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Quinta-feira

Dessa vez, fui a primeira acordar. Família era um pilar importante para mim e decepcioná-los era a pior coisa que eu poderia proporcionar a eles e a mim própria.
Então, fiz um trabalho exemplar, carreguei caixas como nunca e esfreguei a lataria do caminhão como jamais. Rarity, para variar, nos ajudou também. E, naquele caso, ela estava mais disposta a sujar as mãos do que em dias anteriores.

Quando acabamos, estávamos completamente molhadas, uma parcela era de água e de sabão e a outra de puro suor. Não demorou muito para que a Citygirl começasse a se queixar disso.

— Você trabalhou tanto que quase pode ser considerada uma Apple! -Bloom proclamou sem filtros.

Aquilo foi suficiente para que as reclamações de Rarity desaparecessem e um sorriso afetado surgisse.

— Obrigada pela ajuda, meninas. -Vovó Smith anunciou. -Acho que agora já podemos nos deliciar no café da manhã.

— Yup. -Mac disse. -Valeu, AJ... E  french também.

Assenti com a cabeça e senti que aquilo foi nosso jeito de fazermos as pazes.

French? -Rarity murmurou num sussurro confuso. Ri.

Apple Bloom disparou na frente. Em seguida, eu e minha amiga começamos a caminhar para o centro do CBC lado a lado. A pálida entrelaçou nossos braços. Olhei para ela instintivamente, mas ela não pareceu nem perceber. Foi um gesto natural.

— Sua família parece tão legal... -anunciou.

Perguntei-me momentaneamente por que havia notado seu contato e o porquê de ter sido tão relevante. Afinal, não era incomum andar assim com as Rainbooms também.

— Tão unida. -continuou.

Não conseguia parar de prestar atenção naquela sensação.

Maciez. Calor. Arrepio.

— Quem me dera ser, de fato, uma Apple. -brincou. -Mas se você já é ciumenta com as amigas, não quero nem imaginar com a família.

Estava concentrada demais no tato para dar espaço à audição, ou à visão ou a qualquer outro sentido que não aquele.

— AJ? -Rarity chamou. -Applejack.

— Hm? -voltei minha atenção a ela.

Estranhamente, fiquei aliviada por saber que ninguém tinha acesso a minha mente senão eu.

— Você ouviu o que eu disse?

Parei para pensar. Eu ouvi, só não tinha prestado atenção. Forcei-me a relembrar.

— Ah, sim. E-escutei. -não sabia exatamente como responder. Então, mudei de assunto: -Ei, quando for se trocar, vê se não some. Vamos tomar café juntas, tá? Quero dizer, tipo, todas nós. Rainbooms.

Rarity parou seus passos e arregalou os olhos ao ouvir o nome do grupo. Ficou tão imóvel que parecia até que qualquer mínimo movimento dela me faria arrepender e voltar atrás com o que acabara de falar.

A verdade era que o fato de ela ter respeitado meu espaço com minhas amigas despertou certa admiração em mim. Já estávamos no final das férias, as meninas estavam prestes a irem embora, tínhamos pouco tempo. Não fazia mais sentido afastar Rarity e a privar da convivência com as melhores pessoas do mundo, ainda mais depois de descobrir que estava passando por uma barra tão pesada. E, para ser sincera, quando Rarity se ausentava, por mais que acreditasse que não a queria ali, irregularmente sentia sua falta.

All at Once [Rarijack]Onde histórias criam vida. Descubra agora