96 - Céticos São Os Primeiros a Morrer

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A mata era fechada e úmida. Coqueiros e bananeiras estendiam-se para as alturas, em meio a cipós e trepadeiras, enquanto samambaias e outras plantas tropicais tomavam conta do chão. Foi preciso menos de cinco minutos para que Patrick Hall freasse o passo.

— Poeta — chamou.

— Sim, senhor! — respondeu, levando um susto.

— Quero que vá na frente. É o único que pode nos proteger.

O moleque pintor baixou a cabeça e analisou o próprio corpo, desengonçado e desnutrido. Fez uma careta.

— Tem certeza?!

— Você é claramente a primeira opção.

— Nem eu seria minha primeira opção.

Patrick Hall empurrou-o para a frente da fila.

— Use sua visão de longo alcance e guie nosso caminho. Caso veja algo que pareça suspeito, avise imediatamente.

Algo suspeito. Poeta virou-se para frente e deparou-se com a mata fechada. Ele sabia que florestas tropicais eram o bioma favorito das mais estranhas espécies. Hall deu tapinhas amigáveis em suas costas.

— Vamos em frente, homem.

Isso não foi tão encorajador quanto o senhor pensa. De pernas trêmulas, Poeta engoliu em seco e colocou Cabuse em frente aos olhos. Deu um passo. Então dois. Quando se deu conta, já havia se passado quase uma hora desde que os Saqueadores da Barra adentraram a floresta. O céu estava escuro e as árvores mais altas balançavam com o vento. Jack sentiu um calafrio. A tempestade estava chegando. Cutucou Kim.

— Código azul.

Kim, apesar de preocupada, manteve a postura.

— Vou avisar o Hall.

Poeta caminhava olhando majoritariamente para o chão, indicando onde poderiam pisar ou não. Em meio a tanto tédio, Caspar olhava ao redor à procura de novas ervas e venenos para testar em seus dardos. Desde o fim da batalha na Ilha da Barracuda, King tinha se oferecido a ensiná-lo mais sobre o assunto e ele não podia estar mais animado.

— Para! — gritou Poeta.

De supetão, a fila inteira freou, causando um efeito dominó bem em cima do rapaz da pólvora, que acabou achatado. Em meio a cotovelos e traseiros, Caspar fez uma careta.

— Isso já está perdendo a graça.

Mas Poeta não podia estar mais concentrado. A missão de cuidar da vida da tripulação tinha sido dada a ele, então faria o seu melhor, com a maior cautela possível. Por isso que, quando viu o que viu em sua frente, seu plano voltou à estaca zero.

— Capitão, algo suspeito em frente.

— O que foi?! — perguntou Hall.

Poeta tirou Cabuse e estreitou os olhos. Que estranho.

— Tem... uma casa, logo ali.

O quê?! Patrick Hall abriu espaço por entre seus tripulantes, puxando a fila com Poeta logo atrás. Mais alguns passos até deparar-se com um chalé de madeira em meio às árvores. Seu teto era de palha e havia uma varanda com uma escada em frente à porta.

Bem convidativo, pensou a mente sarcástica de Kim.

Convidativo até demais, pensou a mente desconfiada de Poeta.

Mas já era tarde demais. Convidativo era tudo o que precisavam naquele momento, com a chuva ameaçando cair. Hall subiu os degraus e levantou o punho, mas não bateu na porta. Ao invés disso, partiu para seu "plano reserva" de todo dia.

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⏰ Última atualização: Dec 07, 2023 ⏰

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Nadia Keane 3: A Corrida das Ilhas Gêmeas (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora