🔸Prólogo🔸

112 18 168
                                    


    As estradas me assombravam... Sim, pois só havia eu, minha mãe e Ethan embarcando rumo ao interior para a casa do vovô. Já ouvi muitas histórias sobre esse lugar, e a maioria delas não era nem um pouco agradável. Eu diria que Harborview é uma cidade esquecida e abandonada em relação ao mundo afora. É muito difícil encontrar alguém que fale dela, tanto que a maioria diz: "Onde fica isso? Nunca ouvi falar desse lugar em toda minha vida..." Aliás, Ethan já havia perguntado para diversas pessoas sobre Harborview, inclusive para sua professora de geografia, que duvidou dele e chamou nossa mãe. Quando a professora soube da verdade, ficou toda sem graça.

   Olhei para meu irmão, que observava a paisagem lá fora, um imenso breu. Já era noite, de madrugada, para ser mais específica. Mal percebi, mas eu já estava o encarando há alguns minutos.

- O que é? - perguntou ele, sem sal.

- Nada - respondi, tentando esconder o desconforto em minha voz.

- Estamos quase chegando - disse minha mãe, tentando soar empolgada, mas a ansiedade era evidente.

  Vamos morar na casa do meu avô porque perdemos nosso pai no ano passado. Além do mais, já estávamos infelizes na nossa antiga casa, então minha mãe viu a mudança para cá como uma oportunidade de recomeçar a vida, ainda mais com um novo emprego.

  Estávamos olhando pelas janelas, vendo a simples, mas bonita vizinhança, ou pelo menos um pouco dela. Estava de noite, bem tarde. Estávamos no carro há mais de quatro horas. Por conta disso, não havia ninguém na rua, só a pouca luz que iluminava as ruas desertas e lisas.

   Dentre todas as casas mais bonitas, minha mãe adentrou com o veículo na casa mais feia do bairro, na minha opinião. Não havia flores e muito menos plantas, só galhos secos e restos de frutas pobres no chão. As janelas estavam quebradas e a casa estava caindo aos pedaços. Deve ser a casa mais velha daqui. Eu não esperava me deparar com uma mansão elegante de dois andares, mas esperava, ao menos, mais um pouco de arrumação, até porque o vovô é comandate da delegacia de Harborview, cujo cargo é de maior patente daqui. Ele tem dinheiro.

- Que droga é essa? - exclamou Ethan, a voz cheia de incredulidade.

- Olha a boca, Ethan! - reclamou minha mãe, virando a cabeça para trás e encarando meu irmão.

   De repente, um barulho seco e alto. Algo caiu no vidro do carro, causando uma imensa rachadura que se espalhou como teias de aranha. Gritamos instantaneamente. Minha mãe perdeu o controle do carro, e eu senti o mundo girar em câmera lenta enquanto o carro derrapava e se chocava violentamente contra uma árvore à beira da estrada. O impacto foi brutal, fazendo tudo ao nosso redor estremecer.

- Mamãe! - gritei, a voz trêmula, o coração disparado no peito.

   Minha mãe estava ofegante, as mãos tremendo no volante. Olhei para Ethan, que estava pálido, mas aparentemente sem ferimentos graves. A adrenalina corria por nossas veias enquanto tentávamos processar o que havia acontecido.

   Minha mãe saiu do carro com dificuldade, ainda atordoada pelo choque. Eu fiz a mesma coisa, com as pernas bambas, e mandei meu irmão ficar quieto no carro. Pela primeira vez, ele me obedeceu, ou apenas não estava com vontade de sair mesmo.

   Quando nos deparamos, a frente do carro estava totalmente amassada. Já no vidro frontal, uma noz havia feito uma enorme rachadura no vidro. Como uma simples noz fez todo esse caos? Quando levei minha mão para tocar no vidro, minha mãe se pronunciou rapidamente.

- Não faça isso! - disse ela, a voz trêmula. - Não sabemos o que pode acontecer.

   Eu a obedeci, recolhendo minha mão imediatamente. De repente, ouvimos um barulho vindo da velha casa de madeira. Um senhor apareceu, vindo em nossa direção com uma longa calça listrada amarela e um roupão de frio marrom. Não conseguia identificar seu rosto, já que estava muito escuro para tal coisa, mas imaginei que fosse meu avô.

O Código dos Mortais Onde histórias criam vida. Descubra agora