A mata era fechada e úmida. Coqueiros e bananeiras estendiam-se para as alturas, em meio a cipós e trepadeiras, enquanto samambaias e outras plantas tropicais tomavam conta do chão. Foi preciso menos de cinco minutos para que Patrick Hall freasse o passo.
— Poeta — chamou.
— Sim, senhor! — respondeu, levando um susto.
— Quero que vá na frente. É o único que pode nos proteger.
O moleque pintor baixou a cabeça e analisou o próprio corpo, desengonçado e desnutrido. Fez uma careta.
— Tem certeza?!
— Você é claramente a primeira opção.
— Nem eu seria minha primeira opção.
Patrick Hall empurrou-o para a frente da fila.
— Use sua visão de longo alcance e guie nosso caminho. Caso veja algo que pareça suspeito, avise imediatamente.
Algo suspeito. Poeta virou-se para frente e deparou-se com a mata fechada. Ele sabia que florestas tropicais eram o bioma favorito das mais estranhas espécies. Hall deu tapinhas amigáveis em suas costas.
— Vamos em frente, homem.
Isso não foi tão encorajador quanto o senhor pensa. De pernas trêmulas, Poeta engoliu em seco e colocou Cabuse em frente aos olhos. Deu um passo. Então dois. Quando se deu conta, já havia se passado quase uma hora desde que os Saqueadores da Barra adentraram a floresta. O céu estava escuro e as árvores mais altas balançavam com o vento. Jack sentiu um calafrio. A tempestade estava chegando. Cutucou Kim.
— Código azul.
Kim, apesar de preocupada, manteve a postura.
— Vou avisar o Hall.
Poeta caminhava olhando majoritariamente para o chão, indicando onde poderiam pisar ou não. Em meio a tanto tédio, Caspar olhava ao redor à procura de novas ervas e venenos para testar em seus dardos. Desde o fim da batalha na Ilha da Barracuda, King tinha se oferecido a ensiná-lo mais sobre o assunto e ele não podia estar mais animado.
— Para! — gritou Poeta.
De supetão, a fila inteira freou, causando um efeito dominó bem em cima do rapaz da pólvora, que acabou achatado. Em meio a cotovelos e traseiros, Caspar fez uma careta.
— Isso já está perdendo a graça.
Mas Poeta não podia estar mais concentrado. A missão de cuidar da vida da tripulação tinha sido dada a ele, então faria o seu melhor, com a maior cautela possível. Por isso que, quando viu o que viu em sua frente, seu plano voltou à estaca zero.
— Capitão, algo suspeito em frente.
— O que foi?! — perguntou Hall.
Poeta tirou Cabuse e estreitou os olhos. Que estranho.
— Tem... uma casa, logo ali.
O quê?! Patrick Hall abriu espaço por entre seus tripulantes, puxando a fila com Poeta logo atrás. Mais alguns passos até deparar-se com um chalé de madeira em meio às árvores. Seu teto era de palha e havia uma varanda com uma escada em frente à porta.
Bem convidativo, pensou a mente sarcástica de Kim.
Convidativo até demais, pensou a mente desconfiada de Poeta.
Mas já era tarde demais. Convidativo era tudo o que precisavam naquele momento, com a chuva ameaçando cair. Hall subiu os degraus e levantou o punho, mas não bateu na porta. Ao invés disso, partiu para seu "plano reserva" de todo dia.
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Nadia Keane 3: A Corrida das Ilhas Gêmeas (DEGUSTAÇÃO)
AdventureUm garoto procurado; uma pirata mascarada. Um artefato lendário; uma corrida. Há boatos em cada ilha, sussurros em cada um dos cantos nos onze mares sobre uma relíquia da era de Black Hook, uma luneta mágica capaz de ver através das paredes e enco...