Reescrevendo as estrelas

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"(...) Eu ouvi falar de um amor que vem uma vez na vida e eu tenho certeza de que você é esse amor meu, porque eu estou em um campo de dentes-de-leão, desejando em todos que você seja minha."

- Dandelions, Ruth B.


Era o dia do meu casamento.

Em tese, o dia mais feliz da minha vida. Contudo, encarando meu próprio reflexo no espelho, enquanto a cabeleireira enrolava meu cabelo bem como Chiyo lhe ordenara, eu percebi que não havia ao menos uma fagulha de felicidade embaixo de toda a maquiagem no meu rosto.

Nada. Apenas um vazio.

Eu não lembrava exatamente como os últimos dias haviam passado. As coisas que eu lembrava eram de ter dormido, ou desmaiado, no chão do meu quarto e depois ter acordado no quarto do hotel onde eu estava agora. Lembrava também da voz de Sasori explicando o porquê de eu ter me mudado — explicação que sequer havia prestado atenção — ou tentando me convencer a comer. Além disso, apenas a insônia que se tornara uma amiga íntima.

Eu não havia tido permissão para sair do quarto naquela semana, não pude ir a minha formatura da faculdade na quinta-feira, não fui permitida a conversar com ninguém, exceto com Chiyo que havia se tornado meu cão de guarda. Entretanto, com o desprezo evidente em meu rosto, ela não havia ousado puxar qualquer assunto comigo, assim nos últimos seis dias eu não havia dito uma só palavra.

Você está linda.

A cabeleireira disse ao finalizar e eu não tive ao menos intenções de responder ao elogio. Porque, definitivamente, eu não estava linda.

Eu me pus em pé e minha boca secou como uma folha de papel quando algumas mulheres começaram ajeitar a saia lisa do meu vestido e o véu que se estendia pelas minhas costas. Eu encarei mais uma vez o espelho, odiando com todas as forças a imagem que ele refletia. Uma boneca. Eles haviam me tornado uma boneca, cujas roupas, cabelo, expressão eles podiam escolher a própria vontade.

Nada era o meu gosto. O meu cabelo enrolado metade pra cima e metade pra baixo, a igreja onde a cerimônia aconteceria, o véu ridículo e principalmente aquele maldito vestido e as luvas que Chiyo me dera pra cobrir as marcas de Kizashi em minhas mãos e antebraços, onde o vestido não alcançava.

Eu encarei meus próprios olhos e tive vontade de gritar, de quebrar o espelho a minha frente e correr até meus pés doerem. Porém, me faltavam forças e eu não tinha escolhas que não fossem permanecer e seguir aquele maldito destino, porque eu havia sido teimosa demais para não escolher quanto tivera chance.

Como uma tola eu desejei não ter que escolher e agora eu estava pagando o preço por essa tolice — e eu não tinha o direito a uma segunda chance.

O som da porta se abrindo ecoou no ambiente. Chiyo enteou, em seguida Hinata, com seu vestido amarelo claro que avó de Sasori havia escolhido para as madrinhas.

Evitei encolher meu corpo quando virei, quando Hinata me encarou e seus olhos se arregalaram conforme suas mãos enluvadas cobriam a boca, surpresa.

Surpresa não porque eu era uma bela noiva, mas sim porque nem toda a maquiagem e vestido elegante escondiam quão deprimente eu estava, assim como quanto peso eu havia perdido. Eu havia emagrecido ao ponto da costureira ter que ajustar o vestido novamente no meu corpo.

Sakura... — Hinata disse com cautela, olhando para Chiyo e depois para mim. Ela se aproximou , os olhos assustados me analisando de cima a baixo. — O que houve? — ela erguntou em sussurro.

Diga o meu nome - SASUSAKU Onde histórias criam vida. Descubra agora