Essa é a visão que eu não consigo me acostumar, mas, em contrapartida, me mantém com os pés e a cabeça fixa no presente.O ar gélido beija minha pele, o som do ruído do ar condicionado é o único que se faz presente nessa sala branca, eu engulo seco, preciso tomar uma atitude.
John usa seu jaleco habitual, anotando alguma coisa como sempre, o que geralmente me deixa confuso, não estou dizendo nada, mas, é como se ele soubesse EXATAMENTE o que eu estou pensando.
Talvez contar sobre meu dia ajude em algo.
—Hoje — começo tentando formular uma frase decente, não que eu seja decente — a professora de matemática passou um trabalho para amanhã valendo 100 para aqueles que ficaram com nota baixa no primeiro trimestre — dito vendo seus olhos penetrantes me observando com atenção — me senti um pouco esperançoso, se eu conseguir pelo menos uns 60 nesse trabalho vou passar em matemática — penso em mais algo — e eu também tive que aturar aquele insuportável.
Toda vez que eu menciono minha raiva John dá risada, nunca entendo bem o porque.
—Kyle de novo? — sorri leve ao ouvir suas palavras, ele sabe bem de quem eu tenho um ranço fodido.
Como não ter raiva daquele ruivo mandão com anger Issues que se acha o nerd foda?
—Claramente — rimos — eu só ando com ele ainda porque meus melhores amigos gostam dele — dito me referindo á Cartman e Kenny — e detesto que para chegar aqui eu preciso passar pela rua da casa dele — reviro os olhos.
Ruivo idiota.
—E aquele exercício que te passei semana passada? — questionou e eu começo a refletir.
Um sorriso triste se forma em minha boca, lembrando da visão que tive antes de vir aqui, era para ela me fazer focar no presente, mas, me fez viajar de volta para o passado.
—Vi uma Camélia Branca na calçada do Kyle — bufo — era linda, os raios de luz batiam nas pétalas e refletiam uma espécie de beleza extraordinária — então meu sorriso se desfaz — me fez lembrar dela.
Não a enterramos em um cemitério qualquer, levamos o seu corpo velado para um jardim de camélias (eram suas flores favoritas) brancas e a enterramos lá, para que descansasse em um lugar com um cheiro doce como sua personalidade.
O mundo não é justo, ele deixa criancinhas ficarem perdidas e ainda assistir sua própria vovó tendo um acidente vascular cerebral. Tudo porque os Marsh não sabem aguentar sua tristeza sem se apoiar no álcool.Camélias tem um significado diferente pra mim.
—Você está se saindo bem, Marsh, e exercício é útil para você que vive com a mente no passado e no futuro — O passado é fixo não vai mudar, o futuro é grande ainda não nos pertence, mas, existe um lugar onde as estrelas brilham e seu gatinho, o Nadameru, mia.
Sorrio um pouco com a leveza de lembrar do meu gatinho cinza, ele é um filhote e já faz os meus dias serem mais calmos, ele é preguiçoso e ama se deitar comigo para dormir.
—E as almas cansadas se recuperam — John continua me fazendo suspirar com um pouco de esperança — um lugar onde com um pouco de teimosia, você consegue encontrar beleza no meio do caos nem que seja algo tão efêmero quanto uma flor — assenti — esse lugar é o presente, nossa casa é o presente e a gente deve contemplar essa residência, não só porque ela é linda e cheia de vida, mas, porque tem uma lição escondida nela — me vejo curioso.
—E qual é?
—Você vai me dizer nas próximas sessões, até terça que vem, Marsh.
Fui para casa cansado, chegando e nem sequer passando pela cozinha, minha mãe não ligaria para como foi a sessão, estava ocupada demais tentando fazer com que Randy Marsh quisesse dormir com ela naquela noite.
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A PARTE DIFÍCIL
RomanceEssa é a parte que ninguém conta, a parte difícil, a que tem a marca das minhas cicatrizes.