Curiosidade é mais contagioso que gripe. Não tardou para que todos os Saqueadores da Barra se pendurassem na borda do navio para olhar de perto aquele pedaço de terra. Patrick Hall segurou o chapéu, maravilhado. Poeta folheou suas anotações, mais confuso que marujo bêbado em terra firme. Calculava coordenadas através de seus óculos.
— O quê? — Virava a página. — Não, não pode ser. O porto mais próximo é o de Andovas. Não era para ter uma ilha aqui.
— Parece que você tem que atualizar suas anotações, meu chapa — disse Caspar, descansando a mão em seu ombro.
Poeta fechou o caderninho.
— O Mar Fechado não possui ilhas e todo mundo sabe disso, é uma passagem estreita de navios e de correntes traiçoeiras — disse, confiante de suas palavras. — O capitão Hall vai perceber que ancorar em um lugar como esse é imprudente e, então, vamos zarpar para longe daqui.
— Homens, preparar para ancorar! — gritou o capitão.
— O QUÊ?!
Aquilo era demais para o coraçãozinho de Poeta. Indignado e um pouco desesperado foi correndo até seu superior.
— Mas, mas capitão... essa ilha não consta nos mapas.
— Hora de atualizá-los, então — disse Hall, sorrindo e pondo seu chapéu na cabeça de Poeta. — Parece que fomos os primeiros a descobrir esse lugar. Não é excitante?!
— Na verdade, não.
Patrick Hall caminhou de volta para o convés e Poeta o seguiu de perto como um camundongo assustado.
— Mas o senhor não acha que, por não ter sido explorada ainda, pode ser perigoso para a tripulação descer em terra firme?
— Por isso, esse vai ser o SEU TRABALHO.
O garoto limpou as orelhas. Só podia ter ouvido errado.
— ... como é que é?
— Você é o cartógrafo, faça o que sabe fazer de melhor. Quero que ande pela ilha e mapeie o que puder.
O capitão olhou para algum ponto distante e mergulhou em seus pensamentos, hipnotizado pelas possibilidades.
— Com sorte, esse lugar será perfeito para esconder alguns tesouros — sussurrou para si mesmo e fechou-se dentro de sua cabine.
Poeta já estava acostumado a ser contrariado pelo bando de idiotas com quem convivia diariamente, mas seu capitão?! Levou a mão à testa que doía de tanto pensar, até relembrar que estava sem boina. A pobrezinha tinha sido empalhada na parede como o prêmio cruel de um caçador de recompensas em um bar nojento de trocas e agora levava um belo buraco no meio. Caspar, o bisbilhoteiro, que obviamente tinha ouvido toda a conversa, aproximou-se.
— É, amigão — suspirou — Alguém vai fazer hora extra no dia de folga.
Poeta bufou.
— Você vem comigo.
— O QUÊ?! — Caspar franziu o nariz. — Eu não, sai pra lá. Isso é trabalho de gente inteligente. Eu vou é abrir um coco e procurar umas garotas na praia.
Poeta retirou sua boina do bolso e esfregou na cara do amigo.
— Você está me devendo uma.
75 graus Norte, 18 graus Leste. Ilha não catalogada.
— Içar âncora! — gritou Kim.
— Ahoi!
Caspar correu para seu posto e Jack terminou de girar o timão. Agora não tinha mais volta. O Nadia Keane estava nas margens de uma ilha completamente sem nome. Poeta não conseguia entender como a tripulação estava tão animada sobre isso. Patrick Hall foi o primeiro a descer. Pulou, suas botas pretas indo de encontro com a areia macia. Olhou ao redor. Parecia uma praia deserta e silenciosa. Não havia colinas ou penhascos, apenas uma floresta tropical mais adiante. Cesco foi o próximo. Tirou a camisa, deixando sua pele amarela brilhar ao sol, pendurou-se nas cordas e lançou-se para fora do navio.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nadia Keane 3: A Corrida das Ilhas Gêmeas (DEGUSTAÇÃO)
PertualanganUm garoto procurado; uma pirata mascarada. Um artefato lendário; uma corrida. Há boatos em cada ilha, sussurros em cada um dos cantos nos onze mares sobre uma relíquia da era de Black Hook, uma luneta mágica capaz de ver através das paredes e enco...