Capítulo 2

542 63 85
                                    

— Mamãe. — A Summer veio correndo até mim, segurando a sua boneca. — Posso colocar na minha mala? Eu prometo que é o último brinquedo!

Ela pulou com empolgação e eu ri.

— Claro que pode. — Assenti.

Meus olhos acompanhavam Summer enquanto ela organizava seus brinquedos com uma determinação que refletia sua personalidade vibrante.

A sala, antes quieta, ganhava vida à medida que ela selecionava e acomodava seus brinquedos na mala. Era um ritual que, apesar de simples, carregava consigo a essência da infância e a habilidade dela em encontrar fascínio nas coisas mais simples.

Sorrindo discretamente, eu admirava a concentração dela, percebendo que, mesmo sem a presença do pai, estávamos construindo juntas uma memória repleta de carinho e cuidado.

Ao refletir sobre o passado, torna-se evidente que Max nunca demonstrou um verdadeiro interesse na Summer.

Sua presença esporádica era superficial, sem a profundidade emocional necessária para construir uma conexão significativa com nossa filha. Era como se ele fosse um espectador distante em um enredo no qual nunca se envolveu verdadeiramente.

Ao longo dos anos, a falta de envolvimento emocional do Max tornou-se mais nítida. Ele não se preocupava em conhecer os detalhes da vida da Summer, suas alegrias e desafios, como se sua paternidade fosse apenas um título vago, desprovido do compromisso genuíno necessário para nutrir um relacionamento significativo com a nossa filha.

O nascimento. Os primeiros passos. O primeiro sorriso. As primeiras palavras. O primeiro dia no primário. Ele não fez parte de nada disso.

Ao relembrar o parto, é impossível esquecer a sensação avassaladora de dor que me envolveu. Naquele momento, a angústia era tão intensa que pensei que poderia não sobreviver.

Era uma dor como nunca havia experimentado, uma luta contra o desconhecido que ameaçava me engolir.

A chegada de minha filha trouxe consigo uma complexidade emocional que eu ainda estava aprendendo a decifrar. Aceitar essa nova realidade tornou-se uma batalha interna, uma jornada árdua para reconciliar expectativas e realidade.

O caminho para aceitar plenamente minha filha foi marcado por altos e baixos, uma viagem que exigiu tempo e paciência.

Além dos desafios internos, enfrentei tormentas sociais. O bullying e a rejeição das amizades me deixaram isolada. As minhas amigas se afastaram e eu me vi sozinha, enfrentando não apenas a jornada de ser mãe, mas também a de lidar com o julgamento e a solidão.

Apenas o meu pai e a minha irmã mais velha ficaram comigo durante todo o processo. A minha mãe também teria ficado, se não tivesse falecido há dez anos atrás.

— Mamãe, só mais essa, tá? — Ela tentou encaixar uma bola na mala e não conseguiu.

— Deixa que eu ajudo você. — Sorri e afastei algumas roupas para liberar espaço.

— Você é muito inteligente. — Ela sorriu, mostrando as covinhas que eu tanto amava.

— E você é... — O toque do meu celular me interrompeu. — Droga. Já volto, filha.

Me afastei dela ao ver quem estava ligando.

Oi, mamãe. — A voz irônica do meu ex namorado ecoou do outro lado da linha.

— O que você quer, Max? — Perguntei irritada.

Que grosseria. Engravidar cedo acabou mesmo com seu senso de humor. — Ele riu e eu respirei fundo, tentando me controlar. — Só queria dizer que eu recebi as fotos da Summer. Ela é bonitinha, não é? Puxou o papai, porque a mamãe... É bem acabadinha.

ONDAS DO CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora