Capítulo 6

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Quando o táxi parou, Veruca saltou dele sem esperar pelo troco. Como seu pai havia terminado o jantar, ela não sabia. Qual desculpa tinha dado por sua ausência, ela não se importava. Não. Seus planos estavam sendo traçados e reforçados constantemente desde o momento em que se viu trancafiada no enorme quarto que tinha na casa dos pais. Foi prisioneira naquela noite, sentenciada por crimes que não havia cometido. Na manhã seguinte a mãe entrou no quarto e disse que Veruca ficaria na escola até o fim do semestre, depois disto, voltaria para a casa e seguiram com os planos do senhor Salt.

Na cabeça, enquanto entrava na escola, Veruca tinha outras ideias. As chances de darem certo eram pequenas, quase minúsculas, mas existentes. Ela entrou no dormitório vazio, soltou o puxador da mala e apreciou as cortinas. Se tinha alguém que poderia lhe ajudar neste momento, era Emma. Apenas Emma.

Mas seria arriscado. Um pouco arriscado, pois Veruca só se tornaria dona de si no final do semestre, para ser mais exata, um dia depois de chegar a casa dos pais. Até lá, ela estava presa às ordens de um pai que mudou completamente desde que visitou a fábrica do senhor Wonka, desde que foi humilhado pelo senhor Wonka.

Com um suspiro pesado, Veruca abriu as cortinas, destravou as janelas e empurrou os vidros para longe. O vento noturno chegou molhado até seu rosto, mas não incomodou. O salão de festas ficava longe do dormitório, o som dele não chegava até lá, mas ela podia imaginar as pessoas se divertindo, dançando, gastando toda energia que ela já não tinha mais. Sem pensar muito, ela seguiu até o jardim, pois caminhar iria lhe fazer bem, gastar um pouco da energia que acumulou ao longo da viagem.

Veruca deixou sua mente relaxar um pouco, pensar um pouco menos e apreciar o brilho opaco da lua que minguava lentamente. Em alguns dias, ela não estaria mais visível. Devia ser bom poder ficar invisível como a lua. Sumir por um tempo, aparecer depois. Ser influente, respeitada. Ser vista por uns e esquecida por muitos outros. Mas, acima de tudo, se ela fosse como a lua, ela não poderia ser ferida por ser humano algum.

Ela lembrou de uma noite, quando era criança, antes de ir para a fábrica Wonka, do pai dela a guiando em uma valsa. Ele era rápido, ágil e ela o seguia com concentração, prevendo os passos dele, o movimento seguinte que a professora de dança havia lhe ensinado. Rodopiou do jeito correto, os cachos largos de seu penteado planando sem pressa, sem receio.

A música soava abafada lá fora, mas forte e imponente na sala da mansão. Era um baile cuja temática inspirava-se na era vitoriana, das roupas às músicas, das comidas às decorações. Veruca escapuliu para o jardim, mas seu pai a seguiu, fingindo estar preocupado com a segurança da filha, mas aproveitando para escapar da festa, aproveitando para tomar um ar fresco.

A menina sentou-se em um banco do jardim e olhou para a lua. Ela estava minguante, logo sumiria do céu.

- Minha Veruca está fugindo da festa?

- Papai! - ela animou-se, - o senhor também está fugindo?

- Não, minha pequena, - ele se acomodou ao lado da herdeira, mentia, mas não diria isto a ninguém, - vi sua fuga e vim ver o qual o motivo da senhorita pegar sua luzinha radiante e escapulir da festa, deixando tudo apagadinho e sem graça lá dentro.

Veruca abriu os olhos e as lembranças sumiram. Quando criança, quando pequena, ela era hiper mimada pelo pai. A fábrica Wonka lhe roubou isto, tomou dela este glamour, o deleite de ser cegamente amada.

A senhorita Salt fez uma mesura à noite, como se fosse a pequena Veruca respondendo o convite do pai à uma valsa.

A lua estava intocável no céu. Ela se posicionou com o véu do nada, o sublime ser tão frio quanto quente, aquela criatura que fere sem fazer um absoluto movimento. Começou um passo à direita, rodopiou e se encaixou ao relento.

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⏰ Última atualização: Dec 10, 2023 ⏰

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A senhorita SaltOnde histórias criam vida. Descubra agora