Capítulo 6: Uma premonição

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Apaguei rapidamente e sonhei com meu finado avô. Estávamos no mesmo local onde eu encontrei o talismã verde. Seu corpo estava deitado no meio da sala, podre e cheio de vermes, mas quando eu cheguei perto ele se levantou e começou a gritar comigo.

"Saia daqui! Vá embora enquanto pode! Você vai morrer! Você vai morrer como eu!"

Acordei suando frio. Não que eu tivesse ficado com medo, mas a visão foi horrenda e a atmosfera do sonho me deixou preocupado. Me virei e Jessy não estava mais do meu lado. Obviamente, pois quando fui olhar as horas já eram quatro da tarde. Acho que nunca dormi tanto. Tomei um banho longo sem ninguém aparecer no quarto. A casa estava muito silenciosa, mas mesmo assim continuei meu banho sem estranhar nada. Terminei de me vestir e fui em direção a cozinha. Não havia ninguém lá. O silêncio da casa estava me deixando preocupado e temeroso. Andei pelos cômodos e não achei ninguém. Decidi ir ao pátio e ele estava completamente limpo e vazio. Eu não estava entendendo nada, mas imaginava. Todos os empregados abandonaram a casa naquela noite, quando me recusei a ir com Honorato depois dele negar a ida de Jessy conosco. Eu não iria abandoná-la por nenhuma pesquisa do mundo. 

Ele se foi levando os talismãs e Saulo foi o acompanhando prometendo voltar em breve. Avistei Mary ao longe em um dos galinheiros colhendo ovos e Guiller do outro lado, lidando com alguns cavalos. Entrei novamente e fui em busca de comida, mas o pesadelo que tive com meu avô não saia da minha cabeça. Passei um café e enquanto isso vi Antônio, o segurança de Jessy, chegando de caminhonete com muitas caixas de mantimentos. 

— Boa tarde, patrão. — Ele disse entrando na cozinha com algumas sacolas.

— Boa tarde, chefia. Cafézinho? — Ofereci.

— Não, obrigado. Talvez depois de descarregar as compras...

Acenei enquanto ele voltava em direção ao carro. Nisso Mary entrou e assim que me viu perguntou:

— Eggs? I can prepare it for you. — Ela se ofereceu para me fazer um lanche apontando para os ovos e o pão que ela tinha feito mais cedo.

— Yes, please! — Eu aceitei.

 Enquanto eu tomava um café fresco e comia pão com ovo, Guiller entrou na cozinha triste e pediu minha atenção.

— Felipe, me desculpe te interromper, mas venha ver isso, por favor.

 Ele estava com as mãos mal limpas de sangue e com um semblante sofrido.

— O que aconteceu? Que cara é essa?

— Venha ver... Não sei nem o que dizer... Não sei como falarei isso a senhorita... Venha.

Ele me levou até o estabulo e quando chegamos lá já me deparei com muito sangue para todo o lado. Todos os cavalos estavam feridos. Um quase perdendo uma pata e no ultimo cocho um dos cavalos estava completamente picoteado. Eu não conseguia imaginar que tipo de monstro faria aquilo. O sangue daquele cavalo assustava os outros. 

— Como vou contar isso para a senhorita? Além do fato de que todos os capatazes abandonaram a fazenda depois de ontem a noite. 

— Fugiram com medo de alguma represália de Honorato? — Perguntei olhando tudo aquilo.

— Vai saber... Saulo que deve saber melhor. Mas ele foi junto... — Ele me disse enquanto colocava pedaços do animal em um carrinho de mão.

— Você acha que um deles fez isso?

— Obvio. Malditos! Coitado desse animal...

Com o estomago embrulhado comecei a ajudá-lo. Então Antônio chegou e ao ver tanto sangue fez o sinal da cruz.

— Puta que pariu. O que aconteceu aqui? — Ele perguntou apavorado.

— Alguém de muita má indole... A visita dos indios ontem rendeu. — Respondi.

— Falando nisso... Eu vou embora. Tem algum lance rolando aqui. Eu não tenho conseguido dormir a noite. Essa floresta... A casa... Fazem uns barrulhos estranhos... — Antônio falou enquanto jogava agua para limpar o chão.

— Precisamos de você aqui, cara. Eu sei que as coisas estão meio bizarras, mas... — Ele me interrompeu.

— Meio? Fala sério! Um pavão centenário com olhos de lanterna que brota lanças do nada aparece aqui e você fala "meio"? Vai tomar no cu. Essa é minha ultima noite aqui. Pensei bem e vou falar com a dona Jessy assim que ela aparecer.

E assim ele fez. Assim que Jessy se levantou ele a chamou para conversar. Ela ficou muito triste mas aceitou e pagou a ele seu ordenado e um pouco a mais. Apenas pediu para que ele mandasse alguém para o lugar dele, caso soubesse de alguém precisando de emprego. Logo veio a hora do jantar e todos nós sentamos a mesa da cozinha para cear. No meio da janta, Mary solta uma frase em português.

— Acho melhor irmos embora.

— Olha! Mary you speak portuguese now? — Jessy sorriu.

— I don't know. — Ela falou sério.

— Não vamos embora. Aqui construiremos algo bom! Só estamos em uma fase ruim.

Ela olhou para Jessy sem entender muito e acenou com a cabeça.

— Ok, miss.

 Antônio jantou e assim que acabou, ficou esperando um amigo ir buscá-lo, mas esse cara não apareceu. Já era bem tarde, então ele decidiu que ia dormir e de manha Guiller o levava até a cidade. Eu já estava deitado nessa ocasião, mas não consegui dormir de imediato. A lua estava muito alta e a luz dela transpassava um pouco a cortina. Adormeci sem perceber e fui acordado por sons de gritos ao longe. Eram muito abafados. Jessy não estava na cama. Fui procurar por Guiller e também não o encontrei. Pela janela do corredor eu pude notar que o som vinha da floresta. Um homem gritava agoniado. Parecia Antônio. Não sei porque, peguei uma arma e corri até o portão da fazenda. Imaginei que uma onça podia estar atacando algum indio e corri ajudar. Mas ao me aproximar do portão ouvi inumeros gritos e sons vindo de indios e um grande som como de uma fera me apavorou de modo que cai sentado para trás. Vi muitos indios correndo por dentro do mato e fiquei ali  olhando eles passarem correndo. Eu respirava pela boca, completamente em pânico, com medo do que poderia estar acontecendo. Foi então que duas pequenas centelhas verdes brilharam no completo escuro do mato, que contrastava com o luz dos postes no portão. Eram os olhos de Honorato que me olhavam fixo. Me levantei e fiquei olhando sem saber o que fazer. Ele se aproximou, seu corpo era de uma cobra imensa que quase ficava de pé. Ele silvou quase encostado no meu rosto e então eu pude ouvir a voz dele saindo da cobra.

— Venha comigo. Não lhe darei mais nenhuma chance. A morte vai te achar em breve. Só posso te proteger se você vier comigo. 

— Não posso deixar a Jessy.

— Ela não é uma de nós. Você pretende morrer por ela? Se é assim... Adeus! 

A cobra investiu contra mim, mas me atirei na terra e corri. Entrei dentro da casa e quase que não consigo fechar a porta. Se ele quisesse ele teria me alcançado, mas pelo que entendi quis apenas me assustar. Corri procurar Jessy. Olhei em todos os comodos e quando vi Honorato tinha ido embora e os gritos haviam cessado. Depois de muito procurar encontei Jessy dentro da dispensa segurando o corpo degolado de Mary no colo. 

— Amor! — Ela gritou desesperada. — O assassino da minha familia é Guiller! Ele matou todos! Eu vi ele matando a Mary! 

Horror Na FlorestaOnde histórias criam vida. Descubra agora