eu nao sinto nada. (1)

113 15 15
                                    

Alerta de gatilho: afogamento, trauma de hospital, luto e UTI

Pedro ainda estava um tanto quanto contrariado comigo por eu estar levando ele ao hospital, ele estava acordado e estável, entretanto,eu quis garantir que não havia nenhum risco de uma pneumonia ou algo do tipo.

Apesar de não existir hospital em Targinas,o da cidade o lado não é muito longe, cerca de uns 30 minutos de carro se você não for atrasado pelo transito,oque naquele dia,por algum milagre não aconteceu.

Assim que chegamos no hospital eu estaciono o carro com todo cuidado do mundo porque só o para-brisa desse carro deve valer a minha alma, e eu não to afim de vender minha alma por um para-brisa para o carro de um playboy que nem aquele,mas apesar de ser o playboy mais gato do mundo, ele ainda era um puta de um playboy.

- Peu,você consegue descer sozinho enquanto eu vou pedir uma cadeira de rodas ao segurança?- pergunto enquanto abro a porta do carro saindo em direção a entrada do hospital

- Eu acho que consigo - Ele responde fraco logo depois de tossir

Ele apoia o próprio corpo em seus braços fazendo um esforço pouco fora do comum para se levantar, mas nada muito extraordinário. Em questão de alguns segundos o mesmo já estava de pé com parte do corpo apoiado na porta do carro.

-Eu já volto, não saia daí! - eu digo me virando enquanto vou em direção a porta do hospital, eu não chego a correr,mas ando bem mais rápido do que o comum.

-Oie moço, você consegue me emprestar uma cadeira de rodas? Meu…. Amigo se afogou e ele está meio fraco! - Digo meio confuso, talvez eu também estivesse meio desesperado mas prefiro mascarar aquilo por enquanto.

O segurança apenas assentiu com a cabeça com uma expressão séria e neutra enquanto se virava para pegar a cadeira de rodas, eu dou um passo a frente em direção ao carro para conduzir onde a cadeira teria que ser levada, chegamos bem rápido no carro

Pedro estava pálido, ele já era um pouco mais branco do que o comum mas agora a palidez de sua pele despertava uma certa preocupação,sua boca estava roxa e seu cabelo ainda umido

-Vem cá,pe - digo enquanto vou em sua direção,apoiando seu braço em meu corpo pra que ele tenha um apoio, no estado que ele estava não tinha condição nenhuma dele dar sequer um passo sem ajuda.

Quando Pedro se senta na cadeira, ele começa a ter uma crise de tosse fodida,não era uma tosse comum como a de gripe, era como se ele estivesse se afogando no próprio ar, ele estava com a mão em seu peito,creio eu que na tentativa de controlar sua respiração, a quem eu queria enganar? É extremamente preocupante ver ele naquela situação e não saber oque fazer pra ajudar

Eu corri o mais rápido que pude, sem derrubar a cadeira de rodas até chegar na entrada do hospital, eu tenho no; ao que foram apenas alguns segundos mas a cada segundo que eu via ele daquele jeito sem poder fazer nada era como uma faca entrando em meu peito.

Quando as enfermeiras viram o estado do pedro e o meu desespero sem saber oque fazer, imediatamente tiraram ele da cadeira de rodas e o levaram para a sala do cadastro eu fui logo depois, ainda meio fora de mim mesmo e desesperado, eu já tinha visto mais de um turista se afogar na praia, não era algo que acontecia com frequência, mas de vez em quando uma pessoa ou outra se afogava, por esse motivo eu fiz por conta própria um curso de primeiros socorros,mas no momento em que eu vi Pedro naquele estado,nada disso sequer passou pela minha mente, absolutamente nada passou na minha mente.

Quando eu finalmente consigo processar alguma coisa meus olhos percorrem cada centrimeto daquela sala, eu sabia exatamente onde pedro estava e como ele estava mas eu não queria ver ele, porque eu sabia que iria doer muito.

Quando eu finalmente meus olhos encontram com seu corpo ele esta deitado numa espesse de maca enquanto uma enfermeira mede sua temperatura

-Jesus,ele está fervendo! - a enfermeira diz enquanto olha com uma expressão de surpresa e desespero.

Cada palavra que ela diz soa como um tiro bem na culatra, eu entro em choque e simplesmente não consigo reagir, MERDA,MERDA! EU MATEI O GAROTO.

Fico alguns minutos em choque, ao memo tempo que eu sentia toda a culpa e a tristeza por ver ele assim, eram tantos sentimentos que eu não conseguia sentir nada, era como se algo dentro de mim se incendiasse, apesar de só ter se passado alguns minutos parecia ter passado uma eternidade, me condenando por aquilo, eu sentia como se estivesse pesando 200kg a mais.

-Senhor, o estado do seu amigo é muito grave e ele precisa ser encaminhado pra UTI com urgência, o senhor poderia me acompanhar para preencher o formulário dele e assinar alguns papéis enquanto acontece a internação dele?

Uma lágrima cai de meus olhos enquanto eu ouço tentando prestar atenção no que aquela moça falava, é a primeira vez que eu choro em dois anos, é a primeira vez que eu venho á um hospital a 2 anos, e ao mesmo tempo que a culpa e a preocupação com o Pedro me sufocam, eu ainda lembro dos piores dias da minha vida, que conhecidentemente foram os últimos dias da minha mãe.

A dor de sentir tanta coisa que algo te faz não sentir nada, a dor da perda, e depois dela a dor da culpa.

As proximas duas horas são basicamente um borrão na minha mente, eu lembro de ter feito o cadastro dele, lembro do cheiro de formol que me lembrava do cheiro da minha mãe, lembro de ter visto passarem com o Pedro numa maca duas ou três vezes, e porra ver ele daquele jeito doía muito, eu arrisco dizer que um tiro doeria menos, mesmo que naquela época eu ainda nao tivesse levado um

O Pedro estava na UTI então eu não poderia ver ele naquele momento, apesar de não ser oque eu queria eu decidi voltar e tentar dormir no acampamento, além do fato de eu ter que arranjar uma bela de uma desculpa pra explicar pra minha tia que eu fugi com um garoto pra jantar com ele já que ele não gostava da comida do acampamento e não conhecia nada na cidade, beijei ele em alto a mar e ele se afogou e agora ele tá na UTI, muitas coisas martelavam minha cabeça enquanto eu dirigia aquele carro, mas eu não conseguia processar nenhuma

notas da autora: Oioi gnt, tudo bem? Dps de ler esse capítulo provavelmente não mas enfim, como sempre desejo uma ótima leitura a todos! É o capítulo mais longo até agora mas senti que ele não precisava ser divido em dois, vocês preferem assim ou curtinhos como de costume? Enfim sobre o capítulo em si é um capítulo muito triste e forte pra mim, chorei escrevendo várias partes dele mas é um capítulo que eu particularmente estou muito orgulhosa de ter escrita e acho que vocês vão gostar!

Creditos: o capítulo foi inteiramente escrito por mim e revisado pela desstiellover!!

As Ondas Desse Seu Coração - Pejao Onde histórias criam vida. Descubra agora