Son Heung-min
Na manhã seguinte à desditosa cena que protagonizei naquele bar - e ao meu primeiro encontro com aquele homem -, extraordinariamente, após o despertar, senti-me bem disposto e, na medida do possível, sossegado.Parecia que, de alguma forma, ter descoberto que Hyu-jin também mantinha seus segredos - embora os dele não pudessem ser, nem ligeiramente tão compromeredores quanto os que eu guardava - me proporcionasse certo senso de alívio. Ilusoriamente, manti pra mim mesmo, à sete chaves, a conjuração de que, talvez, pudéssemos nos compreender muito melhor do que fazíamos no presente.
Assim, depois de me arrumar, tomar café e, serenamente, separar algumas vestes para levar para minha esposa, cumpri a promessa que havia feito à minha sogra na noite anterior e cheguei em sua casa logo cedo, prontamente a acompanhando no caminho ao hospital, onde meu sogro permanecia internado sob observação. Ao chegarmos lá, não tivemos que esperar pelo médico responsável por pouco mais de uma hora e, logo, recebemos os papéis que confirmavam a dispensa hospitalar do Sr. Lee e, correspondentemente, a receita dos antibióticos que o mesmo deveria tomar para tratar a Pneumonia.
Por outro lado, contestante às minhas expectativas prévias, a reunião breve e quase monossilábica - bem como a insípida troca de olhares envergonhados e questionadores - que mantive com Hyu-jin durante o decorrer do processo, não fora nada atenuante aos meus conflitos internos. Ela, nem ao menos, parecia encabulada ou aflita em relação ao confronto que, certamente, teríamos quando sozinhos. Dissimuladamente, a versão nova - e ainda desconhecida à mim - da mulher que eu tinha como esposa simplesmente recebeu a muda de roupas que havia trago em meio à um encurtado agradecimento. E, então, com uma agilidade invejável, despediu-se de nós na saída do local, informando que faria suas higienes e se trocaria em um dos vestiários reservados para os funcionários do seu trabalho.
Dessa forma, somente à noite, tive alguma oportunidade para iniciar uma conversa sobre o ocorrido. Durante o diálogo - que, se fosse ser sincero, mais parecia um monólogo estendido e pretensioso de sua parte -, não a acusei imperiosamente de nada, somente escutei as justificativas que me foram oferecidas por ela. Suas palavras resumiram-se em uma enxurrada de dizeres sobre como sua saída àquele tipo de estabelecimento foi um evento único e, em suma, por minha causa.
Sim, ela fez um bom uso desse argumento passivamente acusatório. Segundo a mesma, a presença em um ambiente que dizia ser “contraditório às nossas crenças” havia sido, meramente, uma demonstração da sua preocupação comigo e mais uma tentativa de garantia sobre a promessa de entrevista de emprego que o tal Richarlison havia feito para mim.
O que, intimamente, me irritara naquilo tudo foi a realização do quão hipócritas Hyu-jin e eu poderíamos ser, quando preciso. Porque, sob uma perspectiva, ela fazia parecer tão fácil se desprender de qualquer noção de responsabilidade, ou autocrítica. Enquanto eu, sob outra óptica e em contraponto à descoberta de uma mentira sua, quase sentia inveja por essas atitudes um tanto quanto egoístas. Pensei que, certamente, iria me sentir muito mais leveza em meu âmago, se conseguisse agir mais como ela.
Isso, quase inteiramente, vinha da constatação tardia de que ver Richarlison pessoalmente me impactara mais do que poderia imaginar. Naquele dia, deixei de lutar com tanto afinco e me permiti pensar nele com mais fluidez. Não fiz nada para aumentar minha noção de culpa, mas também não me desesperei em vão.
E, em uma das noites posteriores, quando Hyu-jin me procurou na cama para que cumpríssemos nossas obrigações conjugais, a recebi com o mesmo comportamento contido de sempre: olhos voltados para o teto, membro com dificuldade em ganhar excitação e músculos retesados. Também, me sentia acompanhado por uma vontade louca de me soltar e nos poupar daquelas ações nada prazerosas. Mas, principalmente, tinha medo de fechar os olhos e sonhar que era outra pessoa que compartilhava aquele momento comigo, e que ele conseguia transformar o anterior martírio em deleite.
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Illicit Affair - 2son
Fanfiction"Me sentia dopado. Imagens de Richarlison preenchiam minha mente de uma forma vertiginosa. Sua voz me percorria como em uma carícia. Fiquei chocado quando me dei conta da vontade que sentia de me voltar e, ao menos, ficar olhando para ele." [ Inspir...