— Para mim, porque escrever está custando minha sanidade. E minha vida.
(Ser Poe-kinnie é frustrante.)⋅•⋅⊰∙∘☽༓☾∘∙⊱⋅•⋅
Existe um mistério, no mundo da arte, que não é tão misterioso assim. "Como pode um artista odiar a própria arte"? Como se tivessemos que amar cada coisa tal qual fosse nossa maior obra-prima. Para um escritor, é mais fácil ainda agir como se nada nunca fosse um magnum opus.
Quando você vê um quadro, um desenho, uma escultura, uma fotografia, escuta uma música... É fácil de achar bonito e de entender o que está vendo e ouvindo. Nem todos vão ler um livro e personificar uma imagem. É estúpido pensar que rimas raras tem alguma graça a olhos nus. Pessoas comuns preferem ver as pinceladas soltas, o rastro do colorido, a leveza numa pedra, um solo inimaginável...
Não que meus livros e poemas sejam ruins. Eles só parecem tão miseráveis, quando comparados àquilo que as pessoas chamam de "verdadeira arte". E até sei que o que vem de fora não deve afetar tanto, porém... Perde a graça quando seu esforço de horas e mais horas é em vão.
Leitores sofrem tanto, amando um amontoado de palavras que é fácil de odiar. Os escitores sofrem mais, embora, vendo suas próprias criações se tornarem pó em uma prateleira. Faz dias que não consigo completar uma frase sequer, porque nada parece bom o suficiente e não entendo como alguém ainda gasta seus minutos lendo o que eu escrevo.
Deixar a escrita de lado teve consequências boas, eu diria. Tenho mais tempo para Karl e Ranpo-kun, os únicos dois seres que ainda não se cansaram de mim e, confesso, os únicos dos quais ainda não me cansei, também.
Hoje é um dia calmo. A chuva não é tão pesada e relâmpagos e trovões são extremamente esporádicos. O tempo perfeito para ficar a tarde toda no sofá, embaixo de um edredom, assistindo alguma coisa na televisão. E não esqueçam da cereja do bolo: a melhor companhia possível.
O filme de investigação foi algo ao qual não prestei muita atenção desde o início. Cada um dos meus segundos gastei apreciando a pessoa mais perfeita desse mundo — e meu namorado, mesmo que não saiba como fui capaz de chegar nesse ponto.
Ranpo-kun tem um cabelo muito macio, e com cheiro de shampoo de bebê. Eu poderia passar o resto da minha vida acariciando seus fios negros como a pena de um corvo sem nunca me cansar. É algo que ele gosta também, principalmente quando Karl está dormindo — como agora — e ele pode deitar em meu colo sem se preocupar em ter que dividir espaço.
— Ed, — escutei-no chamar baixinho, sem tirar os olhos da tela. — Esse filme é chato. Muito previsível. Não aguento mais fingir que não sei quem é o culpado. Você também acha óbvio, não é?
Suas orbes verdes finalmentente me encararam. Podia dizer que era muito fofo vê-lo levemente irritado por algo tão pequeno. Ele tomou minha mão entre as suas, impedindo que eu continuasse com a simples carícia.
— Sim, é muito óbvio, — concordei, pois não há nada que Ranpo-kun fale que esteja errado. — Eles deveriam parar de produzir esse tipo de filme. Não é surpreendente como afirmam ser.
Ouvi-no murmurar o que poderia ser um "sim", em resposta, e ficamos num silêncio confortável. Seus dedos entrelaçados nos meus, num carinho leve. Não podia evitar olhar para os anéis combinando que ele fazia questão que usassemos; porque, aparentemente, "todos precisam saber que apenas uma pessoa tem o coração de Edgar Allan Poe". Como se já não fosse algo óbvio...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Write - Ranpoe - One-shot
Fanfiction"Como pode um artista odiar a própria arte?" . . . ~ Fluff; ~ Mini angst (?).