Agora mais ainda.
O que era certo e o que era errado?







Tentação.Onde histórias criam vida. Descubra agora