Luta Desleal

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Se Mal tivesse que dizer do que mais gostava em Auradon, passaria o dia inteiro fazendo uma lista de tudo que não fosse “detestável” na nova escola. Para começar, o colégio não ficava num antigo calabouço úmido e fedorento como Dragon Hall, nos confins da Ilha dos Perdidos.

Mal estava impressionada sobretudo com as aulas de artes, nas quais pintava feliz da vida telas cheias de paisagens misteriosas envoltas em neblina, com castelo sombrios e sinistros, em vez de cenas delicadas de pôr do sol e natureza do sol e natureza mortas, como preferia o resto da classe. Como alguém podia gostar de pintar um cesto de frutas sem graça? Isso ela nunca conseguiria entender.

Mas ninguém ali se importava com o que o outro estava pintando de “certo ou errado” toda arte era válida no estúdio de artes.

Jay estava acostumado a escapar de lojistas irritados e donos de bazar furiosos que notaram suas preciosas mercadorias sumindo nas mãos daquele ladrão superveloz de gorro vermelho e colete roxo e amarelo. Perto disso jogar tourney era fichinha para ele. Pelo menos não tinha que desviar de tomates podres e ouvir ameaças de esquartejamento enquanto ziguezagueara em direção ao gol, tentando se manter longe da chamada zona da morte, a área listrada nas cores vermelho e branco ao meio do campo. A tarde estava perfeita para treinar, o céu azul sem nenhuma nuvem, as árvores verdes e exuberante em volta do campo. As arquibancadas estavam praticamente vazias, fora alguns alunos matando o tempo com os amigos ou fazendo lição de casa, e as líderes de torcida, de blusa amarela e saia azul, ensaiando sua coreografia na lateral do gramado.

Quando o chão começou a tremer sob seus pés, Jay nem ligou. Correu para a esquerda, agarrou a bola com o taco, abaixou ao passar pelos canhões carregados e se atirou espetacularmente enquanto lançava a bola direto para o fundo da rede. Ergueu os braços em sinal de vitória e se jogou de joelhos, escorregando até parar, no exato momento em que as vibrações intensas também cessaram. Um leve sorriso de satisfação surgiu lentamente em seu rosto. Fios bagunçados de seu cabelo comprido e escuro estavam colados à testa e ao pescoço, e o uniforme quase pingava de tanto suor. Terremotos não o assustavam. Nada podia impedi-lo de correr o mais rápido possível em direção ao gol.

A vida toda, Jay teve que usar os pés ligeiros e reflexos rápidos como relâmpagos para surrupiar e encher, à custa dos outros, as prateleiras da loja de quinquilharias do pai. Mas aqui, na Escola Auradon, esses talentos lhe garantiram um lugar cobiçado no time de tourney.

Algumas líderes de torcida que ensaiavam na faixa lateral gritaram o nome de Jay entusiasmadas. Ele deu um salto e tirou o capacete, provocando risinhos nas meninas, que agitaram ainda mais os pompons.

Jay foi até a beira do campo para pegar uma garrafa de água.

- Bem-vindo ao time – o treinador deu tapinhas em seu ombro e passou para falar com Carlos.

- Grande jogo, cara – disse Chad. O filho loiro e mimado da Cinderela não costumava ser muito simpático em campo, mas talvez o príncipe bonitão tivesse algo mais na cabeça além do cabelo arrumadinho. Chad estendeu a mão, Jay a apertou, ainda que meio desconfiado.

- Valeu, mano.

- Se bem que qualquer um consegue ganhar do Herkie – Chad riu, apertando a palma da mão de Jay e apontando com a cabeça para o filho de Hércules perto do gol. – É todo bondoso, mas tem pé chato, tá ligado?

Herkie era tão forte quanto seu pai e tinha músculos suficientes para demonstrar isso, mas não era o mais rápido em campo. Mesmo assim, Chad teve sorte de ele estar longe demais para ouvir o que estava dizendo.

- Então você quer dizer que faria igualzinho? – perguntou Jay, com o filho da Cinderela apertando sua mão.

- De olhos fechados – disse Chad, chacoalhando a mão do colega com força para cima e para baixo e mostrando os dentes num sorriso convincente – O negócio é o seguinte, Jay é fácil se esquivar de um canhão, mas no tourney você deve tomar cuidado com aquilo que não está esperando.

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