Nosso Jardim.

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Passou -se um tempo.
O anjo havia abandonado as ruínas do jardim, e os seres humanos começaram a existir.
Adão e Eva conseguiram, pensou Aziraphale. Eles tiveram a oportunidade de ficarem juntos, e se prenderam a isso.
Eram ambos pecadores, portanto ambos passaram por tudo juntos.
Ambos fugiram se olhar para trás.
Ambos foram contra os desejos do Criador.
Isso nunca aconteceria com Aziraphale e Crowley, até porque eles não eram iguais, e nunca seriam.
Crowley é um pecador, um ser do mal, um anjo que traiu seu Criador e acabou caindo, exilado dos céus.
Aziraphale é um anjo bom, que faz sempre o que é certo e o que tem que ser feito.
Eles não dariam certo.
O anjo sempre aprendeu isso dos céus.
Anjos e demônios nasceram para ser inimigos, nada além do que isso.

Mas, por algum motivo, era inefável a vontade do anjo de ir atrás do demônio.
O anjo estava solitário havia muito tempo, ele poderia até confessar que sentia falta de um certo demoninho enchendo seu saco.

A história não poderia acabar assim.
O mundo não pode ser só Bem e Mal.
Por exemplo, Adão e Eva pecaram, é verdade, mas eles aprenderam com seus erros! E agora eles são bons pais, eles estão populando a Terra.
Então, porque com esses erros, Aziraphale e Crowley não poderiam aprender alguma coisa? Por que eles não poderiam tentar? O que tem de tão ruim em um anjo e um demônio sendo amigos?

O anjo estava decidido a tentar, a encontrar seu anjo caído.
Porém havia um problema, onde ele estaria? Havia pessoas no mundo agora, e a Terra é um mundo muito grande, como se encontrariam?

Aziraphale entristeceu.

Passou -se uma década.
O anjo ainda procurava por ser companheiro por onde passava, porém seu sorte. Ele já não estava mais tão perto de onde era o Éden.

Em uma tarde agitada, Aziraphale em um bar, esbarra em alguém familiar.
O bar estava lotado.
A pessoa que esbarrou nele estava encapuzada.
O anjo puxou o capuz, achando que era quem pensava ser.
Não era.

Aziraphale sentou-se em um dos bancos e chamou alguém para que lhe atendesse.

"Vai querer o que? Aziraphale."

O anjo levantou seu rosto que antes estava entristecido, e agora era energia pura.

"Crowley! Como? O que está fazendo aqui?"

"O que você tá fazendo aqui? Achei que anjos não bebiam."

"Ora, não pedi nada ainda. Mas seria tentador se você se sentasse comigo, não teria como eu recusar."

Sorrindo, o demônio puxou uma cadeira e sentou a frente do anjo.

"Como vão as coisas? Faz o que, uns seis anos?" O anjo caído perguntou, parecendo não se importar muito. Quando na verdade ele havia contado o tanto de tempo que eles estavam sem se ver, eram exatamente dez anos e dois meses.

"Não é sobre isso que vim conversar. Temos assuntos mais importantes, querido."

"Querido? Cadê aquele papo de inimigos mortais e que você não queria cair e blá blá blá?"

"Crowley, eu ainda tenho muito o que aprender, e tenho que me desconstruir muito. Sei que o que falei te magoou, não foram palavras fáceis de se ouvir, porém, você é meu único amigo. Você é quem eu quero ao meu lado, para sempre. Morro se não te tenho por perto. E, por mais que isso vá contra os planos do Criador, eu... Eu escolho você acima de tudo, eu preciso de você."

"Precisa do Anthony ou precisa do Crowley?"

"Eu preciso do meu demoninho me enchendo o saco todo o santo dia, preciso do meu Crowley, e não acho que isso é errado."

"Uou, se o você sabe quem ouvisse isso agora, você cairia bem mais fundo do que eu."

"Contanto que você esteja comigo, eu vou ficar bem."

Crowley estava muito feliz, excepcionalmente feliz, porém um sorriso simples foi o que ele deixou transparecer, ainda tinha que manter a pose de durão.

"É inefavel o meu amor por você. Essa sua tentação é impossível de resistir, Crowley."

O anjo caído queria voltar a ser cobra e grudar ao corpo de Aziraphale para nunca mais sair, porém ele ainda havia sido magoado, e por dez anos e dois meses essa mágoa ficou contida nele.

"Ok."

"Ok?"

"Eu te aceito, mas com uma condição."

"O que, querido?"

"Peça desculpas."

"Desc-"

O anjo caído o interrompeu.

"Assim não. Eu quero que cante. Cante e dance um pedido de desculpas."

"Eu sei que você é um demônio, mas isso é realmente necessário?"

"Se você quiser que eu vá embora tudo bem, eu vou." Crowley se levantou.

"Espera! Eu faço."

Crowley se sentou satisfeito. Estava morrendo para ver isso.

"Quando estiver pronto, meu anjo."

Aziraphale se levantou, olhou ao redor, pensou em umas palavrinhas que ele achou que rimasse, e juntou tudo em uma dancinha estranha.

~Você estava certo, você estava certo, eu estava errado, você estava certo.~

Crowley bateu palmas.
Aziraphale se sentou ao lado do anjo caído.

"Me arrependo de ter falado que sua tentação era impossível de resistir."

O caído riu.

"Eu te amo." Ele sussurou.

"Oi?"

Crowley se aproximou da orelha de Aziraphale e disse.

"Eu amo você. Vamos construir nosso próprio paraíso. Nosso próprio Jardim do Éden. Só seu e meu."

"Mas, e seu trabalho aqui?"

"Os humanos não são eternos como nós. Eles podem se sentir infinitos criando valor a coisas sem sentido. Mas, o que é mais precioso em viver, é poder passar todo o tempo com alguém que te entenda e te ame, e eu te amo."

Aziraphale e Crowley se completaram com um beijo. O beijo que poderia acarretar um dilúvio com as lágrimas dos anjos, porém o beijo mais aguardado por toda uma década e dois meses.

Ambos necessitavam um do outro.
Era mais que paixão, era amor.
Suas almas estavam ligadas desde suas criações.
Ninguém sabe se isso foi outro dos mirabolantes planos do Criador ou não, só o que se sabe é que essas almas prometeram nunca mais se separar. Não agora que finalmente estavam juntas de novo.

Mais para frente, quando o casamento foi inventado, Crowley e Aziraphale decidiram se casar. Ambos hoje em dia são casados, e tentam se passar como humanos, se misturando com a civilização.

Seu Jardim do Éden, seu paraíso, é um ao outro.

Agora nos dias atuais.

"Posso te levar para um jantar no Ritz essa noite?" Crowley perguntou.

"É uma oferta tentadora, querido, mas vou ter que negar."

"O que aconteceu com aquele papo de que minha tentação era impossível de resistir?"

Aziraphale riu.

"Uau, você ainda lembra disso?"

"Você gravou suas palavras no meu coração, não conseguiria me esquecer delas nem se eu tentasse. E não foge do assunto."

O anjo fez carinho no cabelo de seu marido.

"Estou brincando, amor. Nunca recusaria um jantar com você, principalmente no Ritz."

Eles se beijaram e foram até seu restaurante favorito, onde milagrosamente a mesa em que eles sempre comem estava vazia.

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