Código dos Mortais

🔸 Caminho dos Conflitos 🔸

   Fui a primeira a acordar. Estou morrendo de sono e sinto um pouco de cãibra nos braços e, principalmente, nas pernas. Dormir com Ethan é realmente insuportável e agonizante. Acordei com um chute dele nas minhas costas. Que vontade de socá-lo!

   Deixei-o dormir, apesar de querer empurrá-lo no chão. Só não fiz isso porque ouvi a campainha tocar. Como ninguém havia acordado, imaginei que fosse melhor descer as escadas aveludadas sob meus pés e ver quem poderia ser. Além disso, ainda era muito cedo; o relógio não marcava nem seis horas da manhã.

   Já na porta, nem pensei em verificar o olho mágico primeiro, apenas a abri. O sono ainda me dominava e eu não pensei direito. Acabei me deparando com uma garota, acho que da minha idade. Ela tinha duas tranças de madeixas escuras caindo sobre os ombros, sua pele brilhava como bronze e seus olhos pretos eram preenchidos com grandes óculos redondos de armação vermelha. Ela mantinha o punho levantado, prestes a bater na porta novamente, mas eu abri antes que isso fosse possível.

— Bom dia! Sou Manon Moore, estudo no Harborview High School, o mesmo colégio que vocês. Sejam bem-vindos à Harborview! — Ela estendeu uma cesta cheia de comida, imagino. Eu mal havia percebido a cesta em suas mãos.

   Bom, faz anos que Harborview não recebe novos moradores, então acho que todos os vizinhos já devem saber sobre nós. E, obviamente, só havia um colégio na cidade, então é claro que ela saberia onde estaríamos. Peguei a cesta em mãos educadamente. Não sei se ela reparou que eu acabara de acordar e ainda estava de pijama. Na verdade, acho que ela percebeu, só não comentou, graças aos céus.

— Obrigada — agradeci, oferecendo o melhor sorriso que conseguia, mesmo com uma cara de zumbi e possivelmente com olheiras.

— Imagina... — ela disse, pondo as mãos timidamente para trás, balançando o corpo como uma criança.

   Essa era a hora em que eu fecharia a porta, porém, ela não saiu. Manon ficou olhando para trás de mim, como se quisesse saber quem mais estaria aqui. Fechei um pouco a porta atrás de mim, esperando ela ir embora, já que imaginei que ela não tivesse mais nada para fazer aqui.

— Minha mãe virá aqui mais tarde para conhecer a sua. Todo mundo já sabe que vocês vieram para cá. Estou muito empolgada para te apresentar aos meus amigos! Você vai amar!

   Ela deu uns pulos de felicidade. Fiquei muito sem graça por não conseguir esboçar um sorriso decente. Na mesma hora, ela tirou o celular da bolsa e começou a digitar rapidamente. Antes que eu conseguisse perguntar, ela respondeu.

— Cooper, meu namorado, está vindo. Ele vai nos encontrar aqui e, sério, eu estou muito empolgada. Vocês se darão muito bem...

— Espera, ele está vindo agora? — Manon assentiu, sem olhar para mim e, ainda bem, porque fiquei mais indignada do que surpresa. — Olha... você não pode falar para ele vir daqui a pouco?

— Ele já está vindo. Relaxa, esperaremos você.

   Manon se virou de costas e sentou nas escadarias da minha nova casa. Fechei a porta tão rápido que fez um alto som. Quando me deparei com o que fiz, ouvi um bocejo vindo das minhas costas. Era minha mãe, que também acabara de acordar.

   Soltei um suspiro e coloquei a cesta em cima da mesa. Minha mãe automaticamente olhou e veio em minha direção, com os olhos brilhando para a cesta.